sábado, 8 de maio de 2010

Lula, o senhor dos palanques


Lula, o senhor dos palanques Eufórico e inspirado, presidente aproveita batismo do primeiro navio do Estaleiro Atlântico Sul para fazer balanço do seu governo e reforçar candidatura de Dilma Rousseff


Em dia dos mais inspirados, o presidente Lula se superou ontem durante o evento que marcou o batismo do primeiro navio do Estaleiro Atlântico Sul, no Complexo Industrial e Portuário de Suape, em Ipojuca.

Cercado de condições favoráveis para gastar muito do carisma que tem como marca registrada, o presidente não poupou esforços. Discursando de improviso, magnetizou a plateia - composta em maior parte dos 3,7 mil funcionários do estaleiro - ao fazer um balanço bem humorado de um governo que, segundo ele, conseguiu recuperar a autoestima dos brasileiros.

Lula dispensou o protocolo, andou de um lado para outro, gesticulou, provocou risos, riu de si mesmo, chegou a pular e, no fim do discurso, caprichou na emoção: "O prazer que eu tenho... no dia em que eu deixar a Presidência, a lembrança que eu vou levar é a cara de vocês, é o prazer de ver homens brasileiros, do Nordeste brasileiro, levando para casa o alimento para a sua família com a sua capacidade e com o seu suor. Nada é mais gratificante para um presidente da República do que ver um trabalhador trabalhando e cuidando da sua família".

À vontade dentro de uma calça de tecido escuro e uma camisa de algodão branca de maga compridas e quatro bolsos, Lula parecia estar de jaleco estilizado. A explicação para tamanha satisfação estava ali, a pouco metros: o imenso navio João Cândido, símbolo da retomada da indústria naval brasileira. O momento era tão representativo que o presidente o incluiu no rol dos mais importantes fatos do seu governo. Citou por exemplo a conquista das Olimpíadas de 2016, o empréstimo (US$ 14 bilhões) feito pelo país ao Fundo Monetário Internacional e, principalmente, o tratamento respeitoso que as nações consideradas ricas passaram a dispensar ao Brasil.

O ânimo do presidente deve ter se intensificado pelo fato de estar ao lado da sua ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, escolhida por ele para disputar a sua sucessão, e do governador Eduardo Campos (PSB), aliado de primeira hora e candidato à reeleição. Isso sem falar na plateia repletade operários, pessoas comum com as quais poucos políticos no país conseguem, como ele, estebelecer tanta sintonia.

Era ou não era um cenário perfeito para Lula brilhar? E ele não deixou a oportunidade passar. Usou todo o repertório de cacoetes para falar da recuperação da confiança do país, mas sem esquecer, fazer um alerta em tom eleitoral "Eu acho que o que nós fizemos no Brasil não pode mudar. Se a gente deixar este país regredir, nós sabemos que para fazer é difícil, para derrubar é fácil".

Era impossível

Então eu lembro que, com muito cuidado, eu disse (em 2002, na campanha) o seguinte: eu vou fazer primeiro o necessário, depois eu vou fazer o possível, e quando terminar o mandato a gente já vai estar fazendo o impossível. E aconteceu exatamente isso.

Nova autoestima

Construir este navio era tido, por alguns especialistas do outro lado, como impossível. Eu conto esta história e vou contar até morrer, porque isso demarca, claramente, a visão que as pessoas têm e constroem do seu país. Neste país nós aprendemos que uma nação não é o tamanho do seu território; uma nação não é a quantidade de árvores; uma nação não é a quantidade de água. Uma nação é a qualidade do povo que habita aquele território, é a qualidade do povo, é a autoestima do povo. Não é apenas a quantidade. E no Brasil nós estamos aprendendo isso. Nós tínhamos desaprendido.

Orgulho lá fora

Era habitual um presidente da República do Brasil visitar qualquer país e não sair uma nota de pé de página sobre a visita do presidente brasileiro. Era normal, porque nós éramos entendidos como país pequeno, como país fraco, como país que não cumpria com as suas obrigações. Quem saiu para estudar lá fora sabe o que eu estou falando. Pois bem, eu duvido que algum empresário que está aqui, eu duvido que algum embaixador brasileiro já teve algum momento na sua vida em que ele sente tanto orgulho de ser brasileiro lá fora, como no momento que a gente está vivendo agora.

Com respeito

A minha relação é uma relação de respeito, e eu aprendi naquele tempo (quando sindicalista) que uma pessoa só respeita outra se ela própria se respeitar, ou seja, se eu não me respeitar, nenhum de vocês vai me respeitar. Eu tenho que me respeitar para poder exigir e merecer o respeito de vocês. No mundo animal, no mundo animal, a gente vê isso com facilidade. Se um cachorro rosnar para o outro e o outro meter o rabo no meio das pernas, o que rosnou vai no pescoço dele. Mas se o outro rosnar mais grosso, o outro vai afinar. É assim que eu aprendi a me respeitar.

Salto

Eunão quero fazer como a velha política, porque Pernambuco, quando o Arraes era governador, que brigou com um presidente, trataram Pernambuco a pão e água. E a minha relação não é com o governador, a minha relação é direta com o povo. Se tem povo e o governador é de qualquer partido político, não me interessa, não me interessa, eu quero é cuidar do estado. E por isso, por isso Pernambuco deu esse salto extraordinário, porque durante décadas Pernambuco foi tratado como se fosse adversário. Mesmo quando eles elegiam um deles, ainda assim não davam dinheiro.

Novo tratamento

Eu não ofendo ninguém, não quero ser ofendido por ninguém, trato todo mundo bem, quero ser tratado bem por todo mundo Tenho noção do que os Estados Unidos representam nas relações com o Brasil e com o mundo, tenho noção do que a China representa, mas tenho noção também de que o menor país do mundo representa a mesma coisa que eles e tenho noção do que o meu país e o meu povo representam para o mundo também.

Outro Nordeste

O Nordeste brasileiro só aparecia nas estatísticas como campeão de mortalidade infantil, campeão de analfabetismo, campeão não sei das quantas. E quando as pessoas queriam elogiar um nordestino, falavam assim: "O nordestino é bom. Ele constrói ponte em São Paulo, ele constrói prédio", como se nós prestássemos só para ser pedreiros!

Operárias

Eu vi a cara destas soldadoras falando aqui... No tempo em que eu era presidente do Sindicato, era impensável mulher trabalhar em solda! Era serviço para homem, era considerado insalubre, e mulher não podia nem passar... Eu, quando vejo a cara de vocês, orgulhosamente sendo soldadoras, porque não há diferença nenhuma entre a capacidade de trabalho de uma mulher e de um homem, não há nenhuma diferença. O que precisa é dar oportunidade, para ver o que as pessoas fazem.

Nada paga

Então, olhem, eu... não tem nada no mundo que pague a um presidente da República a cara de vocês, não tem nada que pague o gesto simbolizado pela cara de vocês, pelo depoimento. Porque a gente vai acabar com bandidoneste país é na hora em que a gente oferecer oportunidades para que as pessoas pobres da periferia tenham um emprego, um salário, para cuidar da sua família. Se a gente não oferecer isso, o crime organizado oferece. É uma disputa cotidiana que nós temos que fazer.

Continuidade

E eu vou dizer para vocês uma coisa: eu acho que o que nós fizemos no Brasil não pode mudar. Se a gente deixar este país regredir, nós sabemos que para fazer é difícil, para derrubar é fácil. Vocês viram o que aconteceu com a Grécia agora; vocês viram o que aconteceu com a economia americana. Eles perderam, em um ano, 7 milhões de postos de trabalho, e nós criamos 1 milhão. A Europa perdeu mais de 8 milhões de empregos no ano passado. Este ano, nós já criamos, em três meses, 605 mil postos de trabalho. E, se Deus quiser, vamos chegar a 2 milhões de empregos com carteira assinada este ano. DP Net.

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