sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015





É inacreditável que o juiz Sergio Moro tenha usado o simples esforço dos advogados para falar com o ministro da Justiça, e sem informação de que este tenha feito coisa alguma para seus clientes, para justificar a continuidade da prisão preventiva.
O barbosianismo, essa sociopatia midiática, está de volta.
Os sujeitos são os maiores empreiteiros do país. Boa parte do Brasil foi construída por essas empreiteiras, e todo o nosso projeto de infra-estrutura está sob responsabilidade das mesmas.
É óbvio que o governo precisa se envolver. Que o ministro da Justiça precisa buscar uma solução de bom senso, que não paralise o país.
Que se julgue os crimes, com rigor, mas sem vingancismo, sem loucura, sem jogar fora, junto com a água da corrupção, todos os bebês que estavam na banheira.
A nossa mídia, claro, aplaude, porque sabe que a classe média fascistoide lhe dará suporte.
A mesma classe média que a mídia sempre cultivou.
Os analfabetos políticos.
Os violentos de espírito, que apoiaram entusiasticamente a ditadura porque acreditaram naqueles editoriais que chamaram o golpe de "retorno à democracia".
O sistema penal brasileiro é bárbaro. Há milhares de cidadãos engaiolados sem que haja sequer uma sentença a condená-los.
Há prisões superlotadas que lembram masmorras.
Aí, ao invés de criticar uma barbárie que, em sua maior parte, castiga a população mais pobre, a mídia agora aplaude a aplicação da barbárie a um punhado de executivos de meia idade, desde que seja para cumprir um objetivo político.
Nos Estados Unidos, de onde copiamos a delação premiada, a instituição é contrabalançeada com um rigor absoluto no respeito ao direito de defesa.
Aqui, não. O juiz decreta prisão preventiva por tempo indeterminado, numa forma descarada de tortura para que os réus "confessem" alguma coisa que sirva ao circo midiático, e está tudo bem.
Nos EUA, que têm muito mais corrupção que aqui, seria impensável que os interesses nacionais fossem postos de lado, como estão fazendo com a Lava Jato, ao paralisar obras de infra-estrutura e colocando centenas de milhares de empregos em risco, e justamente num momento em que a economia brasileira vive um momento difícil.
O circo da Ação Penal 470 fez escola.
Sergio Moro é o mesmo que escreveu o voto de Rosa Weber contra Dirceu, no qual ela disse que o condenava mesmo sem provas, porque a literatura assim o permitia.
Alguns dos promotores são os mesmos que assessoraram Gurgel a escrever o texto ficcional que foi a acusação da procuradoria na AP 470.
É o mesmo tipo de inteligência por trás, elaborando todo o tipo de armadilha judicial para cumprir um objetivo político.
A mídia também rasgou qualquer escrúpulo democrático.
Os irmãos Marinho foram pegos numa operação de evasão fiscal, num processo em que houve até o roubo do processo.
Mas eles são intocáveis.
Tirando eles, porém, todos estão à mercê do arbítrio e da barbárie do Estado e da mídia.
Pobres ou ricos, não importa.
Tornou-se uma peça útil para a mídia, adeus à liberdade, adeus aos direitos.
O Brasil se tornou refém de uma mídia positivamente fascista.
Ninguém está seguro.
Enquanto isso, os sonegadores do HSBC são blindados e protegidos por esta mesma mídia, pela simples razão que ainda não encontraram uma maneira de controlar a narrativa desse escândalo.


Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é blogueiro há mais de dez anos. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, cidade onde ainda amarra seu cavalo

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