sexta-feira, 7 de maio de 2010

Todo cuidado é pouco com esses meliantes


Serra cria factoides para se exibir como sucessor ideal de Lula

Na semana em que voltou a ajustar o figurino de sua pré-campanha, o presidenciável José Serra (PSDB-SP) protagonizou dois factoides dignos de nota. O primeiro se deu na terça-feira (4), durante o Fórum das Entidades Empresariais de Santa Maria (RS). Depois de fazer longo discurso sobre “entraves” da economia, Serra receitou “muito tesão” como uma das medidas necessárias para dar continuidade ao crescimento do PIB. A repercussão da sandice constrangeu até seus aliados.

Por André Cintra


Apenas dois dias depois, o ex-governador paulista participou do congresso anual da AMM (Associação Mineira de Municípios), em Belo Horizonte, ao lado das também pré-candidatas a presidente Marina Silva (PV) e Dilma Rousseff (PT). Quando Marina criticou as alianças eleitorais de seus oponentes e afirmou ter “a ética dos valores acima da ética das circunstâncias”, Serra lançou no ar o segundo factoide: “Vou dizer o seguinte, Marina: se depois da campanha eu for eleito — e pode parecer uma heresia, viu, Dilma? —, mas vou querer tanto o PT quanto o PV no governo em função de objetivos comuns, com base no programa”.

Serra sabe que o “novo” PV, cada vez mais pragmático e contraditório, não teria dificuldades nem pudores para se adaptar à plataforma neoliberal da trinca PSDB-DEM-PPS. Uma aliança do tipo já existe no Rio de Janeiro, onde o palanque do pré-candidato “verde” a governador, Fernando Gabeira, deve preferir o tucano a Marina. Se o PSDB voltar à Presidência da República, bastaria estender a promiscuidade do Rio para o restante do país.

Mas o alvo da declaração demagógica de Serra não é o PV. O tucano se dirige, sim, à generosa fatia do eleitorado que aprova o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deseja votar num candidato que dê prosseguimento a seu governo.

Desde que se desincompatibilizou do governo paulista a fim de se dedicar à pré-campanha, Serra tenta reverter o incontornável caráter plebiscitário do pleito. Declara-se como candidato pós-Lula (e não anti-Lula). Diz estar na disputa “nem como oposição nem como situação em relação ao governo”.

A diferença fundamental entre Dilma e Serra é que ela é a única candidata do presidente Lula e das forças políticas de esquerda que formam a base aliada do governo. PSDB e PT estão em campos políticos claramente antagônicos há pelo menos 16 anos, o que torna meramente oportunista a proposta de uma coalizão — ainda mais sob um programa liderado pelas forças que levaram o Brasil ao retrocesso.

Os cardeais demo-tucanos estranharam o descaramento de Serra, mas o PT — a começar por sua pré-candidata — não passou recibo. “Qualquer tentativa de dizer que (os projetos) não são distintos tem que ser explicada”, declarou Dilma, cobrando coerência dos tucanos. “Por que foram contra o presidente Lula durante tanto tempo? Por que fizeram uma oposição tão raivosa? Agora, quando temos 75% de aprovação para o governo e mais de 90% para o presidente Lula, soa um pouco estranha essa fala.”

Segundo a Folha de S.Paulo, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, rebaixou a proposta de Serra, tachando-a de “conversa de candidato”, e demarcou diferenças. “Vamos participar do governo do PT. Temos uma grande coalizão e vamos contar com quem é nosso aliado”. Já o coordenador da campanha de Dilma, Fernando Pimentel, questionou por que Serra não buscou essa composição tão heterodoxa quando foi prefeito de São Paulo (SP) e governador.

Também o PCdoB, desde que tornou público seu apoio a Dilma, acusa as diferenças inconciliáveis entre as principais candidaturas presidenciais. “Estão em confronto dois campos políticos antagônicos. A aliança de partidos, movimentos populares, setores sociais e empresariais democráticos, liderada pelo presidente Lula, versus legendas que sustentaram o governo neoliberal de FHC que levou o Brasil à estagnação e até mesmo à decadência”, afirma uma nota do Comitê Central do partido aprovada em 8 de abril.

“Neste embate não há meio-termo”, agrega o texto. “Seu resultado ou garantirá a continuidade do ciclo político virtuoso aberto pelo presidente Lula, ou será o retrocesso com o retorno daqueles que arrasaram o Brasil”. Portal Vermelho.

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