segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Reserva para o ladrão


RICARDO MELO

SÃO PAULO - Na manhã de sexta-feira passada, um bando roubou a residência de um secretário estadual de SP. Quem já foi assaltado em casa (como eu próprio e outros tantos milhões de brasileiros) sabe o tamanho da angústia de ficar sob a mira de revólveres enquanto criminosos fazem ameaças, invadem sua privacidade e vasculham seus pertences. Felizmente a autoridade em questão e sua família saíram ilesas.


O episódio ganhou notoriedade não só pelo fato de ter alcançado um secretário de governo em região nobre da capital. Ao descrever a perda com o incidente, a vítima listou relógios, joias e dinheiro vivo, "aquela reserva que a gente já guarda em casa para o ladrão". O relato vale quase como uma aula de (in)segurança pública para os dias atuais.


Notícias indicam que crimes como sequestros, arrastões e assaltos de residências estão em alta no Estado. Chama a atenção o fato de as ações se mostrarem cada vez mais planejadas, cometidas por bandos e não por criminosos isolados. Boletins de ocorrência informam que ladrões conheciam detalhes da rotina das famílias e do funcionamento de prédios e residências. Tudo parece dar razão aos que creditam a escalada da violência contra o patrimônio ao aumento da influência de facções organizadas.


As mesmas estatísticas que apontam algum recuo em homicídios destacam, no entanto, a disparada de latrocínios (roubo seguido de morte): no primeiro semestre do ano, eles avançaram 79,3% na capital na comparação com 2008. Na opinião de um sociólogo entrevistado pela Folha, "o latrocínio é um roubo malsucedido". Traduzindo para a linguagem dos Jardins, algo como uma ocorrência em que não havia a "reserva para o ladrão".


O que mais preocupa é perceber a reação dos responsáveis pelo combate à criminalidade no Estado. E aí se ouve o próprio secretário da Segurança Pública de SP reclamar da "absoluta inépcia e letargia da Polícia Civil". Para o bom contribuinte, meia palavra basta.Folha de S. Paulo.

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