Fenando Cartaxo de
Arruda Sociólogo Fortaleza Ceará
A eleição se
aproxima e todos querem saber quem será o melhor prefeito para a cidade de
Fortaleza. É normal se escolher o melhor para o bem-estar das pessoas que vivem
a cidade, o seu cotidiano e a plataforma do seu futuro.
Na verdade,
temos poucas diferenças entre os candidatos ditos viáveis. Mas não podemos
desconhecer que quem fez a grande diferença na distribuição de renda e num
processo de desenvolvimento que resistiu a própria crise mundial do sistema de
produção capitalista foi o PT.
Hoje temos uma
multidão de pessoas que passaram da condição de indigentes a consumidores.
Nem
sempre fizeram escola nos direitos de cidadania, sabendo pouco o que representa
essa mudança substancial de entrar no mercado consumidor e de melhorar a
própria qualidade de vida, na junção da ampliação das políticas públicas e de
um mercado de trabalho mais acolhedor.
Por mais que a
grande imprensa tente inocular o preconceito contra o PT, fazendo a farra do
mensalão e propalando a corrupção como sua marca mais proeminente não consegue
apagar os efeitos positivos da vida cotidiana da maior parte da população. Esse
é o diferencial histórico, de um país que ainda tem o ranço da escravidão
travado nos dentes. É certo também que a maior parte desse diferencial se deve
a conjuntura da política internacional, que nos favoreceu, e as medidas de
descentralização de renda, que beneficiou uma parcela excluída dos benefícios
da modernidade.
Não pense que
fizemos uma revolução, pois é uma grata ilusão. A riqueza é que foi mais bem
administrada, sem afetar os beneplácitos lusitanos de domínio de classe. Temos
uma elite que não cede aos seus custos imperiais, que torra o dinheiro por puro
prazer do desprezo e se excede em devaneios como se fossem donatários do
Brasil. Nada disso mudou, nem o luxo e nem a luxúria. Talvez o que tenha sido
distribuído foi uma parcela do capital para movimentar o mercado interno, pois
já não vivemos no modelo metropolitano da colônia e da coroa. E a crise mundial
impôs, como os interesses econômicos da Inglaterra em seu tempo, o fim da
escravidão clássica.
É claro que o
PT poderia ter avançado mais, muito mais. Mas o que fez já significa uma
transformação substancial. Os tucanos, do PSDB, ficaram retidos em prover mais
benefícios para sua elite e pequenos e vagos gestos para o que chamavam
populacho. Essa é a diferença. E isso não exclui que muitos líderes petistas se
perderam nas trilhas obscenas da atávica corrupção que é nossa matriz inaugural
desde da colônia, que ficou independente em uma negociação política que nos
marcou pela eternidade pela covardia de mudar os rumos de nossa história. O
povo, esse ser abstrato na boca das elites, nunca existiu como personagem
histórica. Sempre que foi possível, e quase sempre o foi, ficou relegado a
espectador das decisões dos iluminados.
Na verdade, as
nossas lutas populares sempre foram massacradas pela índole autoritária das
nossas elites autoritárias. Hoje, se discute como melhor fazer, mas nunca como
mudar as raízes de dominação que escravizam o povo e tornam a nossa elite a
mais perdulária do mundo. Aqui é o paraíso da exploração social, o país que
ostenta uma das maiores desigualdades do mundo, uma civilização que proibiu por
séculos a criação de universidades e a democracia do saber.
Temos um
passado tenebroso e idolatramos heróis de meia tigela. Esses fartos personagens
de sabedoria e temerosos dos desejos populares. A nossa cultura foi traçada na
incongruência de defender o liberalismo clássico e ocultar a existência da
escravidão humana, a forma mais abjeta de domínio político. Essas gêneses de
nosso modo de viver e agir ficaram entranhadas no inconsciente das elites. O PT
para alçar ao poder teve que fazer acordos com esses cordiais da prudência e
tolerância, pois o povo sempre foi visto como uma força de risco e perigo aos
privilégios acumulados da nossa fauna colonialista.
Também seria
uma ingratidão negar os avanços sociais das últimas décadas e a capacidade de
manter em desenvolvimento, mesmo que ainda não aprofundando e ampliando uma
política consistente de distribuição de renda e visão ecológica.
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