19/12/2008 18
André Siqueira
O governo vai anunciar, em janeiro, um novo plano de investimentos em obras de infra-estrutura. Os valores envolvidos dependem de uma revisão das metas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que será ampliado como forma de evitar o desaquecimento da economia. A informação é do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que conversou com CartaCapital sobre as estratégias do governo para amenizar os impactos da crise financeira internacional no Brasil em 2009.
Em meio a uma leva de más notícias, de cortes de postos de trabalho a queda na arrecadação de tributos, foram anunciadas novas medidas, na quarta-feira 17, que podem liberar até 95 bilhões de reais para a economia. A maior parte (quase 87 bilhões de reais) refere-se ao aumento do volume de recursos que os bancos podem emprestar. Além disso, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) terá disponíveis cerca de 8 bilhões de reais para a compra de carteiras de bancos de pequeno e médio porte. Ao aliviar o caixa dessas instituições, o governo espera facilitar a oferta de novos financiamentos, em especial para a venda de automóveis usados.
O conjunto de iniciativas também inclui um corte no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o mercado de caminhões e uma permissão para que a Caixa Econômica Federal passe a financiar atividades de comércio exterior. A idéia, segundo Mantega, é estimular diretamente a economia, tanto pelo lado da oferta quanto pela demanda. As medidas começam a valer no início de janeiro, quando começa a vigor também a nova tabela de Imposto de Renda para as pessoas físicas, que deverá liberar 5 bilhões de reais ao consumo.
O ministro avalia que o Brasil está em melhor situação que a maioria dos países emergentes para enfrentar o primeiro semestre, mas não descarta uma sensível desaceleração da atividade neste período, de até 40% no ritmo atual. Apesar da freada inevitável, Mantega continua a trabalhar com a perspectiva de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 4% no próximo ano.
CartaCapital: O Fed (banco central dos Estados Unidos) baixou o juro para próximo de zero. Isso não mostra que, mais uma vez, o Brasil perdeu uma oportunidade de baixar o custo do dinheiro?
Guido Mantega: Cada país tem uma realidade diferente. Estamos muito mais bem posicionados que os EUA nesta crise. Eles já estão em recessão, as perspectivas lá são bastante pessimistas. O Brasil é um dos últimos países a começar a desaceleração econômica. Mesmo se nos compararmos aos demais emergentes, todos eles começaram a desacelerar no início do ano. A gente entra na parte mais dura da crise com uma musculatura que adquirimos pelo dinamismo da economia nos últimos anos. Temos reservas e instrumentos que podemos utilizar agora. Certamente, não vamos fazer o mesmo que os americanos nem os europeus. Eles estão tomando medidas de desespero, nós não. Nossas medidas são para neutralizar os impactos da crise no Brasil e sustentar o ciclo de desenvolvimento.
CC: Os indicadores de outubro revelam queda na produção industrial e na arrecadação tributária.
GM: Até setembro estava uma beleza. PIB de quase 7%, investimento batendo em 20% e o mercado consumidor firme e forte, em torno de 14% de crescimento no ano, sobre igual período do ano passado. Esse é o nosso ponto de partida, bastante favorável. Haverá uma desaceleração a partir desse ponto. Sentimos isso na demanda, e uma das vantagens do Brasil é o mercado interno. Haverá uma acomodação em um patamar mais baixo. A PMC (Pesquisa Mensal de Comércio, do IBGE), que inclui o setor automobilístico e de construção, diz que caímos de 14% para 12,7%. Esses dois setores são praticamente os únicos que tiveram queda, porque os demais estão em patamar bastante favorável. Vamos ter desaceleração? Vamos. Vamos ter redução de crédito, de consumo, de investimento? Não há dúvida. Só que dentro de uma economia fortalecida, o que significa cair de 6% para 4% e perder entre 30% e 40% do crescimento.
CC: Muitos economistas consideram que o governo trabalha com uma expectativa muito otimista. Fala-se até em recessão em 2009.
GM: Quem fala em recessão, que vamos crescer zero no próximo ano, não sabe o que diz. É o caso da projeção da Goldman Sachs. Se eles entendessem de economia, não estariam com prejuízo e nem teriam de passar por uma transformação de banco de investimento em banco comercial para receber ajuda do governo americano. Teriam tido melhor sorte. Essas análises não valem nada. O governo vai continuar a responder aos problemas surgidos. Faltou crédito, a gente injetou compulsório. As taxas de juro subiram, a gente está abaixando. Os bancos públicos estão entrando com juros mais baixos, soltando mais crédito. Reduzimos o IOF para o crédito de pessoa física e o IPI na venda de veículos. O custo financeiro vai cair o suficiente para dar o impulso que precisamos para manter a demanda. Essas medidas surtiram efeito já no fim da semana. Houve forte aumento na venda de veículos e até usados foram vendidos.
CC: Há novas medidas de estímulo à economia guardadas para o novo ano?
GM: O que temos não é uma medida, é um programa de grande porte, que vai ampliar as metas de habitação, saneamento, construção civil, obras contratadas pelo governo na área de infra-estrutura. Vamos aumentar o programa de investimentos que temos, que é o PAC. Ele está funcionando e será mantido, mas vai ser reforçado. Nós estamos ainda gestando esse programa.
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