quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O grito idiota de “Vai pra Cuba” foi para o espaço com a reaproximação de Obama

Por Kiko Nogueira




O grito de guerra “Vai pra Cuba” foi ferido de morte na tarde de quarta feira, 17 de dezembro.

Num pronunciamento, Obama anunciou medidas para normalizar as relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba mais de 50 anos depois da ruptura.

Parte do acordo incluiu uma troca de prisioneiros: os cubanos libertaram Alan Gross, preso há cinco anos por espionagem, e um agente cujo nome não foi revelado. Os americanos soltaram três cubanos.
“O isolamento não funcionou”, disse Obama. “Está na hora de uma nova abordagem”.

O embargo econômico continua, mas haverá um esforço no sentido de amenizá-lo. Os EUA restabelecerão uma embaixada em Havana. Viagens de americanos serão “flexibilizadas”, o limite de dinheiro enviado sobe de 500 para 2 mil dólares, empresas de telecomunicações poderão se instalar na ilha. Será revisto o status de Cuba como “estado patrocinador do terrorismo”.

De acordo com o New York Times, foi um movimento corajoso de Obama. “Muito provavelmente, a história vai provar que ele tinha razão”, lê-se num editorial intitulado “Um Novo Começo”. Como dizia Solozo, de “O Poderoso Chefão”: “Nada pessoal. É apenas bíziness”.

Mas a reaproximação deixa com a brocha na mão milhares de idiotas. É mais ou menos como o estádio num show de Paul McCartney descobrir que o refrão de “Hey Jude” era dedicado a Hitler. Qual o sentido em cantar?

O “Vai pra Cuba” foi consagrado como o xingamento máximo de reacionários cabeça oca, o apelo ao degredo mais asqueroso, o inferno, o oposto de Miami. Mas como soltar esse berro da garganta agora que o companheiro Obama, o líder da maior nação do mundo livre, comete esse ato de traição?

Aécio, mesmo, pegou carona na onda. Atacou, por exemplo, o porto de Mariel nas eleições. “O seu governo optou por financiar a construção de um porto em Cuba, gastando R$ 2 bilhões do dinheiro brasileiro, enquanto os nossos portos estão aí esperando”, disse a Dilma num debate.

Aécio sabe que seu anticubanismo é papagaiada. Sua irmã Andrea esteve em Havana algumas vezes e registrou sua felicidade em seu blog, misteriosamente retirado do ar depois que foi notícia no DCM. Mas o que valia para Aécio, naquele momento, era agradar aos bolsonaros e denunciar a ditadura socialista do PT.

Cuba se aproximou de Miami. Logo mais surge uma ponte feita pela Odebrecht. O mundo real deu uma rasteira na paranoia.

Agora: haverá um período de luto até que a ficha caia. O “Vai pra Cuba” deve prosseguir por algum tempo no coração de acéfalos inconformados. Os comentários nos portais são uma aula sobre a ausência de limites da estupidez.

“Estão alimentando o monstro comunista. Esse Obama nunca me enganou, é um melancia, verde por fora e vermelho por dentro”, escreve um sujeito no site da Exame.

“TRAIDOR. O que esperar de um socialista??”, escreve outro.

No Uol:

“Obama tem e que bombardear cuba acabar com todos os cubanos e Dilma e Lula também”.

“Espero que em 2016 os Republicanos voltem ao poder nos EUA”.

“Se for para invadir e derrubar o sistema e ajudar o povo cubano…”

E um longo, interminável etc. Por enquanto, o papa, articulador do reatamento, está sendo poupado. 

Francisco avisou que visitará Cuba em 2015. Até lá, tudo pode acontecer, ainda mais se depender de comunistas safados como Obama, Francisco e os Castro.


Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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