Por
Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
O procurador-geral da República, Roberto Monteiro Gurgel Santos, calado poderia ser um grande procurador ou um poeta. Entretanto, ele é um ser midiático, e, quando vê uma caneta e um bloquinho ou um microfone e uma câmera, começa a deitar falação. É uma questão de ego. Jornalistas da imprensa de negócios privados são irresistíveis para o “zeloso” procurador quando se trata de falar do PT, do Governo trabalhista, do Lula, do Dirceu e do Genoíno.
Contudo,
quando se trata de falar do mensalão tucano, da lista de Furnas, das operações
da Polícia Federal, conhecidas como Vegas e Monte Carlo, do senador cassado do
DEM, Demóstenes Torres, do bicheiro Carlinhos Cachoeira e dos ex-editores-chefes
das revistas Veja e Época das sucursais de Brasília, e que se envolveram até o
pescoço com o bicheiro formulador de pautas, o condestável Roberto Gurgel se
cala, evita a mídia de mercado e se torna, de fato, um procurador-geral, que
trata as coisas de estado com acuidade.
Age
desse modo porque, talvez, ele esteja a investigar esses casos que envolvem a
oposição partidária (PSDB, DEM e PPS) e midiática (Globo, Folha, Estadão e Veja)
e por isso necessita de silêncio e discrição para, quem sabe um dia, fazer as
denúncias cabíveis. Enquanto esse imbróglio todo não anda, Gurgel aproveita seu
tempo (quando sobra tempo) para dar entrevistas, desastradas, diga-se de
passagem, e se contradiz, sem, contudo, preocupar-se com suas incoerências,
afinal ele é o chefe dos procuradores e por isso, aparentemente, considera-se um
ser infalível porque, quem sabe, vocacionado à imortalidade.
Sua
entrevista à Folha de S. Paulo — aquele jornal de direita que compactuou com a
ditadura militar — é uma ode à incongruência, pois que, tal qual como afirmou
logo no início do julgamento do “mensalão” do PT, que ainda está para ser
comprovado judicialmente, “as provas contra José Dirceu são tênues”. O
procurador reconheceu. E daí? O negócio é fazer oposição aos trabalhistas mesmo
se o preço for alto e a Constituição e o Código Penal forem
rasgados.
Não
é que o poderoso procurador-geral da República afirmou sobre José Dirceu, de
viva voz e a quem quiser ouvir, que “Não é prova direta. Em nenhum momento,
nós apresentamos ele passando recibo sobre uma determinada quantia ou uma ordem
escrita dele para que tal pagamento fosse feito ao partido ‘X’, com a finalidade
de angariar apoio do governo. Nós apresentamos uma prova que evidenciava que ele
estava, sim, no topo dessa organização criminosa”. Seria cômico se não fosse
trágico e não interferisse na vida de pessoas que foram punidas com a cadeia,
sem, no entanto, existir provas cabais e que, indelevelmente, comprovassem que
os réus cometeram malfeitos.
Não
foi à toa que tal procurador disse, volto a repetir, que as “provas eram
tênues”. Gurgel sabe o que diz e sabe muito bem o que faz. E ele faz, com
competência, política partidária, sem, no entanto, ter mandato parlamentar, ser
filiado a um partido (acho) e muito menos passar pelo crivo das eleições, que
são duras e desgastantes. O procurador foi nomeado em uma lista tríplice pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, republicano, atendeu o desejo da
categoria. Grande erro e engano. Os cargos de juízes do STF e de
procurador-geral de República são, sobretudo, políticos e não técnicos, como
quer demonstrar, hipocritamente, a imprensa comercial e privada, de direita e de
caráter historicamente golpista.
Tanto
os são políticos que as frases de efeito, as acusações e o comportamento da
maioria dos juízes do STF tinham, indubitavelmente, o propósito de colocar o PT
e o Governo trabalhista nas cordas do ringue, ainda mais quando se trata de
pessoas e militantes da grandeza política e histórica de José Dirceu e José
Genoíno. Não esqueçamos que a eleição para a Presidência está próxima, em 2014,
e a direita brasileira, herdeira da escravidão e uma das mais conservadoras e
cruéis do mundo já sente urticárias em só pensar que poderá ficar mais quatro
anos sem controlar o estado nacional, e, consequentemente, voltar a utilizá-lo
de forma patrimonialista, como sempre fez e aconteceu através dos 513 anos da
história do Brasil.
Cargos
políticos, afirmo sem qualquer dúvida, têm de ser preenchidos por aliados ou por
pessoas que compreendam e sejam sensíveis ao programa e ao projeto do mandatário
que ocupa a cadeira da Presidência da República e nomeia seu Ministério. Afinal
sabemos o que a direita política, judiciária e empresarial combate e dissimula e
confunde a população, por intermédio de seus meios de comunicação hegemônicos,
que distorcem e manipulam os fatos e as realidades. A direita não quer,
terminantemente, a emancipação do povo brasileiro. E nunca vai querer.
Ponto.
Acontece
que o programa de governo e o projeto de País dos trabalhistas foram aprovados e
referendados pelo sufrágio universal — o voto popular, a procuração mais
importante da República, do processo democrático e do estado democrático de
direito. Lula e Dilma se equivocaram, solenemente, e hoje têm de enfrentar um
sistema midiático de oposição sistemática e por isso irracional, que se recusa a
pensar o Brasil, cujos homens e mulheres da imprensa corporativa são colonizados
e que têm desprezo e até ódio pelo Brasil, porque são portadores de
incomensuráveis complexos de vira-latas, que os levam às raias da incongruência,
da desfaçatez, da intolerância e de toda ordem de criação de crises, a maioria
sem provas, pois se baseiam em ilações irresponsáveis, denúncias vazias e muitas
delas em off, que, comprovadamente, não dão em nada. É o verdadeiro e autêntico
jornalismo de esgoto, que se baseia em faits divers. É o fim da picada.
O
condestável procurador disse ainda à Folha que o “esquema {do “mensalão”} foi
bem maior do que se sabe e que o julgamento do STF incluiu apenas aquilo que foi
possível comprovar”. Como assim, cara-pálida? O procurador Gurgel tem cinco
anos para investigar e apurar os fatos, fazer as acusações e mesmo assim deixa
no ar acusações sem provas? É a continuação do “domínio do fato”? Subterfúgio
jurídico usado pela maioria dos juízes conservadores do Supremo para pôr na
cadeia pessoas cujas provas não foram, de fato, comprovadas. Provas “tênues”,
como já tinha afirmado o senhor procurador.
Além
disso, a Ação Penal 470 é posterior ao mensalão tucano, que até hoje não foi
julgado apesar de ter acontecido anteriormente ao do PT. Dois pesos e duas
medidas. É assim que a banda toca no Supremo, que, ao que parece, é pautado pela
imprensa alienígena que tomou para si, indevidamente e de maneira surreal, o
papel de oposição {partidária} no Brasil. É para rir ou para chorar? A verdade é
que as declarações de Roberto Gurgel deixam claro que nunca houve provas
suficientes e contundentes contra os réus do “mensalão” — o do PT. Quem duvida
que leia a entrevista concedida à Folha pelo procurador-geral, de vocação
midiática e perfil político conservador, de direita.
A
imprensa alienígena sozinha não derrota o PT e os trabalhistas nas eleições
vindouras. A corrida às prefeituras deste ano comprovou essa realidade, afinal o
PT vai governar a maioria dos brasileiros em termos populacionais, além de
conquistar a cidade de São Paulo. Essa gente sabe disso, e por isso não dá ponto
sem nó. É visível a aliança entre o Judiciário conservador e os barões da
imprensa, categoria patronal mais atrasada e reacionária do segmento empresarial
brasileiro. Por eles, a escravidão voltaria, e o povo brasileiro jamais
conseguiria conquistar sua emancipação e autonomia.
O
procurador-geral Roberto Gurgel está para finalizar seu mandato. A presidenta
Dilma Rousseff tem de nomear para seu lugar um procurador que trabalhe de
maneira independente; porém, sem se imiscuir em devaneios políticos e
partidários. A verdade é que os cargos de procurador-geral e principalmente de
juiz do STF deveriam ser preenchidos por meio de eleições. Juízes do STF
deveriam ter mandatos de oito anos, como os são dos senadores. Enquanto isso não
acontece, seria de bom alvitre a presidenta da República nomear autoridades do
Judiciário de perfis progressistas. Esses cargos não são técnicos como quer
fazer crer a imprensa de negócios privados. São cargos políticos. É isso
aí.
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