Engraçado, Zaidan publica artigos no blog do Jamildo, famoso direitão da mídia pernambucana, no entanto o governador poste Paulo Câmara não processou Jamildo tampouco o JC Online, onde é hospedado o tal blog, preferiu pegar o cientista político. O mesmo ocorreu no meu caso, um amigo íntimo da Lavareda publicou no Facebook uns textos contra o citado marqueteiro, no entanto, salvo prova em contrário, não se tem notícia que ele processou seu amigo, preferiu me processar, o blogueiro Flávio Falcão e o Google.
Por Michel Zaidan Filho
Dizia o cronista pernambucano Nelson Rodrigues que toda unanimidade é
burra. É burra e perigosa, quando se trata da existência de uma
sociedade democrática.
Por melhor e infalível que seja o governante de turno (prefeito,
governador e presidente), a necessidade do contraditório, da atividade
crítica, vigilante e fiscalizadora dos cidadãos é fundamental para a
oxigenação do sistema político-partidário.
A busca, a qualquer preço, da unanimidade pelo governante é uma forma
de despotismo suave, sobretudo quando se assenta na cooptação, no
aliciamento ou compra de apoio político-parlamentar.
A liberdade de expressão ou de opinião, num regime democrático, não é
um beneplácito do gestor ou administrador. É uma garantia de que sua
gestão seja republicana, realize o bem comum ou o interesse público.
Um administrador público – seja ele um político de carreira, um
guarda-livros ou contabilista – não é eleito por um chefe, por uma
família, uma oligarquia ou grupo político, para preservar e ampliar
vantagens, conveniências e interesses desse grupo ou dessa oligarquia.
A Ciência Política Clássica levou muitas centenas de anos para
definir o conceito de representação ou mandato popular. Desde o abade
Syeis até hoje, a essência, o garante, a base da representação é a
soberania do povo. Ou seja, o mandatário governa em nome, com e para o
povo.
É portanto injustificável que produza-se uma curiosa inversão: de mandatário do povo em mandante do povo.
Em vez, do compromisso com os interesses populares, compromissos com
os financiadores ou patrocinadores de campanha, o governante deve
fidelidade à Constituição e à vontade política da população, expressa na
autorização dada, pelo voto, ao vencedor nas urnas. Mas isso o obriga a
realizar sua vontade e, acima de tudo, a prestar contas de seu mandato
àqueles que o elegeram e também aos que não o elegeram. Afinal, todos
são contribuintes e cidadãos.
Um governante que não sabe conviver com o contraditório e se aborrece
com as críticas de seus concidadãos ou governados confunde a gestão
pública com a gestão privada (de sua casa ou de sua empresa) ou, como
burocrata, pensa que a crítica é uma mera licença poética concedida por
ele aos que desaprovam ou fazem reparos à sua gestão.
Estes confundem a liturgia e os privilégios do cargo como autorização
para fazerem o que quiserem com o erário público, sem prestar contas de
sua gestão. E ai das daqueles que acharem ruim; estes vão se queixar ao
bispo.
Um agravante desse modelo de gestão é a ausência efetiva da separação de poderes e o papel da mídia.
Se as novas casas legislativas não estivessem tão desmoralizadas e
destituídas de poder, seriam o contraponto necessário à vontade imperial
do governante. A elas cabe o papel da fiscalização, do controle das
atividades do Poder Executivo. Infelizmente, tornaram-se em instrumento
de homologação da vontade do gestor, às custas do aliciamento e da
cooptação. Como dizia a filósofo judia, se transformaram em mercados de
compra e venda de apoios políticos.
Pior é o papel da imprensa dita livre e independente, que se comporta
com empresa e busca vantagens junto ao Poder Político e Econômico.
De órgãos formadores da opinião pública, viraram máquinas de
“produção” de um falso consenso, de uma pseudo-unanimidade em torno dos
poderosos de turno.
Se quisermos desfazer a impressão de um famoso historiador paulista
que chamou o nosso regime democrático de um profundo mal-entendido, num
contexto de formação oligárquico-liberal, é preciso fazer da liberdade
de opinião, da liberdade de crítica, da liberdade de consciência, mas do
que uma simples reverência retórica nas cátedras e salões nobres do
Parlamentos.
É preciso ter coragem de exercê-las diante daqueles que confundem o
cargo com uma prebenda, e a crítica como crime ou desrespeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário