sexta-feira, 15 de julho de 2011

Imprensa ou papel impresso?

Move-me neste texto, uma longa carta a CartaCapital, o comportamento da mídia brasileira, a do pensamento único. Depois de ter lido “Perfeito Herói”, o editorial de Mino Carta na CartaCapital de 29 de junho, como corolário surgiu à minha memória outro editorial, de Ferruccio De Bortoli no Corriere della Sera, que tratando da imprensa, entre outras considerações num certo ponto diz: “…mas os mídias não desenvolveriam até o fim a própria tarefa, caso não denunciassem tantas incúrias, as leis não aplicadas…”
Esses dois editoriais deveriam deixar bem claro, sem nenhuma contestação, a importância e as responsabilidades que assume uma imprensa independente no nosso mundo globalizado. Este axioma, por sua vez nos leva diretamente ao famoso artigo J’accuse, de Émile Zola. Poucas letras, apenas oito, mas que representam uma firme posição no caso que emocionou a opinião pública francesa do fim do século XIX, aquele do capitão Alfred Dreifus, judeu alsaciano, acusado de ter vendido segredos militares a uma potência inimiga, neste caso a Prússia.

Através de uma bem orquestrada campanha de imprensa, os setores mais reacionários da sociedade francesa, os monarquistas, clericais, e principalmente antissemitas, tinham transformado o caso em cavalo de batalha.

Com esse J’accuse, o autor, como também o diretor do jornal L’Aurore, que publicara o artigo, se apresentavam formalmente contra a opinião pública, sofrendo por isso as inevitáveis consequências. E justamente por essas razões é que aparece ainda mais digna de respeito a coragem contida no famoso e conhecido artigo de Zola, a tornar-se o exemplo mais fúlgido de um jornalismo devotado à verdade, à justiça, à responsabilidade democrática, mesmo se para tanto, for necessário pagar pessoalmente, sobretudo hoje, quando os meios de comunicações têm alcances devastadores. Coloca-se, assim, em sua verdadeira luz o aspecto bifronte da imprensa, que, como o Janus mitológico, apresenta duas faces distintas e contrastantes entre si. Se de um lado pode influenciar, e até a manobrar a seu bel-prazer a opinião pública quando serve aos poderosos do momento, de outro lado, quando professa ideais democráticos pode transformar-se na voz da consciência coletiva, no eficaz defensor da transparência da res pubblica.


O legítimo e verdadeiro jornalismo tem uma delicada e importante tarefa neste nosso mundo globalizado refém de interesses econômicos de dimensões continentais. Deve possuir uma sua própria alma, deve defender e difundir o seu próprio ideal, deve também, quando necessário, ser polêmica.


Hoje toda e qualquer atividade da cidadania é controlada e condicionada por interesses que não de todos. Somos obrigados a vestir uma camisa de força, que tanto pode nos exasperar quanto nos transformar em rebanho de ovelhas que o cajado do pastor, ajudado pelos cães ao seu serviço empurra e leva onde a sua conveniência manda. Esta situação é o primeiro motivo da necessidade de uma verdadeira imprensa, no sentido exato, para uma contribuição indispensável à compreensão e à ação do compreender, agir e pensar como homem livre.

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