Ricardo Giuliani Neto
O ano começa a se despedir, e cá vamos estruturando balanços do acontecido e indagando, do futuro, as previsões do porvir.
Na verdade, acabamos racionalizando os nossos próprios desejos; terminamos por, finalmente, encontrar as razões capazes de nos levar à compreensão de realizações e frustrações. Quando projetamos o futuro, não fazemos nada que não seja expressar nossos desejos.
Já falei por aqui algum dia: o conto está no contado e o contado, no contador. Alguém disse isso, nunca consegui descobrir quem foi. Importa é que penso assim. Só posso falar do mundo a partir das minhas próprias vivências, ou seja, a partir das minhas próprias condições de possibilidade.
Ano trepidante: no mundo do direito, parece que o STF (Supremo Tribunal Federal), como se fala nas minhas bandas, “saiu detrás do toco”. Assumiu posições de uma Suprema Corte. Não importa muito minha opinião sobre a correção do que tenha feito. Importa é que decidiu. Súmulas vinculantes, células tronco, greve nos serviços públicos, habeas corpus pro Dantas, enfrentamento com a Polícia Federal e com o Ministério da Justiça. Decidiu. Certo ou errado, decidiu!
No Senado da República, nepotismos e tropelias a parte, devolveu-se uma medida provisória ao presidente da República e ... acho que foi só isso...
Na Câmara dos Deputados, as tais CPIs, renderam mostra pública sobre os serviços de (des)inteligência no Brasil. Atividades sempre dedicadas ao submundo dos donos do poder ganharam necessários holofotes. A violência das escutas clandestinas passaram a receber debate público e os arapongas selecionados por concurso público foram expostos a um ridículo incapaz de ser medido.
Nas eleições municipais, uma vitória acachapante do presidente Lula e de sua base de apoio no Congresso Nacional. E, é claro, um monte de chiliques dos que detestam o Lula: 80% de popularidade é pra dar chiliques em qualquer um.
O governo federal, de marola em tsunami, surfa como nenhum outro, sustentado numa sólida política econômica e numa postura bonapartista que o presidente da República ostenta para continuar a dispensar a mediação dos partidos políticos com a sociedade.
O PT, atinge seu limite institucional enquanto o PSDB procura descobrir o que é um limite institucional. O PSOL, tomou Protógenes para si e, a cada dia, se udeniza mais; e o PMDB, continua a ser a noiva mais cobiçada do universo brasileiro. A Direita brasileira busca uma cara. A esquerda, em alguma medida, até a cara perdeu.
Em suma, pro meu gosto, tudo bem. Continuamos construindo a democracia brasileira. Muitos e muitos percalços. Muitas e muitas esperanças. Mas há a certeza de que o futuro chegou e chegou para ficar.
Os irmãos do norte elegeram o primeiro negro presidente e Lula é o 18º homem mais influente do planeta. Mais chiliques!!!
Lá vai mais um chilique: mais de 30 milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza. Bah! É de tremer na base!
O capitalismo de face financeira morreu!
Ou não morreu?
O certo é que o Estado, apesar das tormentas de tinta saboreando suas crises, continua forte e visível. A crise do subprime chama à reflexão sobre o futuro capitalismo... É tão certa sua sobrevivência quanto certo é que continuamos pagando a conta pela sua não-morte.
Então, grandes desafios. O maior deles é fazer com que nossas expectativas não se transformem nas expectativas do mundo. Elas são somente nossas. E o mundo poderá ir bem ou mal apesar de nós. Eu quero estar nesse barco hoje e nos próximos 50 anos. O que não quero é me frustrar porque os outros não compartilham o que penso sobre o mundo.
Ter opinião, quase todos temos, mas há um grande desafio a ser vencido, aprender a respeitar a opinião dos outros.
Sugestão de Leitura: De Profundis. Oscar Wilde.
Segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
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