Cristian Klein
Jornal do Brasil - 24/05/2010
A mais recente pesquisa do Datafolha, divulgada no sábado, comprovou o que já havia sido detectado pelo instituto Sensus há uma semana: o crescimento da pré-candidata do governo à Presidência, Dilma Rousseff (PT). Depois de um refluxo, a petista voltou a avançar e agora está empatada com o ex-governador paulista José Serra (PSDB). Ambos têm 37%. A pesquisa, porém, traz vários elementos que devem estar levando os tucanos a arrancarem a plumagem: apesar do cenário de equilíbrio, os números apontam um quadro bem mais favorável à ex-ministra da Casa Civil.
Nas respostas espontâneas, em que os entrevistados dizem sua opção sem a ajuda da lista com os nomes dos candidatos, Dilma já abre uma vantagem considerável: 19% a 14%. É um feito e tanto, visto que não é a petista que conta com um recall do eleitorado, e sim José Serra, que já disputou uma eleição presidencial, em 2002. A façanha se dá graças à intensa aparição na mídia, em entrevistas e participação em programas populares, e à associação de sua imagem à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O poder de transferência de votos de Lula, antes posto em dúvida, vai se confirmando.
É essa mesma capacidade que faz os números da pergunta espontânea ainda mais favoráveis a Dilma. Há 5% que citaram o presidente, que não pode concorrer a novo mandato, outros 3% que afirmam que votarão no candidato do Lula e mais 1% que diz preferir o candidato do PT. Isto significa que mais 9% das preferências estão na órbita da candidatura, prontos para se converterem em opção por Dilma Rousseff, que totalizaria assim 28%, o dobro do percentual apresentado por José Serra.
As respostas espontâneas costumam ser um bom indicador da consolidação da preferência. Dilma e Serra estão empatados na pesquisa estimulada, em 37%. Mas o que os dados sugerem é que há mais convictos entre aqueles que afirmam votar na candidata do governo. Outros números que vão na mesma direção dizem respeito à rejeição dos eleitores aos concorrentes. Dilma e Serra apareciam com a mesma taxa, ambos com 24%. Mas, agora, enquanto a proporção dos que afirmam que não votariam na petista de jeito nenhum caiu para 20%, a rejeição ao tucano subiu para 27%.
A pesquisa do Datafolha, contudo, retrata oscilações que refletem as preferências dos eleitores poucos dias depois da propaganda partidária do Partido dos Trabalhadores, em rádio e TV, veiculada em 13 de maio. O programa, burlando a legislação eleitoral, foi uma clara peça publicitária da campanha presidencial governista. Quase todo o tempo foi dedicado a incensar a imagem de Dilma como sucessora das conquistas da era Lula, que chegou a compará-la ao ex-presidente e líder do movimento contra o apartheid na África do Sul, Nelson Mandela. Como se faz somente na estreia do horário eleitoral gratuito, o programa apresentou uma incisiva biografia da (pré-)candidata. Falou-se mais de Dilma do que do PT.
A burla, a despeito de eventuais punições do TSE, foi realizada de modo competente. O programa não escondeu, pelo contrário, fez questão de lembrar um dos pontos mais polêmicos da trajetória de Dilma: sua participação na luta armada contra a ditadura, taxada de terrorismo por membros mais radicais da oposição. É o que se chama de vacina, em jargão do marketing político. Antes que a pecha impingida pelos adversários se propague pelo eleitorado, Dilma assumiu o que fez num momento de polarização da história política do Brasil e afirmou seu compromisso com os valores democráticos, ao dizer que mudou junto com o país.
Difícil mensurar o quanto o programa de 13 de maio contribuiu para o crescimento de Dilma na última pesquisa do Datafolha. Até porque a subida observada pelo Sensus, em que a petista apareceu na frente de Serra pela primeira vez, havia sido detectada com entrevistas feitas antes da apresentação da propaganda do partido. Mas, com certeza, teve um papel importante na construção da imagem da pré-candidata em grande parcela do eleitorado.
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