Peço a oportunidade de discordar da tua avaliação e te apresentar as lições de dona Maria Sueli, a catadora de material reciclável mineira. O xingamento à Presidenta tem uma característica muito particular, porque não é uma manifestação política, mas uma explosão raivosa de impotência quase desesperada de um setor da sociedade. Quando a discordância é muito grande e não há condições de fazer o combate em posição vantajosa, a animosidade e a despolitização conduzem ao desespero. Principalmente – e esta é uma questão fundamental – quando lembramos que saímos muito recentemente de uma ditadura que foi alimentada com gosto pela elite nacional. Em que pese toda a virulenta propaganda negativa (é interessante ver a opinião de umajornalista da BBC), os índices de apoio à Presidenta teimam em continuar elevados.
A foto de Dilma altiva, sob o julgamento de um tribunal de exceção, com seus “julgadores” cobrindo o rosto, é histórica. Agora ela é Presidenta da República. Não é fácil essa verdade descer goela abaixo de uma elite que alimentou anos seguidos a repressão política e a violenta exploração, para agora ver o país voltar suas políticas para as questões sociais e a democracia ser efetivamente valorizada, como o faz o decreto sobre a participação popular ou a proposta da reforma política. Dilma é do bem. E o Estadão já disse: isso é inaceitável.
Os colunistas raivosos, em nome dessa elite, destilam ódio todas as semanas, porque a oposição – eu diria infelizmente – não tem propostas, não tem argumentos para destruir o governo Dilma. E o principal receptáculo dessa propaganda é a própria elite, que se retro-alimenta sistematicamente. Essa foi a explosão no estádio. Esse ódio de classe se expressa também na ação das PMs, que reprime a periferia da mesma forma que a elite xinga Dilma no estádio.
Outra coisa é a discordância política radicalizada. As manifestações de junho do ano passado mostraram o que é o descontentamento desorganizado. O povo foi às ruas movido por três forças: a violenta repressão policial em São Paulo, o descontentamento com o valor das passagens – a mobilidade urbana – e a reação à sistemática divulgação de corrupção no governo federal. Nós vimos, então, o que são os verdadeiros black-blocks, jovens principalmente da periferia, explodindo seus ódios incontidos contra a violência policial e contra o sistema que os oprime, ainda que de forma espontânea, incontida e desordenada.
Dona Maria Sueli nos ensina: “se a gente não tem educação, isso não quer dizer que a educação no país anda ruim, mas sim a criação”.
Artur Scavone
Jornalista e estudante de Filosofia na USP
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