E vem aí a CPI. (Vem?) Mais uma. Tivemos parlamentares tornados heróis em quase todas as CPIs, desde aquela do Collor, nos anos 90. E, quase sempre, heróis de uma CPI se tornaram réus na CPI seguinte. Demóstenes Torres é o mais recente exemplo. Vamos ver no que vai dar essa CPI. Indicado pelo seu PTB, o Senador Fernando Collor é um dos investigadores. Renan Calheiros, do PMDB, é outro. E parece que o Romero Jucá também vai.
Uma forma simples de se evitar que o réu de amanhã seja o herói de hoje é usar as redes sociais. Basta, via internet – Facebook, Twitter – fazer uma pergunta: vocês ai, do estado tal, município tal, conhecem o deputado fulano, o senador Sicrano? Qual é a dele? Só um pouco disso, e muito menos manchetes, teria bastado para mostrar a intimidade de Demóstenes com o bicheiro Cachoeira.
O anúncio da CPI do Cachoeira acirrou os ânimos. Na política e na mídia. Prosperam as teorias, convicções, conspirações… enquanto os fatos apenas engatinham. A CPI é do Cachoeira, mas chovem manchetes sobre o…"Mensalão".
Então, vamos aos fatos. O escândalo conhecido como Mensalão já foi investigado. Está no Supremo Tribunal Federal que deverá julgá-lo ainda esse ano. Espera–se que os culpados sejam condenados e os inocentes, inocentados.
Quem, na oposição ou na Mídia, nessa hora trombeteia o Mensalão, ou é inocente ou está dando bandeira. Indica temer a investigação que vem ai, a do Cachoeira e suas vastas e íntimas relações; relações não só com setores da oposição.
Da mesma forma, erra quem, no PT, antecipa que a CPI do Cachoeira será terreno para um acerto de contas. Erra porque diz isso antes do tempo e erra no tom. O tempo certo é o tempo dos fatos. Sua Senhoria, O Fato. Se eles forem comprovados. Antes de acusar, de insinuar, há que ter provas. Antes, a CPI terá que chegar aos fatos. Antes disso, tudo soa como forçação de barra, ou mera tentativa de pressão contra o julgamento no Supremo. E, da mesma forma, dizer que o Supremo "está sendo pressionado no Mensalão" é também pressão. Pressão pelo outro lado.
Nesse caso Cachoeira, também a mídia está na berlinda. É preciso, então, dizer o que qualquer repórter sabe, ou deveria saber: jornalista não só conversa, como tem a obrigação de conversar com todo mundo. Mesmo com a escória. Às vezes, principalmente com a escória. Para se chegar ao submundo é preciso descer aos esgotos da sociedade. Não é nos conventos, nem em conversas na Irmã Dulce, que se terá informação sobre quem rouba e quem paga. Quem espia e quem não espia. Quem grampeia e quem não grampeia.
Mas é preciso deixar muito claro: o problema não está nas relações, nas conversas PROFISSIONAIS que um jornalista, qualquer jornalista, tenha com gente do crime organizado. O problema passa a existir, SE e QUANDO a mídia se torna ela mesma uma costela, uma alavanca, uma ponta do crime organizado. Se isso acontecer- (e se aconteceu é preciso PROVAR, e não ficar insinuando ) se acontecer… bem …a mídia tem suas prerrogativas, mas não é inimputável.Bob Fernande, na TV Gazeta
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