segunda-feira, 25 de julho de 2011

Lobista tucano.Alckmin diz que cunhado não é parente

Grampo mostra que empresário pediu ajuda do cunhado de Alckmin em licitação



Fausto Macedo - O Estado de S.Paulo
Escuta telefônica pegou um empresário da indústria química pedindo ao ex-secretário de Finanças do município de Pindamonhangaba Silvio Serrano que marcasse encontro com o cunhado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), Paulo César Ribeiro, o Paulão, para interceder em licitação do Metrô. O empresário fala em "comissão boa".

Alvo do Ministério Público, que o investiga por suposto tráfico de influência, corrupção e comando de cartel da merenda escolar, Paulão é irmão de Lu Alckmin, mulher do governador.
O diálogo interceptado com autorização judicial se deu em 22 de novembro de 2010, às 8h40. O empresário James de Lima Franco, que reside em São José dos Campos e é sócio de uma transportadora, ligou para Serrano, deposto algumas semanas antes do cargo de chefe do Tesouro da Prefeitura de Pindamonhangaba em meio a uma sucessão de denúncias sobre malversação de recursos públicos.
"Tava ligando pra você porque eu precisava ir conversar pessoalmente, de procurar uma pessoa terceira lá de São Paulo prá pôr no Metrô, pôr esses negócios. Eu tava querendo conversar com o Paulo (sic)", diz James Franco. "Sei, sei", responde o ex-secretário Serrano.
Franco e o ex-secretário são amigos. Os dois foram apresentados a Paulão há cerca de 15 anos pelo irmão de um advogado que vendia placas com nome de rua em Pindamonhangaba.
O Metrô informou que o negócio com o empresário nunca foi concretizado.
Para a promotoria, o grampo é um indicativo claro de que o raio de ação e de influência de Paulão como lobista pode ir além do campo da merenda. Além de infiltrar-se no âmbito das administrações municipais, ele teria estendido os préstimos a empresas do Estado.
 
Não há registro de que tenha usado o nome de Alckmin nas tratativas de seu interesse, mas o Ministério Público suspeita que ele se valia da proximidade familiar com o chefe do Executivo para abrir portas. Publicamente, Alckmin sempre defendeu a investigação. Dia 27 de dezembro, quando foram feitas buscas na residência e no escritório de Paulão, ele recebeu telefonema do Palácio dos Bandeirantes.
 
Na conversa com Serrano, o empresário James de Franco diz que "agora acertou na vida". "Só preciso é de uns roleiros porque nós estamos com um material bom", disse o empresário, referindo-se ao antiderrapante que diz produzir e que pretende vender para o Metrô usar nas estações. "Pra velhinho não escorregar no banheiro, não cair, garantia de cinco anos, tudo já aprovado, não tem nada de falcatrua."
O ex-secretário responde com gentilezas: "Legal, meu querido. Você me liga amanhã".

"Então vamos trocar uma ideia e dar uma força, você tem um conhecimento aí pra gente", insiste o empresário. "A gente dá uma comissão boa, dá uma parceria, sei lá. Parceria não dá porque lá já é tudo sociedade. É um negócio bom pra pessoa. Eu fui procurado, só que tem uma fila de caranguejo, eu tô caindo fora de fila de caranguejo. Prefiro ficar duro, um vintém no bolso do que ficar sonhando muito (sic)."
"Você está sabendo que eu saí da prefeitura, né? Na ocasião eu parei de atender telefonema, mas acho que já tá quase solucionado", informa Serrano.
Ao Ministério Público, Franco declarou que "por ser Silvio Serrano seu amigo de muitos anos, ligou para ele e perguntou de Paulo Ribeiro por curiosidade, buscando informações sobre como se procede a uma concorrência pública". Ele afirmou que "realmente comentou com Silvio a respeito de uma possível comissão para Paulo Ribeiro de serviços que conseguisse contratar através dele, já que Paulo conhece bastante gente de indústrias e já trabalhou com estacionamento rotativo em Taubaté". Negou que "a referência à comissão tenha tido qualquer relação com o Metrô de São Paulo".
TRECHOS DO DIÁLOGO
James de Lima Franco conversa com Silvio Serrano, no dia 22 de novembro de 2010.
Serrano: E aí meu querido, o que você anda fazendo?
Franco: Ah., eu tô naquela minha indústria lá, né? Correndo.
Serrano: Tá dando certo Franco: Agora eu acertei na vida, só preciso é de uns roleiros, porque nós estamos com um material bom (...) Tava ligando pra você porque eu precisava ir conversar pessoalmente de eu procurar uma pessoa terceira lá de São Paulo pra pôr no Metrô, pôr esses negócios. (...) Tô tão traquejado dessas maldades, de nego querer passar o pé. que tirei o pé do acelerador. Eu tava querendo conversar com o Paulo.
Serrano: Sei, sei...
Franco: A gente dá uma comissão boa, dá uma parceria, sei lá. (...) É um negócio bom pra pessoa. Eu fui procurado, só que tem uma fila do caranguejo, eu tô caindo fora de fila de caranguejo. Prefiro ficar duro, do que ficar sonhando muito e porra nenhuma.
Serrano: Sei, é isso aí mesmo. Você tá sabendo que eu saí da prefeitura, né?
Franco: Tô sabendo. Isso aí é coisa que a gente tem que conversar pessoalmente.
Serrano: Na ocasião eu parei de atender telefonema, mas acho que já tá quase solucionado.
Franco: Você sabe que aqui você tem um amigo, né? E hoje em dia é a coisa mais difícil do mundo. Pode guardar isso, viu?
Serrano: É, a gente sabe disso.
Franco: Gosto muito de você (...) gosto muito dentro do coração (...) Você tem um potencial bom, tem uma bagagem boa e pode fazer umas interligações pra nós.
PARA ENTENDER
Paulo César Ribeiro tinha prestígio e poder na gestão João Ribeiro (PPS), prefeito de Pindamonhangaba em 2º mandato. Seus negócios começaram a ser rastreados depois que foi denunciado por João Bosco Nogueira, ex-vice de Ribeiro e também prefeito por duas vezes. "O Paulão tinha acesso livre na administração, a base dele era na secretaria de Finanças, comandada pelo Silvio Serrano", relata Bosco.
"Eu me indispus com essa liberdade, esse trânsito dele. Desde o começo, na realidade, quem mandava na prefeitura era ele. O Serrano tinha assumido inclusive a licitação. Antes da posse do 1º mandato, no início de 2005, o esquema da quadrilha já tinha sido montado. Quem trouxe o Serrano para a prefeitura foi o Paulo."
Bosco afirma que advertiu diversas vezes o prefeito. "Mas ele falava que devia pro Paulão, que o Paulão tinha financiado as campanhas."
 

Um comentário:

Zé disse...

Esse sujeito dá nojo em lesma.