Daniel Cassol
Fundador e primeiro diretor do jornal espanhol El País, o jornalista Juan Luís Cebrián está em Porto Alegre a convite do governador Tarso Genro. Neste domingo, durante um almoço com jornalistas, blogueiros e executivos da área da comunicação, Cebrián falou sobre como a internet promove mudanças no jornalismo e na política, um dos temas prioritários no rol de preocupações do governador gaúcho, que no mesmo domingo publicou um artigo sobre o assunto na Folha de São Paulo.
“As novas tecnologias vão mudar a forma de fazer jornalismo e política”, defende o jornalista espanhol, presidente do Grupo Prisa, que publica o El País. Executivos do grupo espanhol assinaram neste domingo um memorando de entendimento com o governo estadual para intercâmbios na área cultural, de jornalismo e radiodifusão.
Cebrián, que acompanha de perto o movimento dos “indignados” na Espanha, entende que as revoltas que vêm ocorrendo tanto na Europa como nos países árabes mostram como os jovens não se sentem contemplados pelo atual sistema de representação política. “Esses movimentos recordam em certa medida o maio de 68. Os jovens se sentem excluídos do sistema, que não os representa”, afirma.
Organizados basicamente na internet, por meio das redes sociais, esses protestos subvertem a lógica tradicional da política – tanto é que os partidos tradicionais têm dificuldades para compreendê-los e influenciar em seus rumos. Da mesma forma, o jornalismo não tem a capacidade de perceber as demandas desses atores sociais, que acabam por abalar, também, o papel intermediador dos meios de comunicação.
“A internet representa o fim da intermediação. Desaparece o conceito de hierarquia, por exemplo, pois não há uma pessoa que manda e outras que obedecem, não está lá o Estado ou o padre para dizer o que é importante ou não. Há uma organização da sociedade em rede muito participativa, sem lideranças claras. No caso dos jornalistas, isso nos afeta. Os jornalistas são intermediários entre a realidade e os cidadãos. A partir da internet, as próprias pessoas contam o que está acontecendo com elas, sem intermediários”, sustenta Cebrián.
“O protagonista da notícia é a mesma pessoa que conta a história. É uma novidade importante, porque coloca os meios de comunicação e a democracia representativa em uma posição incômoda”, completa o jornalista espanhol.
Para Cebrián, ainda que isso não decrete o fim da democracia representativa e do jornalismo tradicional, inevitavelmente a natureza dessas duas instituições será modificada. “Provavelmente, não vamos assistir ao desaparecimento da democracia representativa e dos meios de comunicação, mas a democracia direta e a participação dos usuários vão mudar a natureza do jornalismo”, finaliza Cebrián.Sul21
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