Você tem um retrato minucioso do que vai pela mente de Guilherme Junqueira Motta em sua página no Facebook.
Motta foi há pouco identificado como o antipetista que chamou Chico Buarque de “um merda” na saída de um restaurante.
Você vê, antes de tudo, que ele acusou o golpe de Chico.
Imediatamente depois do episódio, Chico postou no Facebook a seguinte
música: “Vai trabalhar, Vagabundo.”
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Motta compartilhou uma postagem de um reacionário em que a exortação ao trabalho era dirigida a Chico.
Motta não gostou de ser chamado de vagabundo, e provavelmente menos
ainda da convocação para deixar a vida mansa que parece levar.
Chico mostrou ser bom observador quando perguntou a Motta se ele lia a
Veja. Sim, ele lê. No seu Facebook, há uma imagem cheia de capas da
revista.
É lá que ele se abastece de pseudoinformações que toma como verdade e
com base nas quais é um caso clássico de analfabeto político.
Outras fontes que ele consulta não fogem ao padrão Veja. Motta compartilha coisas de Malafaia e de Caiado.
Com tudo isso, é um perfeito idiota em construção, moldado pelo que existe de mais estúpido na direita brasileira.
Sua família é de usineiros, mas ele parece desconhecer a origem da
sua usina de açúcar, chamada Guaíra, por se localizar na cidade paulista
do mesmo nome, a 150 quilômetros de São Paulo.
Era uma fazenda, e nos anos 1980 foi transformada em usina, por conta
do esforço nacional em colocar de pé um programa que reduzisse a
dependência do Brasil do petróleo, o Proálcool.
A transformação demandou dinheiro. Oitenta por cento dos recursos necessários vieram de financiamento público. Do contribuinte, portanto. A família entrou apenas com um quinto do investimento total.
Esta é uma história que simboliza o capitalismo brasileiro: dinheiro público para bancar investimentos privados.
Isso não impediu Motta de acusar em seu Facebook Chico de se beneficiar de vantagens oriundas de dinheiro público.
Ou seja: o que a sua família comprovadamente fez, como mostra o
próprio site da usina, ele afirma que Chico fez – sem prova nenhuma.
Motta passa adiante, bovinamente, coisas que ultra-reacionários fazem
circular na internet.
As fotos do Facebook são também reveladoras. Motta jamais aparece
trabalhando. Está frequentemente em lugares paradisíacos, sem camisa,
bronzeando o corpo gorducho.
Num mundo menos imperfeito, Motta agradeceria a Chico por tantas coisas soberbas que ele fez, caso o encontrasse na rua.
Pediria um autógrafo, tiraria uma selfie, e depois postaria,
orgulhoso, em seu Facebook. Não é toda hora que você depara com um
patrimônio nacional, um colosso de dimensões mundiais.
É uma situação sobre a qual você, depois, reflete e pensa, numa quase autocongratulação: “Foi meu dia de sorte.”
Mas não.
O Brasil de 2015 para 2016 está extraordinariamente longe de ser perfeito. Em vez de mostrar gratidão por Chico, Motta o xingou.
Quis rebaixar Chico, mas foi ele próprio que se atirou na sarjeta.
Motta entrou escandalosamente na lista dos personagens mais infames do
ano que se encerra.
Chico será para sempre lembrado. E Motta vai ser apenas uma
referência sinistra de uma época em que analfabetos políticos se acharam
no direito de hostilizar pessoas com ideias diferentes.
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