Mário Magalhães
Não compartilho a convicção de quem identifica pobreza existencial nas nações que buscam ou cultivam heróis.
Meu problema é com os heróis de fancaria, celebrados a cada estação e esquecidos na temporada seguinte.
Esquecidos porque constituíam engodo ou careciam de mérito para serem heróis autênticos.
O Brasil, os brasileiros somos pródigos em eleger heróis breves.
Corremos atrás deles como um headhunter à procura urgente do executivo mais qualificado.
Mal aparece em cena, agarramos o candidato a herói ou heroína pelo cangote e o aclamamos.
No mesmo prédio da PF, em Curitiba, onde trambiqueiros da política e dos negócios estão presos.
Ishii ganhou fama como “Japonês da Federal'' ao escoltar detidos na Operação Lava Jato.
Ele já havia tido rolos com a Justiça em 2003, suspeito de facilitar contrabando.
Suas alegadas falcatruas apareciam somente no pé das reportagens, como as letrinhas pequenas das advertências de bula de remédio.
Poucos viram, é claro. O herói Ishii virou máscara e marchinha de Carnaval.
Ele lembra o marinheiro do livro “Relato de um náugrafo''. Em meados da década de 1950, o protagonista sobrevivera a um naufrágio e fora consagrado herói na Colômbia.
Ao entrevistá-lo, o repórter Gabriel García Márquez descobriu que a embarcação afundara porque o marinheiro e seus companheiros a haviam sobrecarregado com mercadorias contrabandeadas. Um falso herói. Um herói que retratou uma época.
Como o “Japonês da Federal'' retrata fracassos e frustrações do Brasil de hoje.
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