Qualquer acordo que Kassab fizer com Serra em relação às eleições de 2014 irá pelo ralo em caso de derrota em São Paulo. Dificilmente Alckmin considerará pagar essa conta – por absoluta desobrigação de ser leal a Serra ou a Kassab, e também por uma vocação bastante aproximada à de Serra ao rancor. Dois tucanos bicudos não se bicam.
Maria Inês Nassif
Embora a história recente aponte que sim, não existe nenhuma normalidade no fato de o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), optar por fechar uma aliança com o ex-prefeito, ex-governador e ex-candidato a presidente da República tucano José Serra. Ao contrário, essa decisão, do ponto de vista político, é um ponto fora da curva.
Em primeiro lugar, porque simplesmente contraria a tática de sobrevivência do recém-criado Partido Social Democrata (PSD). Inicialmente imaginado por Kassab como um “plano B” para Serra, que havia deixado muitas sequelas no PSDB no período eleitoral do ano passado e praticamente inviabilizado um acordo futuro com o DEM, o novo partido acabou instrumentalizado pelos integrantes do ex-PFL que tentavam um caminho menos humilhante de adesão ao governo petista.
O diagnóstico da grande maioria dos demistas que afluíram ao PSD é que eles não teriam condições de sobrevivência no governo; o entendimento de boa parte deles é o de que Serra, não apenas pela derrota eleitoral sofrida para a candidata do PT, Dilma Rousseff, mas principalmente por sua capacidade desagregadora, havia comprometido seriamente as chances de uma oposição já enfraquecida por três derrotas sucessivas na disputa presidencial.
Não foram os aderentes ao PSD que tiveram de se adaptar às razões de Kassab, mas o prefeito que foi obrigado a se adequar ao perfil que o partido assumia. O PSD acabou se tornando “o partido de Kassab” porque, no momento, ele é o seu mais visível integrante, na qualidade de prefeito da maior capital do país. Em janeiro, perde o mandato. E tem grandes chances de perder a eleição deste ano se apoiar a candidatura de José Serra à prefeitura. Até lá, outros pessedistas podem ter ganhado lugar ao sol com as alianças que fizeram, Brasil afora, com os partidos da base governista de Dilma.
São Paulo volta a ser um problema para os ex-integrantes do PFL, que só conseguiram um lugar ao sol no Estado no curto período de duas alianças vitoriosas com José Serra para a prefeitura da capital. Kassab passa a mesma importância que tinha no PFL antes de ser vice de Serra nas eleições de 2004 para o PSD nacional, ou seja, muito pouca.
Nas eleições de 2004, Kassab foi vice de Serra; assumiu a prefeitura quando o tucano deixou o cargo para candidatar-se ao governo do Estado, em 2008. Em 2010, Kassab apenas conseguiu a vitória porque teve o apoio de Serra, que então era não apenas hegemônico no seu partido, mas tinha a máquina estadual nas mãos e enorme simpatia da classe média conservadora paulistana. Serra abandonou o candidato de seu partido, Geraldo Alckmin, às moscas, e subiu no palanque de Kassab. Era o projeto de ter novamente o PFL em seu palanque nas eleições presidenciais do ano passado. Alckmin, contrariando a tradição do PSDB na capital, sequer chegou ao segundo turno. Quem polarizou com o PT foi Kassab, a cria de Serra. Mas Alckmin manteve a sua força no interior do Estado, o que fez dele o governador quando Serra deixou o Palácio dos Bandeirantes para se candidatar à Presidência.
Ter Serra no palanque para a prefeitura, em 2008, valeria a lealdade de Kassab, mas muita água rolou por baixo da ponte. A sua lealdade passou a ser um alto risco político. Se Serra perder (o que é altamente provável) a eleição para a capital, Kassab se enterra junto com ele, se indispõe com o PT local (que a contragosto baixou seu antikassabismo enquanto o PSD era uma possibilidade de quebrar a hegemonia tucana no Estado) e perde a liderança nacional do novo partido, que se joga nos braços dos aliados a Dilma Rousseff no resto do país. Qualquer acordo que fizer com Serra em relação às eleições de 2014 irá pelo ralo em caso de derrota. Dificilmente Alckmin considerará pagar essa conta – por absoluta desobrigação de ser leal a Serra ou a Kassab, e também por uma vocação bastante aproximada à de Serra ao rancor. Dois tucanos bicudos não se bicam.
Em primeiro lugar, porque simplesmente contraria a tática de sobrevivência do recém-criado Partido Social Democrata (PSD). Inicialmente imaginado por Kassab como um “plano B” para Serra, que havia deixado muitas sequelas no PSDB no período eleitoral do ano passado e praticamente inviabilizado um acordo futuro com o DEM, o novo partido acabou instrumentalizado pelos integrantes do ex-PFL que tentavam um caminho menos humilhante de adesão ao governo petista.
O diagnóstico da grande maioria dos demistas que afluíram ao PSD é que eles não teriam condições de sobrevivência no governo; o entendimento de boa parte deles é o de que Serra, não apenas pela derrota eleitoral sofrida para a candidata do PT, Dilma Rousseff, mas principalmente por sua capacidade desagregadora, havia comprometido seriamente as chances de uma oposição já enfraquecida por três derrotas sucessivas na disputa presidencial.
Não foram os aderentes ao PSD que tiveram de se adaptar às razões de Kassab, mas o prefeito que foi obrigado a se adequar ao perfil que o partido assumia. O PSD acabou se tornando “o partido de Kassab” porque, no momento, ele é o seu mais visível integrante, na qualidade de prefeito da maior capital do país. Em janeiro, perde o mandato. E tem grandes chances de perder a eleição deste ano se apoiar a candidatura de José Serra à prefeitura. Até lá, outros pessedistas podem ter ganhado lugar ao sol com as alianças que fizeram, Brasil afora, com os partidos da base governista de Dilma.
São Paulo volta a ser um problema para os ex-integrantes do PFL, que só conseguiram um lugar ao sol no Estado no curto período de duas alianças vitoriosas com José Serra para a prefeitura da capital. Kassab passa a mesma importância que tinha no PFL antes de ser vice de Serra nas eleições de 2004 para o PSD nacional, ou seja, muito pouca.
Nas eleições de 2004, Kassab foi vice de Serra; assumiu a prefeitura quando o tucano deixou o cargo para candidatar-se ao governo do Estado, em 2008. Em 2010, Kassab apenas conseguiu a vitória porque teve o apoio de Serra, que então era não apenas hegemônico no seu partido, mas tinha a máquina estadual nas mãos e enorme simpatia da classe média conservadora paulistana. Serra abandonou o candidato de seu partido, Geraldo Alckmin, às moscas, e subiu no palanque de Kassab. Era o projeto de ter novamente o PFL em seu palanque nas eleições presidenciais do ano passado. Alckmin, contrariando a tradição do PSDB na capital, sequer chegou ao segundo turno. Quem polarizou com o PT foi Kassab, a cria de Serra. Mas Alckmin manteve a sua força no interior do Estado, o que fez dele o governador quando Serra deixou o Palácio dos Bandeirantes para se candidatar à Presidência.
Ter Serra no palanque para a prefeitura, em 2008, valeria a lealdade de Kassab, mas muita água rolou por baixo da ponte. A sua lealdade passou a ser um alto risco político. Se Serra perder (o que é altamente provável) a eleição para a capital, Kassab se enterra junto com ele, se indispõe com o PT local (que a contragosto baixou seu antikassabismo enquanto o PSD era uma possibilidade de quebrar a hegemonia tucana no Estado) e perde a liderança nacional do novo partido, que se joga nos braços dos aliados a Dilma Rousseff no resto do país. Qualquer acordo que fizer com Serra em relação às eleições de 2014 irá pelo ralo em caso de derrota. Dificilmente Alckmin considerará pagar essa conta – por absoluta desobrigação de ser leal a Serra ou a Kassab, e também por uma vocação bastante aproximada à de Serra ao rancor. Dois tucanos bicudos não se bicam.
(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.
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