Fatima Oliveira *
Pra quem gosta de se embriagar em emoções fortíssimas em eleições, o meu caso, as eleições presidenciais 2010 parecem que serão um fiasco, dada a pasmaceira que se desenha em tela. Se as candidaturas insistirem em desfilar na avenida da continuidade da Era Lula, cadê as emoções? Apenas sacralizarão o nome de Lula para séculos sem fim, Amém! E é o que vai rolar.
O povo, que nada tem de bobo, se perguntará: “Ora, se Lula foi tão bom assim que seu espólio é venerado pelas três candidaturas, agora é Dilma! A gente não é besta, pois ela ajudou a levantar tijolo por tijolo desse espólio”. É natural que assim seja. O que interessa é o resultado global dos anos Lula, que é positivo. E o povo saca isso na maior. Não interessa que gente como eu diga que esperava muito mais.
Sequer há espaços para que a candidatura do governo assuma compromissos de avanços democráticos, pois o empenho eleitoral é dizer aos quatro cantos do Brasil que não ocorrerão retrocessos. E aí é que se concentram os motivos para sufragar Dilma Rousseff, pois tendo sido integrante do núcleo de poder do atual governo só ela tem legitimidade de sobra para dar as garantias de continuidade da Era Lula.
Serra é do PSDB, que não goza da confiança do povo e não desatola da crise existencial desde sua nascença. Ao estilo “Eu sou mais eu”, não se escusou da arrogância ao dizer: “Eu me preparei a vida inteira para ser presidente”. E como não pode se apresentar como candidato de alguma mudança, foi comedido: “Venho hoje, aqui, falar do meu amor pelo Brasil; falar da minha vida; falar da minha experiência; falar da minha fé; falar das minhas esperanças no Brasil”.
Tudo embalado nos paetês do que se fala que é seu mote de campanha: “O Brasil pode mais”. Cadê a novidade? De mamando a caducando todo mundo sabe que é um típico caso de perdido e atolado. E São Paulo não podia mais? E por que não houve o “mais” por lá? Pura esperneação para fugir do óbvio e ululante, pois o que Serra encarna mesmo são os tempos FHC, do qual o povo quer é distância.
Marina perdeu a confiança de quem admira e defende o Governo Lula, que é onde se concentrava o seu fiel eleitorado. Sem falar que o Partido Verde nunca foi por aqui tão verdoso. Se fosse, no atual estágio da compreensão que a sociedade e a intelectualidade brasileiras têm das questões ambientais, que ainda é baixa, mas cresceu exponencialmente, de certeza o PV seria um dos grandes partidos políticos do nosso país, porém estagnou.
E há motivos para tanto. Um deles é a fragilidade ideológica do PV que não lhe permite construir argumentos com apelo de aglutinação popular capazes de dar suporte a uma candidata que as qualidades de Marina Silva exigem. Nem tem costados para bancar os deméritos dela de vieses religiosos fundamentalistas.
Recentemente li uma matéria que discorria sobre a marca de antipatia dos dois presidenciáveis mais cotados: Dilma e Serra. Dizia que o estilo “hard” de ambos não poderia dar a leveza necessária a uma campanha arrebatadora de corações e mentes. E que Marina Silva e seu estilo à la Madre Tereza de Calcutá, embora evangélica, também não vestiria uma campanha fashion. Como não é um concurso de simpatia, é um conforto que as três candidaturas, pela história de vida delas, não podem receber a pecha de anti-povo, evidenciando que o Brasil chegou a um estágio mais elevado do verdadeiro valor da democracia também na política: não há a figura do “menos pior”. E aí, vai votar em quem?
* Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.
Vermelho.
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