15 DE DEZEMBRO DE 2008
Brasil menospreza o efeito do desemprego no campo
A próxima safra de cana-de-açúcar “poderá passar por percalços, mas a solidez dos fundamentos do setor garante que os problemas serão contornados''. A previsão é do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Wagner Rossi. O otimismo do ex-deputado federal pelo PMDB de Ribeirão Preto (SP) contrasta com a tensão causada pelo desemprego de milhares de bóias-frias.
Djalma Batigalhia*, de Ribeirão Preto - SP.
O trabalho, a toque de caixa, de uma comissão formada por representantes do Ministério do Trabalho, usinas de açúcar e álcool e entidades representativas dos trabalhadores rurais, em busca de uma solução para o drama dos desempregados dos canaviais, mostra que as contrariedades e os transtornos que o Brasil enfrentará no campo serão bem maiores que os “percalços” apontados pelo presidente da Conab.
São Paulo: berço do desemprego
Pelo menos 180 mil cortadores de cana, só em São Paulo, ficarão sem trabalho diante do cumprimento do Protocolo Ambiental, assinado entre as usinas de açúcar e álcool e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
Uma colhedora tem capacidade para cortar mais de 700 toneladas por dia de cana crua. Para cortar quantidade equivalente, seriam necessários oitenta homens e a queima da cana antes do trabalho. No auge da colheita manual, entre 1985 e 1990, os 83 municípios da região de Ribeirão Preto chegaram a ter mais de 80 mil bóias-frias trabalhando nas lavouras de cana.
Migração inversa
Estes trabalhadores rurais não são migrantes que vêm de outros estados para a colheita e voltam para suas cidades após a safra. Moram com suas famílias nas periferias das cidades-dormitórios.
Se confirmada a previsão, só na região de Ribeirão Preto, um contingente de 114 mil trabalhadores, mais que a população de Sertãozinho (103 mil habitantes) -cidade que ironicamente tem seu parque industrial praticamente inteiro voltado à produção canavieira-, ficará desempregado.
Segundo Inês Facioli, coordenadora da Pastoral do Migrante de Guariba, o avanço da mecanização irá gerar uma migração inversa, com a saída de trabalhadores da região. ''Não vai ter outro jeito, porque todos precisam de remuneração para viver. Vai inverter a situação. A mecanização existe desde o final dos anos 80.''
Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ribeirão Preto, Silvio Palviqueres, conta que já foram feitas cerca de dez reuniões em Brasília entre o Ministério do Trabalho, a entidade que representa os usineiros e representantes da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura para montar um programa de qualificação de mão de obra.
Serra fez um pacto com as usinas
Palviqueres disse, em entrevista, que Serra, desde que foi assinado o protocolo para o fim das queimadas, não recebe os trabalhadores rurais para debater a realidade do desemprego no campo.
“Serra fez um pacto com as usinas, mas não ouviu nenhum trabalhador. Parece um ditadorzinho” lamentou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ribeirão Preto.
A cada 100 vagas extintas pela máquina, são criadas apenas 12 contratações para pessoal especializado. A mecanização de toda a colheita de cana-de-açúcar tem data para ser totalmente implantada: 2014.
Hoje, o processo de mecanização da colheita da cana na região de Ribeirão Preto tem média superior à do estado. Ou seja, as pequenas e médias cidades da região de Ribeirão Preto - por onde o atual presidente da Conab já se elegeu várias vezes deputado federal - é hoje a mais atingida pela mecanização sem contrapartida ao desemprego. Até agora, nada de efetivo foi feito para se evitar que milhares de famílias sem emprego e renda vaguem de uma cidade para a outra em busca do próprio sustento.
O desafio brasileiro
Somente com condições que permitam confiar no futuro do emprego no campo ou na recolocação dos trabalhadores fora dos canaviais, haverá uma retomada de fato sólida e consistente. O desafio brasileiro é eliminar as queimadas, garantindo um horizonte estável para os trabalhadores e para os municípios produtores de açúcar e álcool.
A continuidade do crescimento do Brasil no que se convencionou chamar de agronegócio deve estar subordinada à consolidação da justiça social e do respeito aos direitos elementares do nosso povo. E não apenas ao lucro dos agronegociantes.
É necessário concretizar as expectativas de distribuição de renda e valorização do trabalho nas quais se baseia o bom otimismo. E, mesmo crescendo, fazer com que mais brasileiros participem do progresso continua a ser um desafio.
*Djalma Batigalhia é jornalista.
Brasil menospreza o efeito do desemprego no campo
A próxima safra de cana-de-açúcar “poderá passar por percalços, mas a solidez dos fundamentos do setor garante que os problemas serão contornados''. A previsão é do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Wagner Rossi. O otimismo do ex-deputado federal pelo PMDB de Ribeirão Preto (SP) contrasta com a tensão causada pelo desemprego de milhares de bóias-frias.
Djalma Batigalhia*, de Ribeirão Preto - SP.
O trabalho, a toque de caixa, de uma comissão formada por representantes do Ministério do Trabalho, usinas de açúcar e álcool e entidades representativas dos trabalhadores rurais, em busca de uma solução para o drama dos desempregados dos canaviais, mostra que as contrariedades e os transtornos que o Brasil enfrentará no campo serão bem maiores que os “percalços” apontados pelo presidente da Conab.
São Paulo: berço do desemprego
Pelo menos 180 mil cortadores de cana, só em São Paulo, ficarão sem trabalho diante do cumprimento do Protocolo Ambiental, assinado entre as usinas de açúcar e álcool e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
Uma colhedora tem capacidade para cortar mais de 700 toneladas por dia de cana crua. Para cortar quantidade equivalente, seriam necessários oitenta homens e a queima da cana antes do trabalho. No auge da colheita manual, entre 1985 e 1990, os 83 municípios da região de Ribeirão Preto chegaram a ter mais de 80 mil bóias-frias trabalhando nas lavouras de cana.
Migração inversa
Estes trabalhadores rurais não são migrantes que vêm de outros estados para a colheita e voltam para suas cidades após a safra. Moram com suas famílias nas periferias das cidades-dormitórios.
Se confirmada a previsão, só na região de Ribeirão Preto, um contingente de 114 mil trabalhadores, mais que a população de Sertãozinho (103 mil habitantes) -cidade que ironicamente tem seu parque industrial praticamente inteiro voltado à produção canavieira-, ficará desempregado.
Segundo Inês Facioli, coordenadora da Pastoral do Migrante de Guariba, o avanço da mecanização irá gerar uma migração inversa, com a saída de trabalhadores da região. ''Não vai ter outro jeito, porque todos precisam de remuneração para viver. Vai inverter a situação. A mecanização existe desde o final dos anos 80.''
Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ribeirão Preto, Silvio Palviqueres, conta que já foram feitas cerca de dez reuniões em Brasília entre o Ministério do Trabalho, a entidade que representa os usineiros e representantes da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura para montar um programa de qualificação de mão de obra.
Serra fez um pacto com as usinas
Palviqueres disse, em entrevista, que Serra, desde que foi assinado o protocolo para o fim das queimadas, não recebe os trabalhadores rurais para debater a realidade do desemprego no campo.
“Serra fez um pacto com as usinas, mas não ouviu nenhum trabalhador. Parece um ditadorzinho” lamentou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ribeirão Preto.
A cada 100 vagas extintas pela máquina, são criadas apenas 12 contratações para pessoal especializado. A mecanização de toda a colheita de cana-de-açúcar tem data para ser totalmente implantada: 2014.
Hoje, o processo de mecanização da colheita da cana na região de Ribeirão Preto tem média superior à do estado. Ou seja, as pequenas e médias cidades da região de Ribeirão Preto - por onde o atual presidente da Conab já se elegeu várias vezes deputado federal - é hoje a mais atingida pela mecanização sem contrapartida ao desemprego. Até agora, nada de efetivo foi feito para se evitar que milhares de famílias sem emprego e renda vaguem de uma cidade para a outra em busca do próprio sustento.
O desafio brasileiro
Somente com condições que permitam confiar no futuro do emprego no campo ou na recolocação dos trabalhadores fora dos canaviais, haverá uma retomada de fato sólida e consistente. O desafio brasileiro é eliminar as queimadas, garantindo um horizonte estável para os trabalhadores e para os municípios produtores de açúcar e álcool.
A continuidade do crescimento do Brasil no que se convencionou chamar de agronegócio deve estar subordinada à consolidação da justiça social e do respeito aos direitos elementares do nosso povo. E não apenas ao lucro dos agronegociantes.
É necessário concretizar as expectativas de distribuição de renda e valorização do trabalho nas quais se baseia o bom otimismo. E, mesmo crescendo, fazer com que mais brasileiros participem do progresso continua a ser um desafio.
*Djalma Batigalhia é jornalista.
Comentário.
José Serra, depois de ficar contra os professores, ao ajuizar ação contra o Piso Nacional dos Professores, agora virou inimigo dos trabalhadores rurais paulistanos.
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