segunda-feira, 10 de maio de 2010

Europa e FMI não aprenderam lições


Por José Dirceu - de São Paulo

Às voltas com gigantesca crise, a Grécia e, em menor escala, outros países da União Européia (UE) enfrentam situação parecida à enfrentada muitas vezes pelo Brasil e pela América do Sul nas últimas décadas do século passado. Naquela época - especialmente em 2001 na Argentina e em anos anteriores no Brasil - a atuação do FMI foi muito criticada, mas o Fundo parece nada ter aprendido com as crises latino-americanas.

Aliás, nem o FMI e nem a UE - na verdade a Alemanha, maior potência econômica do continente e, assim, vista pelos parceiros como capaz de prestar os maiores socorros financeiros. Em pânico com relação à sua dívida interna, a Grécia (que quebrou, faliu mesmo) aceitou as condições para obter um empréstimo do FMI: recessão, corte de gastos públicos, de salários e nos programas e benefícios sociais.

Mas, a questão da Europa é mais grave que o descontrole das finanças públicas de países como a Grécia, ou Portugal, ou mesmo a Espanha, agravadas pela crise internacional (este um detalhe geralmente não avaliado ou levado em conta). O problema é que não pode existir uma união política européia - na prática, hoje já não existe - sem uma união econômica que avance.

Continente já não tem mais a unidade política

Acho perfeita a frase de um analista segundo o qual precisamos de mais Europa e não de menos. Mas, a tendência é menos Europa. O Euro está sob risco, precisa de políticas fiscais comuns e de uma coordenação política de fato que atue nas crises. Sem uma coordenação dessa natureza na UE, a Grécia, por exemplo, chegou a essa situação em que precisa de uma moratória e de uma renegociação de sua dívida; tomar emprestado US$ 110 bi; aumentar impostos; e cortar gastos e benefícios sociais e públicos.

Além desse roteiro não ser viável politicamente - vejam a greve e o estado de convulsão social a que chegou o país - isso tudo pode não levar a nada, a nenhuma solução definitiva porque as alternativas adotadas não apontam para os reais problemas que a UE enfrenta. Além do fato de que a ajuda e as outras medidas adotadas não têm respaldo jurídico e legal no Estatuto da Comunidade, elas não enfrentam o principal problema: os desequilíbrios existentes na Zona do Euro.

Esta é a principal questão e que exige, de novo, medidas e unidade política, o que a UE já não tem agora e terá menos ainda com as próximas eleições - como por exemplo a de hoje na Grã-Bretanha - nos países que constituem o bloco.

José Dirceu é advogado especializado em questões internacionais, ex-preso político e dirigente do Partido dos Trabalhadores.


Fonte:Correio do Brasil

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