A CPMI que investigará os negócios do bicheiro Carlos Augusto Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, está acirrando os ânimos da política no Paraná. O surgimento de um e-mail sobre uma suposta reunião entre uma pessoa ligada a Cachoeira e o governador Beto Richa (PSDB) ampliou a rivalidade entre o grupo político liderado pelo tucano e um de seus grandes adversários, o senador Roberto Requião (PMDB-PR). A troca de acusações entre os dois lados tomou tal dimensão que tornou a CPMI foco central da política paranaense.
Os e-mails em questão constrangem o governador Beto Richa. De acordo com reportagem publicada pelo site Congresso em Foco na sexta-feira 20, a troca de mensagens obtida pela Polícia Federal envolve Adriano Aprígio de Souza, ex-cunhado de Cachoeira, e o argentino Roberto Coppola, sócio de Cachoeira na Larami Diversões e Entretenimento Ltda. Dois dias após a eleição de 2010, os dois tratam, segundo a PF, de uma tentativa de aproximação da quadrilha de Cachoeira com os governadores eleitos Silval Barbosa (PMDB), do Mato Grosso, Raimundo Colombo (ex-DEM, hoje no PSD), de Santa Catarina, e Richa. Em uma mistura de português com espanhol, Coppola diz a Adriano, segundo o site, que vai conseguir implantar loterias no Mato Grosso e em Santa Catarina. No Paraná, no entanto, terá dificuldades, pois a loteria foi extinta por uma lei proposta por Requião. “Em Paraná, fale com Beto Richa, o problema é que Requion por ler fecho a loteria e va a demorar, porque tein que facer uma nova lei. Esse filho da p… do Requion hasta que foi embora, incho o saco”. No portunhol de Coppola, a palavra “fale” significaria, aparentemente, falei (de hablé), uma indicação de que o encontro entre com Richa teria ocorrido.
Richa nega o encontro. Segundo a Gazeta do Povo de sábado 22, o governador tucano disse que não recebeu Cachoeira e nem ninguém ligado a ele. “Não tenho nenhuma ligação com essas pessoas, eu não conheço essas pessoas”, afirmou. Diante da negativa de Richa, Requião foi duas vezes ao Plenário do Senado na semana passada pedir que o tucano seja convocado para depor na CPI. “Quero saber o que ele [Richa] discutiu com o tal do Roberto que o cunhado do Cachoeira achou tão bom”, disse Requião a Carta Capital. O senador defende, inclusive, uma acareação entre Coppola e Richa. “Se ele disse que não se encontrou, vamos colocá-los juntos”, disse.
Além de se defender, Richa ataca Requião. Segundo a Gazeta do Povo, quem tem relações com Cachoeira é o atual senador. Requião estaria, diz Richa, “tentando jogar o problema” em seu colo. Em entrevista a Carta Capital, Requião admitiu encontro com Cachoeira. Disse que a reunião foi intermediada pelo ex-senador Maguito Vilela (PMDB-GO) e ocorreu antes de ele assumir o governo do Paraná (em 2003). Ainda segundo Requião, ele e Cachoeira tiveram um atrito. “Eu disse a ele: ‘quero conhecer e olhar na cara do tipo que eu quero ver na cadeia’”, disse Requião. Nesta segunda-feira, Requião fez uma campanha em sua conta no Twitter e em seu site oficial recuperando o noticiário do tempo em que a loteria foi extinta no Paraná. “Eu extingui o jogo, não há ataque possível contra mim”, diz.
A troca de acusações só deve ser resolvida na CPMI do Cachoeira. Requião não fará parte da comissão. A Carta Capital, diz que aceitaria participar apenas se fosse como relator, e não “para fazer figuração”. Assim, quem vai tratar da fração paranaense da investigação são os três parlamentares do Estado confirmados até aqui como titulares na CPMI do Cachoeira: o senador Álvaro Dias (PSDB) e os deputados Rubens Bueno (PPS) e Fernando Francischini (PSDB). O fato de dois deles serem correligionários de Richa não deve facilitar as coisas para o governador tucano. Dias rompeu com Richa nas eleições de 2010 e Francischini fez campanha com a imagem de ser intolerante com a corrupção. Por enquanto, a convocação do governador para depor na CPMI está descartada, mas os parlamentares paranaenses já adiantaram o desejo de ouvir Roberto Coppola. A depender do que o argentino estiver disposto a dizer no Congresso, a briga política no Paraná deve se acirrar ainda mais.
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