sábado, 2 de agosto de 2014

Eduardo Campos não é o novo Collor, ele sonha mesmo é ser o novo Sarney

Eduardo Campos e José Sarney. O mesmo discurso em épocas diferentes
Jornalistas experientes, como Renata Lo Prete, ex-Folha de São Paulo e, hoje, na Globo News, com pouquíssimo tempo de observação, já são capazes de diagnosticar o quanto o discurso de Eduardo Campos não suporta o insustentável peso do não ser, com a devida licença de Kundera.

Durante menos de uma hora de entrevista com o presidenciável, Lo Prete foi capaz de questioná-lo sobre uma infinidade de contradições que jorram de seu falatório, construído meio que de improviso, de um ano para cá, desde que resolveu incorporar o mote da chamada “Nova Política”, da companheira de chapa, Marina Silva, como carro-chefe de seu
discurso como terceira via nas eleições presidenciais, deste ano.

Ocorre, porém, que o discurso da “Nova Política”, para Campos, nada mais é que um improviso, como se fora a pedra filosofal, tão buscada pelos alquimistas, mas que não passa, a bem da verdade, de uma quimera, um truque, tirado de uma cartola desgastada antes do previsto, por excesso e abuso de uso e que, como tal, não resiste ao olhar atento de observadores mais cuidadosos.

Logo no início da entrevista, exibida ontem à noite, pela Globo News, como a terceira de uma série, em que já foram ouvidos os também candidatos Aécio Neves, do PSDB e Dilma Rousseff, do PT, Renata Lo Prete questiona Eduardo Campos sobre os motivos de ter mudado sua opinião quanto ao apoio à reeleição da presidenta Dilma, posto que, há pouquíssimo tempo, esse apoio era manifestado publicamente, com Campos, inclusive, mantendo cargos de alto escalão no governo federal.

Logo aí, Campos saca da manga aquela carta que veio a se tornar uma espécie de curinga, que serve para justificar todos os seus atos e omissões, desde que resolveu assumir a candidatura presidencial: a Nova Política. Segundo Campos, Dilma pratica a Velha Política, principalmente ao se associar com o PMDB, que, segundo o ex-governador, seria o reduto das piores raposas de nossa República.

Sarney de braços dados com o ex-ministro FBC,
candidato ao Senado, pelo PSB de Pernambuco
Campos, entretanto, não explica, nem jamais explicará o porquê de somente ter percebido que o PMDB era representante da Nova Política, depois de passar os últimos 11 anos aliado com o PT e o PMDB, no plano nacional, formando o mesmo governo presidencialista de coalisão, que agora ele afirma ser tão danoso ao país e do qual promete se desvencilhar tão somente com o apoio popular.

O ex-governador também não explica, nem jamais conseguirá explicar de maneira convincente, o porquê de ter se aliado com uma das principais raposas da política pernambucana e um dos principais nomes do PMDB, o senador Jarbas Vasconcelos, a ponto de ter cedido a vice na chapa de seu candidato, o ex-secretário da Fazenda de Pernambuco, Paulo Câmara, a outro peemedebista, conhecida cria do jarbismo, o deputado federal Raul Henry e mais, não explica porque somente o PMDB lhe parece representar o raposismo político e a Velha Política, que seria personificada, segundo Campos, por Renan Calheiros, José Sarney e Fernando Collor. 

Campos, Jorge e Paulo Bornhousen
Difícil driblar com frases de efeito, o fato de que ele, Eduardo, tem, não apenas em seu palanque estadual e nacional, mas abrigados em seu partido, o PSB, figuras outras também consideradas, digamos assim, personagens protagonistas do que há de mais atrasado na vida político -partidária brasileira, tais como, Jorge Bornhousen, do DEM, ex-ministro da Educação da ditadura militar e seu filho, Paulo Bornhausen e Heráclito Fortes, estes últimos, inclusive, filiados ao PSB. 


Conselhos ao "pé do ouvido" sobre Nova  Política
O que dizer de Severino Cavalcanti, do PP, que na presidência da Câmara dos Deputados lambuzou-se de tal maneira com o poder e a velha política que teve que renunciar ao mandato, ainda em 2005, para fugir da cassação, após ser acusado pelo empresário Sebastião Augusto Buani, dono do restaurante Fiorella, que funcionava na Câmara, de receber “mensalinho” de R$ 10 mil. Depois, como prefeito de João Alfredo, deixou a prefeitura com as contas bloqueadas pela justiça e com salários atrasados e sem poder disputar a reeleição, já que está inelegível, como Ficha Suja, até 2015. 

Outro exemplo de politico que apoia incondicionalmente Eduardo Campos, é Inocêncio Oliveira, que também presidiu a Câmara dos Deputados e que foi condenado pela Justiça do Trabalho do Maranhão, coincidentemente, a terra de Sarney, por manter 53 trabalhadores em situação análoga a de escravos, em uma Fazenda de sua propriedade, a Caraíbas. 
"Brincantes"
Só depois do flagrante dado pela Delegacia do Trabalho, libertando os trabalhadores, foi que Inocêncio Oliveira, a quem Eduardo Campos parece elevar ao patamar de praticante da Nova Política, tão defendida por ele e sua novel aliada, Marina Silva, preocupou-se em vendê-la. O aliado de Campos, o “novo politico” Inocêncio, ainda foi condenado a pagar indenização de R$ 530 mil, ao Fundo de Amparo ao Trabalhador, por danos morais coletivos, em ação movida pelo Ministério Público do Trabalho.

Por tudo isso, já que são fatos não só públicos, como notórios, é que após essa resposta, a própria entrevistadora, da Globo News, concluiu que a ruptura e as críticas que Eduardo Campos tem feito à presidenta Dilma são motivadas, exclusivamente, pela decisão de Eduardo Campos de disputar o cargo da presidenta, o que, evidentemente, como também lembrou a entrevistadora, é legítimo, o que não é legítima é a mentira e a falácia utilizada pelo agora candidato e que vem fantasiada, na fala cheia de superficialidade e contradições de Campos, de Nova Política.

Em pauta, a Nova Política
E eu vou mais além. Penso que a fixação de Eduardo Campos em apontar o PMDB, como se fora o único cancro da política nacional, nada mais é do que a vontade inconfessável do próprio Eduardo de ver seu Partido, o PSB, assumir o lugar e as funções hoje desempenhadas pelo PMDB. A fixação de Campos por Sarney, também não deixa de ser intrigante. Assim como
Sarney fez do Maranhão um feudo familiar, depois de assumir o poder pela primeira vez em seu Estado natal, ainda jovem e com apoio popular, como se fora um grande líder, que viera para resgatar o povo do Maranhão da miséria e da corrupção, ou seja, do que, naquele tempo se poderia até chamar de  “velha política”, Eduardo Campos fez de Pernambuco seu próprio Maranhão, com práticas que em nada deixam a desejar àquelas que finge criticar no ex-presidente Sarney e agora se apresenta, assim como Sarney se apresentou outrora, como o emissário do "novo".

Mas algo falta na biografia de Eduardo Campos para que ele seja um verdadeiro Sarney. Falta para Eduardo, ser candidato a vice de alguém como Tancredo Neves, para que Eduardo Campos, finalmente, conquiste todo o poder que tanto sonha conquistar.
É provável que Eduardo quisesse o lugar do PMDB, na coalizão governista, o que inclui a vaga na vice-presidência, que ele tanto passou a criticar, desde que não conseguiu conquistar, dentro dela, o protagonismo que sonha, por mais que o ex-presidente Lula tivesse ou tenha apreço por ele, já que, em política e em política nacional, principalmente, não dá pra se fazer escolhas pessoais e personalistas como as que o próprio Campos costuma fazer. Talvez , quem sabe, em 2018, Eduardo consiga, finalmente ser o novo Sarney e como vice de alguém, consiga chegar à tão sonhada presidência da República. O mesmo discurso utilizado por Sarney para propagandear sua "nova política", Eduardo já tem e o rapinismo também.




Trecho do Discurso de Posse de Sarney, como Governador do Maranhão, em 1966:
"O Maranhão não suportava mais, nem queria, o contraste de suas terras férteis, de seus vales úmidos, de seus tabacoais ondulantes, de suas fabulosas riquezas potenciais, com a miséria, com a angústia, com a fome, das puídas que não levam a lugar nenhum, senão ao estágio em que o homem de carne e osso é o bicho de carne e osso. O Maranhão não quer a desonestidade no governo, a corrupção nas repartições e nos despachos. O Maranhão não quer a violência como instrumento da política para banir direitos os mais sagrados que são os da pessoa humana, com a impunidade dos assassínios, garantidos pelos delegados e a liberdade reduzida apenas a uma oportunidade para abastardar os homens. O Maranhão não quer mais a Coletoria como uma caixa privada a angariar dízimos inexistentes para inexistentes arcas reais, que não são inexistentes porque se pode pronunciar os nomes dos beneficiários e identificá-los ao longo desses anos de corrupção. O Maranhão não quer a miséria, a fome e o analfabetismo, as mais altas taxas de mortalidade infantil, de tuberculose, de malária e de chistossoma, como exercício do cotidiano. O Maranhão não quer e não quis morrer sem gritar, não quis morrer estático de olhos parados e ficar caldatário, marginal do progresso, olhando o Brasil e o Nordeste progredir, enquanto nossa terra, mergulhada na podridão, não podia marchar nem caminhar."

Trecho da entrevista de Campos à Globo News:

Renata Lo Prete"O senhor disse que vai fazer a Reforma Tribitária, a que parece ser a mais difícil e complicada de todas, em um ano e ao mesmo tempo o senhor diz que vai mandar pra oposição boa parte das forças políticas que comandam o Congresso hoje. Como é que nessas condições, o senhor conseguiria fazer o que nenhum presidente antes conseguiu?"
Eduardo Campos"Nós vamos conseguir porque a sociedade não aguenta mais essas velhas raposas mandando no País há 30 anos. Nem a imprensa, nem os empreendedores, nem os trabalhadores, nem a classe média, nem quem tá pagando muito tributo, não aguenta ligar a televisão e ver que no governo da Dilma, o Renan, o Sarney e o Collor tão ali como teve o Renan, o Sarney no governo do Fernando Henrique.


Fonte:Blog da Noélia Brito

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