Repórteres sem Fronteiras publicam relatório intitulado "Brasil, o país dos 30 Berlusconi", em referência ao ex-primeiro-ministro italiano, dono de um império de comunicação na Itália. Segundo o documento, a "topografia midiática" brasileira pouco mudou desde o fim da ditadura. "O Brasil apresenta um nível de concentração de mídia que contrasta totalmente com o potencial de seu território e a extrema diversidade de sua sociedade civil", diz a ONG
¶247 - Um relatório da ONG Repórteres sem Fronteiras divulgado nesta quinta-feira defeniu o Brasil como "o país dos 30 Berlusconis", numa crítica à concentração dos veículos de comunicação do país em poucas mãos. "O Brasil apresenta um nível de concentração de mídia que contrasta totalmente com o potencial de seu território e a extrema diversidade de sua sociedade civil", analisa a ONG de defesa da liberdade de imprensa. "O colosso parece ter permanecido impávido no que diz respeito ao pluralismo, um quarto de século depois da volta da democracia", destaca a RSF (o relatório pode ser lido na íntegra
aqui).
O relatório foi composto após visitas de membros da ONG a Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo o RSF, "a topografia midiática do país que vai receber a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 pouco mudou nas três décadas que sucederam a ditadura militar de 1964-1985". O documento destaca que as 10 maiores companhias de mídia do país estão baseadas em São Paulo ou Rio de Janeiro, o que "enfraquece a mídia regional".
"A independência editorial da mídia impressa e transmitida e minada pela pesada dependência de propaganda do governo e suas agências", analisa o relatório, que destaca que, em 2012, houve 11 jornalistas mortos no país. Segundo a ONG, um dos problemas endêmicos do setor da informação no Brasil é a figura do magnata da imprensa, que "está na origem da grande dependência da mídia em relação aos centros de poder". "Dez principais grupos econômicos, de origem familiar, continuam repartindo o mercado da comunicação de massas", lamenta a RSF.
Segundo a ONG, outro problema no Brasil é a censura na internet, com denúncias que levaram ao fechamento de blogs durante as eleições municipais de 2012. O documento cita o caso do diretor do Google Brasil, Fábio José Silva Coelho, que ficou preso brevemente por não retirar do YouTube um vídeo que teoricamente atacava um candidato a prefeito. Coelho foi preso pela Polícia Federal em setembro passado a pedido do candidato a prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal.
Para reequilibrar o cenário da mídia brasileira, a Repórteres Sem Fronteiras recomenda reformar a legislação sobre a propriedade de grandes grupos e seu financiamento com publicidade oficial. Além disso, a ONG sugere a melhoria da atribuição de frequências audiovisuais, para favorecer os meios de comunicação, e um novo sistema de sanções que não inclua o fechamento de mídias ou páginas, entre outras medidas.
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