quarta-feira, 5 de maio de 2010

FMI faz parte do passado:Ex-linha-dura do FMI é só elogios ao Brasil


Diga não ao retrocesso.Votando no PSDB você vai estar votando na privataria, na dependência ao FMI, no desemprego, na inflação alta, nos juros altos, na pereseguição aos trabalhadores, na volta da corrupção, na volta da fome.



Luciano Pires


Correio Braziliense - 05/05/2010

Durante mais de uma década, economista do Fundo Monetário causou arrepios ao governo.


Estrela do encontro que reuniu ontem no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) alguns dos “pais” da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a economista italiana Teresa Ter-Minassian arrebatou corações. Martus Tavares, ex-ministro do Planejamento durante o governo Fernando Henrique Cardoso, era todo ouvidos. Guido Mantega, atual ministro da Fazenda, não tirava os olhos dela. De Yoshiaki Nakano, guru econômico do PSDB, e de Antonio Palocci, um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República, ouviam-se os suspiros. Como nos velhos tempos, os homens de Brasília por pouco não se estiraram a seus pés.

De volta à cidade depois de três anos, a ex-toda-poderosa do Fundo Monetário Internacional (FMI) fez a plateia viajar em uma espécie de túnel do tempo quando tomou o microfone: “É importante assegurar o equilíbrio macroeconômico”, disse. Vistosa e maquiada, vestindo um terninho vermelho cintilante com babados em destaque, lembrou de feitos do passado e, com diplomacia, puxou as orelhas daqueles que acreditam que a bonança é eterna. O português estava perfeito e a voz, serena. “É preciso reformar a legislação orçamentária do país”, recomendou.

Socorro


Chefe de missões que vinham ao Brasil nos anos 1990 para orientar governos e acompanhar a execução de programas de socorro dados pelo Fundo, Teresa é protagonista da história recente da economia brasileira. Os técnicos liderados pela ex-diretora do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI faziam plantão no Ministério da Fazenda para assegurar o cumprimento das metas. O padrão Teresa de agir deixou marcas. “Quando você fala com o filho do vizinho, você recomenda, aconselha. Quando você fala com seu próprio filho, você determina”, resumiu Martus Tavares.

O último pacote financeiro liberado pelo FMI foi costurado diretamente pela ex-dama de ferro e só saiu do papel graças à sua intervenção decisiva junto ao alto escalão do organismo internacional. O dinheiro, usado para recompor as defesas do Brasil entre 2003 e 2004, deu lastro ao governo que acabava de assumir em meio a desconfianças internacionais e riscos de hiperinflação. Por causa desse financiamento ao Brasil, Teresa ganhou desafetos dentro do Fundo e passou alguns meses dividindo sua rotina diária entre Brasília e Washington.

Quem a conhece de perto ou já trabalhou a seu lado, classifica Teresa como uma mulher extremamente técnica e firme. Nunca grosseira e sempre elegante — seus vestidos eram sempre comentados nas rodas de mulheres por onde ela passada. “Teresa é a italiana mais brasileira que conheço”, desconversou a secretária executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Lytha Spíndola, que chegou a atuar com a amiga no FMI. Outro contemporâneo de Fundo, o ex-secretário do Tesouro Nacional Joaquim Levy foi além: “Uma pessoa que acredita no que faz. Assim é a Teresa”. Alguém a temia? Presidentes e ministros baixavam a guarda? “Havia muito mais gente a se temer naquela época. A Teresa sempre trabalhou para que as coisas dessem certo”, completou.

A julgar pelos relatos de quem, assim como Levy, ocupou cargos de destaque no Executivo federal nas últimas duas décadas, o diagnóstico é verdadeiro. Mesmo os críticos reconhecem que Teresa tinha uma postura pró-ativa, atuava para resolver pendências e evitar que a burocracia do FMI sufocasse a capacidade do país de reagir a tempo de ser sucumbido por crises. Leia, a seguir, os trechos da entrevista que Teresa Ter-Minassian concedeu ao Correio Braziliense.

Entrevista Teresa Ter-Minassian

O Brasil mudou?


Muito. Mudou para melhor. Mas há desafios e eles não são só internos. Dependem do contexto internacional. O mais importante é salvaguardar os resultados conquistados, de maneira que se impeça que as coisas se percam.

Ainda não há essa garantia?


Ninguém pode garantir nada. Numa economia globalizada você tem choques fortes. Agora, o Brasil tem uma boa capacidade de ajuste aos choques, mas ninguém sabe. Um aumento dos juros internacionais, por exemplo, claramente envolveria o Brasil, que tem uma dívida pública alta. Acho também que é preciso ficar atento às pressões inflacionárias. Elas estão aí, não são muito fortes, mas a economia está crescendo muito rapidamente, mais até do que se esperava.

O crescimento atual embute riscos?


Acho que o Brasil pode crescer a taxas altas, mas tem de criar mais capacidade de acumular estoque de capital. Há uma necessidade de aumentar a taxa de investimento. Mas não dá para fazer isso se não aumentar a poupança. Vejo um papel muito importante da política fiscal. Há dois componentes. Um é assegurar um bom equilíbrio macroeconômico, crescimento sustentável e reduzir a vulnerabilidade externa. Depois, aparecem os desafios mais estruturais, como melhorar a qualidade das finanças públicas, fazer as reformas da Previdência e tributária. Melhorar o arcabouço institucional.

Olhando para trás, que papel a senhora acha que desempenhou?


O meu papel foi ter confiança em um país melhor. O papel de apoiar o governo de dizer que eram necessários ajustes.

Havia a certeza de que o país se tornaria um país melhor?


Sem dúvida. Sempre tive muita confiança. Tinha de ter porque defendi muito o Brasil dentro do FMI. Havia muita desconfiança dos mercados na capacidade de o Brasil sair da crise.

Por que, apesar disso, as pessoas a temiam?


O Brasil necessitava de ajustes. Negociamos, discutimos. O debate com o governo era em torno de dar respaldo, ou seja, como se poderia convencer os mercados de que eles precisavam confiar no Brasil.

Seu coração é brasileiro?


Considero o Brasil a minha segunda pátria.

Há quanto tempo a senhora não vinha a Brasília?


Há três anos.

O mais importante é salvaguardar os resultados conquistados, de maneira que se impeça que as coisas se percam”

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