terça-feira, 2 de dezembro de 2008

BRIGANDO CONTRA A CRISE

Investimentos das estatais são os maiores dos últimos 14 anos



Em um período cheio de incertezas por conta da crise financeira mundial, portaria publicada hoje no Diário Oficial da União (DOU) aponta que os investimentos realizados pelas empresas estatais brasileiras, até outubro deste ano, são os maiores desde pelo menos 1995 (em valores atualizados). O montante investido nos primeiros dez meses de 2008 é 13% maior na comparação com o mesmo período do ano passado, quando as aplicações também foram recorde e chegaram a R$ 34 bilhões. Dos investimentos realizados este ano, 95,5% do total foi financiado com recursos de geração própria das estatais. De 1995 para cá, as estatais brasileiras investiram R$ 350 bilhões em valores corrigidos pela inflação.

No bimestre setembro/outubro deste ano, as empresas estatais realizaram investimentos de R$ 9,7 bilhões, resultando em um desembolso acumulado no ano de R$ 38,4 bilhões e uma execução de quase 62% em relação à dotação autorizada em orçamento (veja tabela). Para se ter uma idéia do montante de recursos envolvidos, os investimentos das estatais este ano são três vezes maiores que as aplicações orçamentárias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os investimentos das empresas estatais também são 105% superiores aos da União.

E apesar da dúvida sobre a saúde financeira da Petrobras após os empréstimos tomados pela estatal junto à Caixa Econômica, a portaria publicada hoje destaca que os investimentos da empresa continuam a pleno vapor. Entre setembro e outubro, a estatal aplicou R$ 8,7 bilhões na construção, manutenção e aquisição de bens. O valor representa 89% do investimento das 67 estatais com programações para este ano. Com isso, a Petrobras obteve um investimento médio diário de R$ 196,7 milhões.

Até outubro, o Grupo Petrobras aplicou R$ 34 bilhões apenas em investimentos. O número representa 88% de todas as aplicações das estatais neste período e é ainda 82% superior aos investimentos da União, que englobam o Executivo, Legislativo e Judiciário. Isto porque as aplicações em investimentos dos Três Poderes totalizaram R$ 18,7 bilhões até outubro.

Mesmo com o crescimento no montante de investimento, para o economista Evilásio Salvador, especialista em gastos públicos, dizer que o país não sentiu os reflexos da crise econômica é fazer uma análise prematura dos fatos. “O investimento em boa parte das obras já estava comprometido antes dos efeitos da crise. Então é muito cedo dizer se já há um reflexo. Isto só vamos saber daqui a algum tempo”, explica.

Segundo o economista, nos últimos anos tem ocorrido à ascensão dos investimentos, mas que ainda são insuficientes para dizer que o país está entrando na rota do desenvolvimento sustentável. “Tem que aumentar os investimentos para permitir que o país enfrente a crise financeira mundial e para permitir que o país continue crescendo”, adverte.

Vale ressaltar também que os investimentos globais das estatais são responsáveis por uma parcela significativa do PAC. Dos R$ 503,9 bilhões previstos para serem investidos em infra-estrutura no país entre 2007 e 2010, cerca de R$ 436,1 milhões são decorrentes de empresas estatais e da iniciativa privada. Os outros R$ 67,8 bilhões são do Orçamento Geral da União (OGU), aplicados diretamente pela administração federal. Essas companhias contribuem diretamente com investimentos no País e também estão financiando indiretamente os investimentos da União, dos Estados e dos municípios, além de se ajudarem mutuamente, como no empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa à Petrobrás.

Este ano, os investimentos das estatais referem-se à execução de obras e serviços em 372 projetos e 275 atividades tocadas pelas empresas que estão divididas em 58 do setor produtivo e nove empresas do setor financeiro. No que tange a área produtiva, 16 delas pertencem ao Grupo Eletrobrás e 20 ao Grupo Petrobras.

Se comparado ao bimestre julho/agosto, quando foram investidos R$ 7,5 bilhões, ocorreu um aumento real de 16% no bimestre setembro/outubro. Os investimentos realizados neste último bimestre foram os maiores do ano inteiro. Contudo, apesar da evolução expressiva de investimentos, o crescimento não foi satisfatório para fazer as aplicações atingirem o patamar considerado ideal. Se o ritmo alcançado este ano, até o quinto bimestre, persistir, os investimentos ao final do ano das estatais devem chegar a R$ 46,1 bilhões, ou seja, 74% dos recursos autorizados.

Ranking dos ministérios

O Ministério de Minas e Energia, ao qual estão vinculados 89,2% dos investimentos de estatais, realizou 65,4% da programação anual das empresas a ele subordinadas. A pasta aplicou valores equivalentes a 96% do investimento global realizado pelas estatais até o quinto bimestre. Na seqüência aparece o Ministério da Fazenda por cumprir 35,2% de sua programação e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento por cumprir 23,4% do que estava programado para as autarquias vinculadas a ele.

Amanda Costa
Do Contas Abertas

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