A internet é algo fenomenal. Ao mesmo tempo em que encurta distâncias, informa, dissemina cultura e informação, também é capaz de expor o que o ser humano tem de melhor... e de pior. Basta ter uma opinião contrária à manada e pronto: a execração pública é regra. Ninguém é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas um mínimo de respeito é de bom tom.
¶A internet é algo fenomenal. Ao mesmo tempo em que encurta distâncias, informa, dissemina cultura e informação, também é capaz de expor o que o ser humano tem de melhor...e de pior. E o exemplo mais claro disto está nos comentários em torno de qualquer assunto. Basta ter uma opinião contrária à manada e pronto: a execração pública é regra. Ninguém é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas um mínimo de respeito é de bom tom. Os exemplos são inúmeros.
No mais recente, a recente tragédia que vitimou mais de 230 jovens em um incêndio em Santa Maria (RS) serviu para explicitar o que o ser humano tem de pior. Em meio às declarações de dor, apoio e solidariedade houve gente capaz de postar ‘Isso não pode ser verdade. O meu Rio Grande não merece isso. Se fosse no Amazonas, Piauí, na Bahia, no Ceará, onde não há vida inteligente, tudo bem. Mas no meu Rio Grande e logo na cidade do meu falecido pai é de cortar o coração. Estou de luto”, postou Patricia Anible. Ou outra que postou no Twitter que “O povo do sul não ama churrasco? Está tendo um monte lá em Santa Maria”... e vai por aí.
Quer dizer que a vida de alguém que mora nas regiões Norte e Nordeste vale menos que alguém que mora no Sul ou Sudeste? Ou que alguém pode tripudiar sobre a tragédia que comoveu não apenas um país, mas o mundo – vide as mensagens de apoio e solidariedade emitidas por representantes dos mais diversos credos e países e por figuras públicas e anônimas – sem ao menos pensar naquilo que escreve? É fácil se esconder na Internet, ser um “ativista de sofá” ou um “cabeçóide” ou até mesmo dizer o que realmente se é – um preconceituoso sem escrúpulos ou algo semelhante – através do anonimato da grande rede.
Ah, detalhe, os nordestinos, os pernambucanos, diga-se de passagem, foram os primeiros a disponibilizar pele humana para ser utilizada em transplantes dos feridos na tragédia gaúcha. E isto feito justamente por um “povinho de segunda e que não merece nem viver”, segundo a opinião de muitos dos que acham que vivem em um mundo à parte, formado por uma elite que arvora para si a eugenia como um fator de diferenciação.
Nesta seara sobrou até para o ex-presidente Lula, que ao emitir uma nota de solidariedade e condolências foi taxado, tanto por anônimos que não gostam dele por alguma razão como por jornalistas que viram no fato um viés político, evidenciando que o mesmo “não tem limites”. E desde quando um cidadão – sim, ele é um cidadão quer se goste ou não – não pode manifestar suas condolências como qualquer outra pessoa? O que não pode e nem se deve é dizer que tudo o que ele espera desta situação é tirar proveito político. E vem mais, desta vez por parte dos cabeçóides e ativistas de sofá: “A culpa é do PT. Onde tem PT tem ladrão” e vai por aí.
O deputado federal Jean Wyllis (PSB-RJ) sabe no couro o que é ser alvo deste tipo de ataque. Ao se posicionar em favor do direito dos homossexuais, na defesa da separação entre Igreja e Estado, ao defender direitos trabalhistas para as prostitutas ou mesmo ao dizer que pretende adotar um filho, apanhou mais que cachorro amarrado em poste. Desde comentários explícitos contra sua orientação sexual e o seu posicionamento, boa parte do que se viu postado por trás do anonimato foram declarações carregadas de preconceito e ameaças. Sim, até mesmo ameaças de morte lhe foram feitas.
Ora, o seu papel como parlamentar é defender ideias de uma parcela da sociedade que também pensa assim. Da mesma forma o deputado de ultradireita Jair Bolsonaro (PP-RJ) tem o mesmo direito de defender suas ideias contrárias ao aborto ou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Eles foram eleitos para isso. Pode-se discordar de suas opiniões e posições, mas nunca agredir de forma pessoal um ou outro e, da pior forma possível, de forma anônima e covarde.
O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, é outro alvo. Nordestino e potencial pré-candidato à Presidência da República é alvo de radicalismos tanto de esquerda como de direita. E novamente, os ataques não ficam no plano ideológico-partidário, mas descambam para o preconceito pura e simples: “É mais um nordestino como o Lula”, “rola-bosta”, nesta onda sobra até para quem se posiciona contra a “manada”. “vendido”, “corno”, “baba ovo”, são alguns dos adjetivos encontrados facilmente nos comentários postados na internet. Discordar é normal e saudável, agredir é dar vazão a uma carga de preconceito que mais do que mostrar a falta de argumentos denota o caráter do autor.
Internet é um território livre? Livre, mas nem tanto. É preciso regras mínimas, daquelas que se aprende em casa, na educação doméstica fornecida por pais, mães, famílias e que um dia repassaremos aos nossos filhos e netos. Educação vem de berço. Saber se posicionar, colocar suas opiniões e não estimular o preconceito ou a violência também faz parte daquilo que se chama educação. Caso nós, sociedade e “postadores” não tenhamos noção disto estaremos fazendo aquilo que, de forma explícita, condenamos e qualificamos como racismo, preconceito, falta de caráter ou simplesmente falta de educação.
Ameaças, piadas, tripudiar com a dor alheia, preconceito, racismo, como temos visto virar regra no limbo da internet e do anonimato que ela proporciona é algo lamentável e que, infelizmente, parece estar virando a regra geral.
3 comentários:
Os humilhados serão exaltados.
Nós nordestinos, sempre prontos para ajudar os coitados, que se acham tão superiores, mas precisam sempre de nós.
Os humilhados serão exaltados.
Nós nordestinos estaremos sempre ajudando esses coitados que sempre precisam de nós.
Os humilhados serão exaltados.
Nós nordestinos, sempre prontos para ajudar os coitados, que se acham tão superiores, mas precisam sempre de nós.
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