LULA MIRANDA
Valério, nosso arlequim que agora parece pretender entrar novamente em cena, não pode ser considerado, por óbvio, o testemunho mais confiável e veraz dessa história
Muitos dos leitores certamente já conhecem a fabulosa história de Arlequim, servidor de dois amos. Trata-se de um clássico da Commedia dell’arte de autoria do italiano Carlo Goldoni [contexto histórico: séc. XVIII]. Nela o autor retrata um personagem “finório”, um “protagonista mequetrefe”, um criado um tanto “ardiloso” e “atrapalhado” em seu difícil ofício de servir ao mesmo tempo a dois patrões distintos, no afã de faturar um pouco mais e assim saciar sua ânsia e desejo por fortuna. Não lhes soa familiar essa história?
Se lhe veio à cabeça o nome do publicitário mineiro, Marcos Valério, atualmente réu condenado na Ação Penal 470 em julgamento no STF, e supostamente tão “finório” e “ardiloso”, mas talvez nem tão “mequetrefe” quanto o nosso personagem em epígrafe, caro leitor, você pode ter escolhido de modo correto o “arlequim” da vez dessa nossa eterna comédia – de maus costumes e pouca arte.
Esse “personagem”, como se sabe, também teria servido a dois patrões: ao PSDB, no chamado “mensalão mineiro” ou “mensalão tucano”, e também ao PT, no chamado “mensalão petista” – esse último, monopolista da pauta de uma imprensa “oligopolizada” e “seletiva”, digamos assim. O crime é o mesmo, os “costumes” são os mesmos, só mudam os atores, o patrão a que serve o servo e os interesses dos que defendem ou acusam determinado patrão. Não perca o fio dessa intrincada teia. Assim é essa “comédia”, densa em seus meandros, mas que já não tem, diga-se, a menor graça. Pois, repito, é assim desde sempre. Mas nem sempre foi considerado crime, e seus atores condenados. Parece ser, mais uma vez, a confirmação do velho “dogma” dos “3 pês”: de que, no Brasil, apenas preto, pobre e puta são presos. Agora, pelo que se percebe, parece terem acrescentado mais um “pê” na lista: o “pê” de petista.
Os “costumes”, hipocrisia à parte, são os mesmo de sempre da política brasileira e dos altos salões. Como se sabe: o de financiar os partidos da base que dão sustentação ao governo através da cessão de cargos e/ou aporte de recursos não contabilizados (caixa dois) às campanhas dos aliados. E a coisa funciona assim, hipocrisia à parte, repito, até hoje, nesse exato instante em que escrevo esse artigo. Ainda acontece dessa mesmíssima maneira, com todos os partidos [exceto, talvez, o PSOL e o PSTU] e em todas as esferas de poder: municipal, estadual e federal. Dizer o contrário disso é mera falácia ou hipocrisia.
Mas o fato da prática criminosa ter precedentes, ser contumaz, reiterada, ou mesmo de ser “regra” bastarda do jogo político, não absolve a culpa do arlequim e de seus dois patrões – em absoluto. É certo. Mas é certo também que inculpa, sobremaneira, além dos réus, culpados óbvios, os supremos ministros, demais autoridades (notadamente os legisladores) e jornalistas que insistem em representar essa eterna e abjeta farsa e “comédia”, em vez de mudar o sistema político brasileiro. De fato, para valer, e assim aperfeiçoar, melhorar a nossa incipiente democracia. Até parece que pretendem sabotar a democracia – mas essa tese da “sabotagem”, aqui aludida, será tema de outro artigo.
O nosso arlequim falastrão, melífluo, finório, que agora parece pretender entrar novamente em cena, com pompa e circunstância, e nos revelar suas últimas “verdades” de ocasião, não pode ser considerado, por óbvio, o testemunho mais confiável e veraz dessa história – afinal, a sagacidade e esperteza são próprias de sua natureza ladina.
Como dizem alguns pedagogos, a melhor maneira de ensinar as crianças e os mais inocentes é por intermédio de fábulas e parábolas. Quem sabe dessa forma escritores, jornalistas e educadores, consigamos explicar esse triste episódio, e essa complexa verdade, para a sociedade de hoje e do futuro, um pouco além das gritantes aparências “definitivas”, do falso moralismo e das manchetes de ocasião. Para além das mentiras, mistificações e hipocrisia.
Oxalá tenhamos, enfim, algum êxito! E que essa “fábula” nada “fabulosa” sirva para nos ensinar alguma coisa. Que assim seja.
Se lhe veio à cabeça o nome do publicitário mineiro, Marcos Valério, atualmente réu condenado na Ação Penal 470 em julgamento no STF, e supostamente tão “finório” e “ardiloso”, mas talvez nem tão “mequetrefe” quanto o nosso personagem em epígrafe, caro leitor, você pode ter escolhido de modo correto o “arlequim” da vez dessa nossa eterna comédia – de maus costumes e pouca arte.
Esse “personagem”, como se sabe, também teria servido a dois patrões: ao PSDB, no chamado “mensalão mineiro” ou “mensalão tucano”, e também ao PT, no chamado “mensalão petista” – esse último, monopolista da pauta de uma imprensa “oligopolizada” e “seletiva”, digamos assim. O crime é o mesmo, os “costumes” são os mesmos, só mudam os atores, o patrão a que serve o servo e os interesses dos que defendem ou acusam determinado patrão. Não perca o fio dessa intrincada teia. Assim é essa “comédia”, densa em seus meandros, mas que já não tem, diga-se, a menor graça. Pois, repito, é assim desde sempre. Mas nem sempre foi considerado crime, e seus atores condenados. Parece ser, mais uma vez, a confirmação do velho “dogma” dos “3 pês”: de que, no Brasil, apenas preto, pobre e puta são presos. Agora, pelo que se percebe, parece terem acrescentado mais um “pê” na lista: o “pê” de petista.
Os “costumes”, hipocrisia à parte, são os mesmo de sempre da política brasileira e dos altos salões. Como se sabe: o de financiar os partidos da base que dão sustentação ao governo através da cessão de cargos e/ou aporte de recursos não contabilizados (caixa dois) às campanhas dos aliados. E a coisa funciona assim, hipocrisia à parte, repito, até hoje, nesse exato instante em que escrevo esse artigo. Ainda acontece dessa mesmíssima maneira, com todos os partidos [exceto, talvez, o PSOL e o PSTU] e em todas as esferas de poder: municipal, estadual e federal. Dizer o contrário disso é mera falácia ou hipocrisia.
Mas o fato da prática criminosa ter precedentes, ser contumaz, reiterada, ou mesmo de ser “regra” bastarda do jogo político, não absolve a culpa do arlequim e de seus dois patrões – em absoluto. É certo. Mas é certo também que inculpa, sobremaneira, além dos réus, culpados óbvios, os supremos ministros, demais autoridades (notadamente os legisladores) e jornalistas que insistem em representar essa eterna e abjeta farsa e “comédia”, em vez de mudar o sistema político brasileiro. De fato, para valer, e assim aperfeiçoar, melhorar a nossa incipiente democracia. Até parece que pretendem sabotar a democracia – mas essa tese da “sabotagem”, aqui aludida, será tema de outro artigo.
O nosso arlequim falastrão, melífluo, finório, que agora parece pretender entrar novamente em cena, com pompa e circunstância, e nos revelar suas últimas “verdades” de ocasião, não pode ser considerado, por óbvio, o testemunho mais confiável e veraz dessa história – afinal, a sagacidade e esperteza são próprias de sua natureza ladina.
Como dizem alguns pedagogos, a melhor maneira de ensinar as crianças e os mais inocentes é por intermédio de fábulas e parábolas. Quem sabe dessa forma escritores, jornalistas e educadores, consigamos explicar esse triste episódio, e essa complexa verdade, para a sociedade de hoje e do futuro, um pouco além das gritantes aparências “definitivas”, do falso moralismo e das manchetes de ocasião. Para além das mentiras, mistificações e hipocrisia.
Oxalá tenhamos, enfim, algum êxito! E que essa “fábula” nada “fabulosa” sirva para nos ensinar alguma coisa. Que assim seja.
(artigo originalmente publicado na Carta Maior)
Lula Miranda é poeta e cronista. Foi um dos nomes da poesia marginal na Bahia na década de 1980. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa, Fazendo Média e blogs de esquerda.
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