Costuma-se falar que o brasileiro é o povo que odeia e ridiculariza seus presidentes. Considera-os imbecis, idiotas e fanfarrões. Deve haver aí a sociologia da utopia ianque, no sentido de achar que somente presidentes americanos são bons. Todo o resto americano também. A direita sempre nutriu esse complexo de inferioridade e o difundiu pedagogicamente por gerações. É a imperdível mania brasileira da tupiniquização mental.
Até quando o governo acerta, o patrulhamento é sabido. A horda se move e dispara: 'mas também, é continuidade disso ou daquilo...'. Com a moeda do real foi assim. Passados séculos de sua invenção ainda se insiste em que ele seja mera continuidade de uma gestação efeagaceizada.
Raciocina-se de duas formas. Ou pelo complexo de colonizado, em que o que vem do exterior é sempre melhor, ou pelo complexo do saudoso histórico, em que antigamente é que era bom, saudade de militares, Collor e outras esdruxularias.
Longe de pacífica, a situação do programa Mais Médicos, implementado pelo governo atual, pode se tornar crítica. A direita reacionária, nitidamente solapada pelo sucesso do MM, tentará usar sua artilharia no governo sem se preocupar com o bem estar da população. Parece ter conseguido um forte aliado: o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Admita-se que desde a primeira hora houve uma ciumeira escancarada. Médicos brasileiros não aceitaram ganhar 10 mil reais nos rincões, mas também tentaram impedir que cubanos e outros fossem. Utilizaram inclusive a via fedorenta do preconceito-patricinha, xingando, ofedendo, comparando cubanos a empregadas domésticas e lixeiros. Uma vergonha nacional.
Bem verdade que o programa vem causando resultados positivos, com atendimento a populações carentes. Mas aí o seu 'erro'. Dispara simetricamente a este sucesso o ódio rácico velhaco por Cuba. Agora muito mais próximo: em médicos atuando no Brasil.
Engana-se quem ache que a reação é meramente ideológica. O Conselho Federal de Medicina surpreendeu a todos quando, em nítida desobediência civil prática, passou a difundir asilo espiritual fomentado por sua poderosa estrutura a médicos cubanos que queiram deserdar. É surreal.
Não são só ideias, mas um braço armado operacional para minar o governo. E não apenas o governo, a população que perderia os médicos cubanos e retornaria a não ter outros em seu lugar. O projeto político do CFM, travesti de uma ideologia que não liga a mínima para pessoas pobres, é conceituável em apenas uma palavra: vergonhoso.
Inacreditável que uma entidade que congrega profissionais queridos como médicos, praticamente um tipo antagônico à classe de advogados, tenha se permitido ser um braço armado para a resistência a uma cepa ideológica tão baixa.
Estimular ódio a Cuba; reacender a ideia que a Cuba boa é a Cuba deserdada; tratar médicos de outras nacionalidades como profissionais de segunda; e, de quebra, estimular toda a carga de preconceito-patricinha que se assistiu quando os médicos estrangeiros chegaram ao Brasil. Aí o menu discriminatório subjacente.
Um horror. Triste e feio. De envergonhar até direitistas que tenham saudável preocupação com o povo sofrido do Brasil.
Tantas explicações podem haver quantas fugas e escapismos ideológicos se quiser. O CFM poderá dizer que sua preocupação é com a saúde da população, que lindo. Que os médicos cubanos não seriam o 'ideal', que bonito. Estas e outras argumentações utópicas e farisaicas.
Encontrar o verdadeiro sentido do fato social é tarefa difícil. Em ano de eleição, o CFM se lançar rancorosamente ao estímulo à deserção de médicos cubanos em um programa que deu certo é se prestar a um papelão.
A população deve ter a sabedoria de perceber a manobra. Qualquer governo erra e tem dificuldades. O Programa Mais Médicos, até aqui não enfrentou qualquer turbulência séria. Nenhuma notícia grave maculou a estada dos médicos estrangeiros no Brasil. Que uma única médica tenha pedido asilo, é um direito dela e um fato isolado.
Muitos desses profissionais já atuaram em outros países sem qualquer percalço. Afigura-se uma covardia e uma arrogância contra todo um povo – de Cuba-, o CFM lançar a campanha pela deserção oferecendo o Brasil, inclusive como barretada com chapéu alheio. O CFM não controla o governo a ponto de poder 'oferecer' institucionalmente isso. Sem se falar que praticamente todos os governos do mundo que outrora eram 'contrários' a Cuba, refizeram suas políticas.
O patético da oferta do CFM está visível e espumoso. Falta amor, falta seriedade e falta respeito ao povo brasileiro. A própria classe médica deveria se insurgir contra o CFM que, visivelmente, passou a ser usado como braço operacional de ataque a um programa que até aqui deu certo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário