Decorridos mais de um mês das eleições de outubro, o senador Aécio Neves continua no palanque, inconformado com as derrotas para a Presidência da República e para o governo de Minas. E não perde uma oportunidade para agredir os vencedores e eleitores, comportando-se como um menino mimado que não aceita ser contrariado. Em recente entrevista ao jornalista Roberto D'Ávila, da Globonews, ele atribuiu sua derrota a uma "campanha sórdida", afirmando que perdeu as eleições não para um partido político, mas para uma "organização criminosa". Desta vez ele extrapolou, atingindo não apenas o PT mas, também, os seus eleitores.
Como consequência a essa declaração infeliz, que reafirmou no dia seguinte garantindo que não retira uma única palavra, Aécio vai responder a uma enxurrada de processos na Justiça. Além do próprio PT, eleitores de todo o país, que se sentiram ofendidos, já manifestaram, nas redes sociais, a disposição de processá-lo criminalmente por difamação, calúnia e injúria, cobrando-lhe inclusive indenização por danos morais. Por conta desse excesso ele também mereceu críticas severas do jornalista Jânio de Freitas, sobretudo por continuar alimentando o clima de ódio que criou durante a campanha eleitoral. "É difícil admitir que Aécio Neves esteja consciente do papel que está exercendo", disse o colunista da "Folha".
A frustração do senador tucano com a derrota é tão grande que, além de comportar-se como se ainda estivesse no palanque, ele não mede as consequências das suas palavras no acirramento desse ódio inexplicável, que chegou a ser apontado na época pela colunista Laura Capriglione como causa do seu fracasso nas urnas. Ela advertiu que suas agressões a Dilma estavam "matando" a sua candidatura. E acentuou: "Os marqueteiros de Aécio já deviam saber que o ódio é um aliado mortal em eleições democráticas. É sórdido". Aécio, no entanto, com o apoio da grande mídia, passou a atribuir ao PT as suas próprias atitudes.
Riquinho habituado a ter tudo o que desejou, desde a divulgação do resultado das urnas ele não consegue aceitar a derrota e, por isso, além da sistemática agressão aos vitoriosos, tenta convencer a si mesmo – e aos seus acólitos – de que, pelo fato de ter sido relativamente pequena a diferença de votos, foi o grande vencedor do pleito. Chegou, inclusive, a proclamar a teoria maluca de que "perdeu vencendo", enquanto Dilma "venceu perdendo". Difícil dizer se é caso de tratamento psicológico ou psiquiátrico.
Parecendo o garoto do buchão, que vive choramingando porque lhe tomaram o pirulito, o senador tucano revela, com esse comportamento, total falta de maturidade, incapaz de aceitar as regras do jogo democrático quando o resultado lhe é desfavorável. É a primeira vez, na história da democracia no Brasil, que um candidato derrotado nas urnas se recusa a aceitar o seu veredito, entregando-se a permanente choradeira. Já pensaram se todos os candidatos derrotados aos governos estaduais adotassem o mesmo comportamento? O país não conseguiria dormir com tanto chororô.
Com esse comportamento infantil o senador presidente do PSDB, além de estar perdendo o equilíbrio com seus inoportunos e virulentos ataques, está se isolando dentro do seu próprio partido, pois, afora o seu pequeno grupo de acólitos chorões, ele não tem recebido o apoio de outras lideranças tucanas, como dos governadores Geraldo Alckmin e Marconi Perillo e do senador eleito José Serra. Mais maduros e convencidos da legitimidade da vitória da candidata petista e da importância de um relacionamento formal e respeitoso com o poder central, os três preferem ficar distantes de Aécio, para não serem respingados pelo seu ódio inconcebível.
Talvez a maior dor de Aécio, no entanto, esteja relacionada com o futuro, porque ele provavelmente concluiu que a eleição deste ano pode ter sido a sua primeira e última oportunidade de chegar à Presidência da República. Isto porque em 2018 ele deverá enfrentar, dentro do seu próprio partido, dois fortes candidatos ao Palácio do Planalto – o governador Geraldo Alckmin e o senador José Serra – os quais, mesmo a contragosto, abriram mão da vaga este ano. E, também, caso consiga vencer a disputa interna no ninho tucano, deverá ter pela frente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja candidatura à sucessão da presidenta Dilma Rousseff é considerada fava contada.
Na verdade, não apenas o candidato derrotado à Presidência se mostra revoltado com a vitória de Dilma. A mídia oposicionista também ainda não digeriu a reeleição da Presidenta. O jornal "O Globo", por exemplo, em editorial logo após o pleito, sob o título de "A mensagem das urnas", disse que a eleição presidencial deixou o país dividido entre "o que produz e paga impostos, que deseja o PT longe do Planalto, e o Brasil cuja população se beneficia dos lautos programas sociais, que não quer mudanças em Brasília por razões óbvias". O jornalão carioca, que surpreende com semelhante interpretação preconceituosa do resultado das urnas, ainda debocha dos pobres ao classificar de "lautos" os programas sociais.
O fato, porém, é que a maioria do povo brasileiro decidiu manter a presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto pelos próximos quatro anos. Afinal, o voto do pobre não é diferente do voto do rico, assim como a pequena diferença não tira a legitimidade da vitória. Diante disso, resta ao senador Aécio Neves deixar de ser infantil – até porque não fica bem semelhante atitude a um aspirante à Presidência da República – parar com a choradeira e as crises de revolta e aceitar democraticamente o resultado das urnas, preparando-se para tentar ser mais convincente – e menos agressivo – no pleito de 2018, caso até lá consiga manter-se candidato. Afinal, Alckmin e Serra estão aí mesmo...
Ribamar Fonseca
Jornalista, membro da Academia Paraense de Jornalismo e da Academia Paraense de Letras; tem 16 livros publicados
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