Qual a importância do grau de investimento, uma classificação que alegadamente norteia decisões de investidores estrangeiros?
Para a imprensa, depende.
Em 2008, no segundo governo Lula, o Brasil ganhou o grau de
investimento da agência S&P, algo que não acontecera nos oito anos
de FHC, aliás.
A imprensa tratou o assunto com frieza glacial. Não houve rojões, não houve elogios, não houve nada.
A Folha disse que a elevação do Brasil vinha num “momento de descrédito” para as agências.
Agora, sete anos depois, quando o Brasil volta um degrau na escala da
S&P, o grau de investimento vira a coisa mais importante do
universo.
Manchetes tétricas, artigos fúnebres de comentaristas patronais,
vaticínios apocalípticos de políticos de oposição – tudo isso domina o
noticiário.
Como explicar a dupla maneira de ver a mesma coisa, essa esquizofrenia jornalística?
É o seguinte. Em 2008, o grau de investimento era virtualmente
irrelevante para a mídia porque a conquista poderia ser vista como
positiva não apenas para o Brasil – mas para Lula, o presidente.
Agora, o grau de investimento é importantíssimo porque funciona como mais uma arma contra Dilma.
Tente achar, em 2008, comentários de jornalistas econômicos e políticos das grandes empresas de mídia.
Míriam Leitão, Sardenberg, Merval e por aí vai. Nada.
Pesquisa a Veja de 2008 para ver como foi tratada a matéria.
Pois agora, se tiver disposição para isso, veja o que todos eles estão falando sobre o assunto.
Tragamos para a linguagem do futebol.
Seu time ganha um título. Esse título é desprezado como nada.
Agora: seu time perde o título. Aí o título, na visão dos adversários e inimigos, vale ouro.
A imprensa atua exatamente assim: como torcedora.
Por isso, e não só por isso, não merece ser levada a sério.
Suponhamos que Aécio tivesse sido eleito presidente no ano passado. A
perda do grau de investimento sob Aécio seria tratada como se fosse
uma coisa banal, uma derrota num campeonato longo em que o time ocupa
uma posição muito boa.
O grau de investimento é uma coisa boa de ter, naturalmente. Mas
recuar um passo na escala de uma das agências de classificação, como
aconteceu agora com a S&P, está longe de ser o fim do mundo. As
coisas não são estáticas. Um país, assim como uma empresa, alterna
ciclos.
De resto, é um movimento entre as agências de classificação.
Outra grande agência, a Moody’s, anunciou que manterá a nota do
Brasil a não ser que ocorra uma catástrofe, o que é uma possibilidade
extremamente remota.
O mais relevante, em todo o episódio, é a exploração política cínica que vem sendo feita pela mídia.
Eu falei há pouco que a cobertura teria um tom bem diferente se a mesma coisa ocorresse sob Aécio.
Pois acrescento outra hipótese.
Caso o retorno do Brasil ao grau de investimento se dê numa
administração petista, será recebido com a mesma frieza registrada em
2008.
É claro que se for sob um amigo da mídia, como Aécio, a festa durará
dias, numa espécie de Carnaval político e financeiro do mais baixo
nível.
E assim caminha a mídia brasileira: não joga luz onde existem sombras, como é o primeiro mandamento do bom jornalismo.
Onde já existe sombra, joga ainda mais sombra.
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