Num mundo longe, muito longe daqui existe uma republiqueta de bananas chamada Nelhures, onde vive um jovem bastante garboso e um tanto farrista
Num mundo longe, muito longe daqui existe uma republiqueta de bananas chamada Nelhures, onde vive um jovem bastante garboso e um tanto farrista que atende pelo nome de Nécio Snows. Neto de um eminente político já falecido, e originário da montanhosa "Terra do Leite", Snows anda espalhando aos quatro ventos, junto aos porta-vozes da Corte, o seu desejo e "vocação" para governar Nelhures. Pura molecagem do jovem Nécio, decerto: é que em verdade o que ele gosta mesmo é de badalar e flanar na maravilhosa cidade praiana do Redentor, onde é visto, quase sempre trôpego, dando generosas gorjetas de 100 dinares aos gentios.
Nessa vã empreitada, Nécio Snows segue de mãos dadas e escudado por uma outrora grande personalidade desse país fabuloso que, quis o caprichoso e cruel destino, foi transformada em velho estandarte malsão, donairoso "espantalho", distinto narcisista, sofista sofisticado capaz de mentir em várias línguas, espécie de boneco assombrado deslocado de alguma das plantações comprometidas pelas pragas do liberalismo mais rastaquera que infestou os insondáveis Campos Uspianos, bem como de outras plagas, e que agora (re)começa a percorrer os descaminhos da longínqua Nelhures, mas notadamente a cidade do Redentor, onde fica a sede da Rede Bobo de Televisão, que tem sido desde sempre porta-voz de todos os candidatos bem nascidos – os chamados "filhos da riqueza".
A esses dois valentes e destemidos aventureiros em sua jornada por Nelhures juntaram-se outros cavaleiros de tempos idos, salteadores da coisa pública: Têdro Malão e Arlindo Flagra. Ou seja, o Nécio já está em muito boa companhia nessa sua desgraçada saga de cavaleiro de triste figura predestinado ao malogro.
Pisam impávidos em terras outrora por eles devastadas, hoje a muito custo e trabalho recompostas, com a desfaçatez e altivez tranquila de predadores retomando a caçada – como se não lhes dissesse respeito toda destruição por eles causada.
Dizem os anciões de Nelhures que, em verdade, o Sr. Espantalho, que acompanha Nécio nessa sua tresloucada aventura, é um ex-mandatário daqueles tristes trópicos. Recebera esse "título", nada honorífico, porque fizera um governo, para muitos desastroso, em tempos já olvidados. E que até os seus correligionários, que agora pretendem sua redenção tardia, fugiam dele como o diabo da cruz. Vendera aos "privados" – nacionais e estrangeiros – quase todas as riquezas dessa pobre-rica republiqueta, num episódio deplorável que ficou registrado nos livros de História como "Privataria". E assim enriquecera os seus principais áulicos e súditos.
Dizem ainda os sábios anciões que nesses tempos os juros eram estratosféricos, com muitos pais de família desempregados; os órgãos do Estado, instituições e aparelhos públicos, sucateados; não havia crédito para financiamento das empresas e das famílias, pois os juros cobrados eram, como já dito e sabido, altíssimos; os pobres não tinham acesso a adquirir carros ou viajar de avião, sequer podiam comer carne; entre outros horrores e desastres, hoje inimagináveis. Mas isso é o que dizem os mais velhos, pois os mais novos desconhecem tempos tão terríveis.
Mas o pior adversário do imberbe Nécio Snows, além dos seus próprios pecados, fraquezas e das más companhias, está em suas próprias hostes. Trata-se do sorrateiro Gollum-Smeágle, um ser ordinário, importado de outra famosa e fabulosa história. Smeagle é um ser "não vivente", espécie de morto-vivo que rasteja errante pelas paisagens subterrâneas e inóspitas, nos submundos da prolífica, fértil e venturosa Terra do Café – hoje em pleno processo de devastação pelos correligionários de Nécio, Malão e Flagra.
Gollum-Smeágle, aliás, é um personagem que mereceria um capítulo à parte nessa nossa "fábula". É um ser esquisito, de difícil descrição. Um indivíduo "direitoso e muito do feioso" – abespinham-se alguns. Parece sofrer de algum distúrbio de personalidade, pois num dado instante, é bom; no outro, ruim. Num momento ele é de esquerda; já no outro, de direita. Dizem que tem parte com o "capiroto", com o "coisa-ruim". Mas isso deve fazer parte da lenda ou folclore que cerca essa abjeta criatura dos infernos.
Dizem ainda as más línguas que o Sr. Espantalho se uniu a essa aventura errante e inconsequente do jovem farrista Nécio num ato último de sua peculiar e incontrolável vaidade – seria um último esforço para salvar sua arruinada biografia. Mas isso é o que dizem os injustos e os maledicentes.
Ainda bem, para o nosso gáudio e fortuna, que não vivemos em Nelhures e mais: que essa história toda não passa de uma fábula ordinária, que saiu da mente de um escritor não menos ordinário.
Então, para a felicidade geral da Nação, está tudo calmo, sereno e tranquilo em "Nelhures".
A história entrou por uma porta e saiu pela outra. E quem quiser que conte outra – ou melhor, que conte a sua versão da história, digo da "fábula".
N.A.: Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações terá sido mera coincidência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário