Sílvia Faria, diretora da Central Globo de Jornalismo, enviou o seguinte email a todos os chefes de núcleo da emissora:
"Assunto: Tirar trecho que menciona FHC nos VTs sobre Lava a Jato
Atenção para a orientação
Sergio e Mazza: revisem os vts com atenção! Não vamos deixar ir ao ar nenhum com citação ao Fernando Henrique".
Este é o jornalismo manipulado quando não mentiroso praticado há muito tempo pelos magnatas bilionários de imprensa e seus empregados, cúmplices de um mesmo propósito, que é o de desgastar a imagem e a moral do Governo Trabalhista de Dilma Rousseff, bem como incluir nesse bojo de conspirações e infâmias o ex-presidente Lula, possível candidato do PT à Presidência da República em 2018.
Todo mundo que tem um pouco de discernimento e noção do que é justo ou injusto, do que é certo ou errado, compreende que os piores e mais fortes inimigos do desenvolvimento do Brasil e da emancipação do povo brasileiro são, sem sombra de dúvidas, os magnatas bilionários de todas as mídias cruzadas, que atualmente tentam destruir a Petrobras, com o objetivo de privatizá-la e, posteriormente, entregar o pré-sal a empresas estrangeiras, com a mudança do modelo de partilha para o de concessão.
Além disso, querem, inacreditavelmente, manter o financiamento privado para as campanhas eleitorais e, por sua vez, ferir de morte a reforma política, bem como apostam no impeachment, por via jurídica, conforme aconteceu no Paraguai, contra uma presidenta eleita legitimamente, e que chefia um Governo que está a prender ladrões de colarinhos brancos, corruptos e corruptores pela primeira vez neste País.
A verdade é que o impeachment contra a Dilma é uma bazófia ou bravata do PSDB, que está a disputar um virtual terceiro turno das eleições de outubro passado, pois até agora não conseguiu digerir a sua quarta derrota, sendo que muitos de seus membros se mostram revoltados e rancorosos, ao ponto de defender o que não pode ser defendido, porque não se justifica o injustificável, que é a quebra da ordem democrática e da estabilidade institucional.
Entretanto, trata-se de uma direita irresponsável e demagoga, como exemplifica, sobretudo, o e-mail de Sílvia Faria aos editores subordinados, quando exige deles "atenção" para não repercutir na tela da Globo o nome de Fernando Henrique Cardoso — o Príncipe da Privataria —, cujo governo não investigou, não puniu e muito menos prendeu os bandidos de carreira e os empresários e executivos corruptores das construtoras, que assaltaram os cofres da Nação, notadamente os da Petrobras.
Hoje essas pessoas estão a responder por seus malfeitos, exatamente nos governos petistas, apesar de a imprensa de caráter golpista inverter os fatos, distorcer as realidades, manipular as notícias e esconder do público os nomes de seus aliados políticos, a exemplo de FHC e de outros protagonistas das privatizações e escândalos da era tucana, que sempre foram convenientemente blindados pelas famílias midiáticas, que desejam, sofregamente, a queda de Dilma Rousseff do poder, assim como a criminalização do PT e a judicialização da política.
Não restam dúvidas que grande parte do povo brasileiro tem consciência de que esta imprensa imperialista que está aí, a abusar de seu poder e a se aproveitar de seus mecanismos de lobotomia, que deixam parte da sociedade cega para as realidades que se apresentam, não é séria e nunca o foi, como comprovam inúmeros episódios de sua história contrários aos interesses do Brasil. O problema é que os setores mais reacionários e direitistas da sociedade brasileira não se importam com a legalidade democrática e, se possível, estão dispostos a rasgar a Constituição.
Eles são radicais, extremados, e não se preocupam, de forma alguma, se partidos como o PSDB, o DEM e o PPS resolveram partir para a ilegalidade constitucional, bem como também não interessa a eles se a imprensa dos magnatas bilionários é mentirosa e manipuladora. O que interessa a essa gente, e somente isto, é a queda de uma presidenta trabalhista, que está a prender criminosos de colarinhos brancos, além de realizar a inclusão social de milhões de brasileiros.
É evidente que um escândalo de bilhões na Petrobras, que está a ser apurado pela Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, e também pela Justiça Federal e Procuradoria Geral da República, dentre outros órgãos e instituições, é um problema grave, complexo e que está a ser, indevidamente e matreiramente, colocado nas costas do PT e do Governo Trabalhista, quando a verdade é que esses fatos ocorrem desde as décadas passadas e que somente agora estão a ser apurados para que haja a punição dos envolvidos e a devolução do dinheiro público roubado.
Afinal, como todo mundo já está cansado de saber, mesmo os recém-nascidos, os saídos de um coma profundo, os extraterrestres, e, inacreditavelmente, até os coxinhas udenistas compreendem, mesmo os mais afoitos e reacionários por princípio, que a bandalheira cometida por servidores de carreira da Petrobras remonta à década de 1990, exatamente o período do auge neoliberal no Brasil e no mundo.
Por seu turno, há de se compreender também que os executivos da petrolífera presos, juntamente com os corruptores das grandes empreiteiras, agiam praticamente livres, porque foi exatamente no governo tucano, privatista e entreguista que foi assinado o Decreto 2.745/98, que trata da prerrogativa de a estatal contratar serviços à margem da Lei de Licitações.
Por sua vez, tal decreto foi editado pelo Governo FHC para atender a abertura do mercado nacional de petróleo e gás às empresas estrangeiras, por intermédio da Lei 9.478/97 — a Lei do Petróleo. A verdade é que o decreto 2.745/98 assinado por FHC — o Neoliberal I — se sobrepôs à lei 8.666/93 — a Lei de Licitações. Outrossim, o processo licitatório passou a ser inexigível, a Petrobras vendeu empresas de seu complexo, além de ser quebrado o monopólio estatal sobre o petróleo, bem como aconteceu a venda de suas ações na Bolsa de Nova Iorque.
Todo esse processo de alienação e entrega do patrimônio público começou a partir do Governo Itamar Franco, em 1992, pois foi quando os tucanos chegaram ao poder e se tornaram hegemônicos na Era Itamar, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no cargo de ministro da Fazenda, sem entender patavinas de economia. Quando o Plano Real foi lançado, FHC não era mais ministro e, mesmo assim, teve a ousadia de assinar a nota do real, sendo que o titular da pasta da Fazenda era Rubens Ricúpero.
De qualquer forma, o verdadeiro responsável pelo Plano Real é o presidente Itamar Franco, que o autorizou sob os ditames constitucionais de sua presidência, de seu governo — inclusive assumindo os riscos políticos, que não eram poucos. O Neoliberal I foi nomeado ministro da Fazenda, porque Itamar, que saiu do poder com altos índices de aprovação popular, sofria oposição da imprensa familiar, principalmente do baronato paulista e das Organizações(?) Globo. Por isso, o político de Minas Gerais necessitava de um nome palatável para a imprensa familiar, bem como para os setores empresarial e financeiro, principalmente os de São Paulo, que historicamente sempre sabotaram governos que não os atendessem em seus interesses.
Por sua vez, os tucanos conseguiram firmar no imaginário popular, com a cooperação sistemática das mídias privadas, que o Plano Real foi obra do PSDB, quando a verdade é que Itamar Franco estabeleceu as condições favoráveis para que o real desse certo, bem como Rubens Ricúpero era o ministro da Fazenda, no lançamento da nova moeda, e não o FHC, que já tinha saído do Governo Itamar, mas, espertamente, assinou as notas do real.
Disse certa vez Itamar Franco sobre Fernando Henrique: "De repente até parece que foi o doutor Cardoso, que nem ministro mais era, porque tinha deixado o cargo em março, e nós lançamos o Plano Real em 1º de julho. Parece até que foi o doutor Cardoso que assinou a medida provisória (do Plano Real)" — afirmou Itamar, em 2000, para logo completar: "Ele entende menos de matemática do que eu; e entende tanto de economia quanto eu. Talvez eu até entenda mais do que ele" — concluiu.
Ciro Gomes, ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda, afirmou: "O FHC foi ministro de Itamar, mas ele saiu antes de o real ter sido lançado e deixou as notas assinadas. Isso tudo é uma sequência de uma fraude" — ressalta o político do Estado do Ceará.
A verdade é que a paternidade do Plano Real é de Itamar Franco, e o ministro da Fazenda que o lançou foi o Rubens Ricúpero e não o FHC. Itamar morreu em 2011, mas sempre que pôde falar e ser ouvido contestou as afirmativas do PSDB e da imprensa de negócios privados de que o Plano Real é de autoria dos tucanos. Acontece que não é. Ponto.
O ex-presidente e político histórico morreu, magoado com relação a essa questão e jamais perdoou as bravatas, as fanfarronices, os engodos e as mentiras do PSDB, à frente o Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I —, que depois venceu duas eleições presidenciais, a ter como mote publicitário o Plano Real. Exatamente o FHC, aquele que entregou o País, traiu o Brasil e mesmo assim foi ao FMI três vezes, de joelhos, humilhado, com o pires nas mãos, porque quebrou o Brasil três vezes.
Agora Fernando Henrique Cardoso aposta no impeachment presidencial, e o derrotado Aécio Neves, juntamente com Agripino Maia, Rodrigo Maia, Álvaro Dias, Carlos Sampaio e Ronaldo Caiado, dentre outros políticos de direita, repercute no Congresso o desejo de se efetivar um golpe, que os tucanos e a imprensa empresarial cinicamente o chamam de "jurídico", contra uma presidenta constituída, eleita legalmente e a respeitar o jogo democrático e os ditames do Estado Democrático de Direito.
A verdade é que a direita brasileira quer criminalizar as contas de campanha do PT, abrir o pré-sal para as petroleiras estrangeiras, barrar a reforma política, que dispõe sobre o fim do financiamento privado às campanhas, bem como atribuir às prisões de executivos da Petrobras e das construtoras, como se fossem corrupção do Governo Trabalhista, que na verdade é o maior responsável pelas investigações, denúncias e prisões de ladrões de colarinhos brancos, dos corruptos e dos corruptores, que pela primeira vez no País estão a ser presos e punidos, e no Governo do PT. Este é o fato.
Todavia, FHC — o Neoliberal I —, ainda como senador, já tinha anunciado suas intenções privatistas antes de disputar o pleito eleitoral para presidente da República, em 1994. Em um discurso liberal, o príncipe da imprensa corporativa alardeou, de forma arrogante e divorciada da história, o fim da Era Getúlio Vargas. Seu pronunciamento soou como se fosse uma senha para o que depois viria acontecer com o Brasil e seu rico e diversificado patrimônio público.
Um patrimônio construído através do trabalho de gerações de brasileiros, que se dedicaram com conhecimento, trabalho árduo e competência para criar estatais dos portes de Rede Ferroviária, Telebras, Embratel, Vale do Rio Doce, Petrobras e portos, além de empresas ligadas à petroquímica, fertilizantes, saneamento, gás, seguros, bancos, siderúrgicas e mineração, dentre outros segmentos empresariais da poderosa economia brasileira.
Somente para constar, de 1992, ainda no Governo Itamar, até 2000, o ex-presidente Fernando Henrique, e seus chicagos boys, venderam 125 empresas estatais e mesmo assim não amortizaram as dívidas públicas, além de jogarem o Brasil nas garras do FMI. Chamar de incompetentes e entreguistas os governos tucanos é pouco.
A verdade é que o Fernando Henrique, o PSDB e os seus aliados traíram o Brasil e o povo brasileiro, e hoje ainda tem o desplante de falar em moralidade, como se fossem os arautos em defesa do Brasil, quando se sabe que esses grupos econômicos e políticos porta-vozes dos interesses da plutocracia, controladora do establishment em termos mundiais.
Porém, e para o bem do Brasil, FHC é um péssimo vidente e um "historiador" sofrível. A Era Vargas não foi "sepultada", como o tucano equivocadamente anunciou nos idos dos anos 1990, o que seria um sonho dos neoliberais, dos direitistas e dos empresários que apostam em um capitalismo selvagem e de exploração e pirataria. Com a ascensão do PT ao poder, o trabalhismo foi retomado, pois destituído do poder em 1964, com a queda de Jango.
O Brasil voltou a crescer economicamente, milhões de cidadãos brasileiros foram inseridos no mercado de trabalho e no sistema educacional e a democracia brasileira se consolidou, apesar do golpismo barato e irresponsável de certos setores da sociedade inconformados com os avanços sociais, a garantia dos direitos trabalhistas e a recusa de os governos de Lula e de Dilma não se alinharem automaticamente aos interesses dos Estados Unidos e da União Europeia, bem como não serem pautados pelas mídias dos magnatas bilionários.
Não vai haver golpes de estado, militar ou jurídico. Seria uma aventura muito perigosa, ainda mais quando se trata do PT, um partido que continua socialmente orgânico e que está no poder. Seria muita imprudência da direita brasileira, que — é verdade — sempre foi irresponsável, porque só se preocupa com seus negócios e lucros, com seu mundinho redoma de cristal e provinciano feito para poucos se darem bem, usufruir das riquezas do País e manter seus privilégios e benefícios para o todo e sempre, como se fosse seu destino de opulência, perversidade e leviandade determinado por Deus. A Globo blinda a imagem de FHC, o da P-36, e pensa que seu jornalismo tucano é sério. Durma-se com um barulho desses. É isso aí.
Davis Sena Filho
Davis Sena Filho é editor do blog Palavra Livre
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