domingo, 23 de setembro de 2012

Eleição e Papo Furado

 


Fenando Cartaxo de Arruda Sociólogo Fortaleza Ceará
A eleição se aproxima e todos querem saber quem será o melhor prefeito para a cidade de Fortaleza. É normal se escolher o melhor para o bem-estar das pessoas que vivem a cidade, o seu cotidiano e a plataforma do seu futuro.
 
Na verdade, temos poucas diferenças entre os candidatos ditos viáveis. Mas não podemos desconhecer que quem fez a grande diferença na distribuição de renda e num processo de desenvolvimento que resistiu a própria crise mundial do sistema de produção capitalista foi o PT.

Hoje temos uma multidão de pessoas que passaram da condição de indigentes a consumidores.
 
 
Nem sempre fizeram escola nos direitos de cidadania, sabendo pouco o que representa essa mudança substancial de entrar no mercado consumidor e de melhorar a própria qualidade de vida, na junção da ampliação das políticas públicas e de um mercado de trabalho mais acolhedor.
Por mais que a grande imprensa tente inocular o preconceito contra o PT, fazendo a farra do mensalão e propalando a corrupção como sua marca mais proeminente não consegue apagar os efeitos positivos da vida cotidiana da maior parte da população. Esse é o diferencial histórico, de um país que ainda tem o ranço da escravidão travado nos dentes. É certo também que a maior parte desse diferencial se deve a conjuntura da política internacional, que nos favoreceu, e as medidas de descentralização de renda, que beneficiou uma parcela excluída dos benefícios da modernidade.

 
Não pense que fizemos uma revolução, pois é uma grata ilusão. A riqueza é que foi mais bem administrada, sem afetar os beneplácitos lusitanos de domínio de classe. Temos uma elite que não cede aos seus custos imperiais, que torra o dinheiro por puro prazer do desprezo e se excede em devaneios como se fossem donatários do Brasil. Nada disso mudou, nem o luxo e nem a luxúria. Talvez o que tenha sido distribuído foi uma parcela do capital para movimentar o mercado interno, pois já não vivemos no modelo metropolitano da colônia e da coroa. E a crise mundial impôs, como os interesses econômicos da Inglaterra em seu tempo, o fim da escravidão clássica.
 
É claro que o PT poderia ter avançado mais, muito mais. Mas o que fez já significa uma transformação substancial. Os tucanos, do PSDB, ficaram retidos em prover mais benefícios para sua elite e pequenos e vagos gestos para o que chamavam populacho. Essa é a diferença. E isso não exclui que muitos líderes petistas se perderam nas trilhas obscenas da atávica corrupção que é nossa matriz inaugural desde da colônia, que ficou independente em uma negociação política que nos marcou pela eternidade pela covardia de mudar os rumos de nossa história. O povo, esse ser abstrato na boca das elites, nunca existiu como personagem histórica. Sempre que foi possível, e quase sempre o foi, ficou relegado a espectador das decisões dos iluminados.

 
Na verdade, as nossas lutas populares sempre foram massacradas pela índole autoritária das nossas elites autoritárias. Hoje, se discute como melhor fazer, mas nunca como mudar as raízes de dominação que escravizam o povo e tornam a nossa elite a mais perdulária do mundo. Aqui é o paraíso da exploração social, o país que ostenta uma das maiores desigualdades do mundo, uma civilização que proibiu por séculos a criação de universidades e a democracia do saber.
 
Temos um passado tenebroso e idolatramos heróis de meia tigela. Esses fartos personagens de sabedoria e temerosos dos desejos populares. A nossa cultura foi traçada na incongruência de defender o liberalismo clássico e ocultar a existência da escravidão humana, a forma mais abjeta de domínio político. Essas gêneses de nosso modo de viver e agir ficaram entranhadas no inconsciente das elites. O PT para alçar ao poder teve que fazer acordos com esses cordiais da prudência e tolerância, pois o povo sempre foi visto como uma força de risco e perigo aos privilégios acumulados da nossa fauna colonialista.
 
Também seria uma ingratidão negar os avanços sociais das últimas décadas e a capacidade de manter em desenvolvimento, mesmo que ainda não aprofundando e ampliando uma política consistente de distribuição de renda e visão ecológica.   

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