por ROSÁLIA LIMA
Acusado, pela segunda vez, de favorecimento em contrato de
prestação de serviços de vigilância ao Governo do Estado, o empresário Paulo
Sérgio Macedo - sócio do grupo liderado pela empresa Nordeste Segurança de
Valores e amigo e correligionário do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) -
decidiu pronunciar-se "pela última vez", anteontem, em entrevista ao
Jornal do Commercio. O argumento de defesa, em si, não é novo. Ele se diz
vítima, primeiramente, de "extorsão", e depois, de "vingança",
por não ter cedido a uma segunda tentativa de extorsão por parte do deputado
federal e ex-secretário da Fazenda Eduardo Campos (PSB). A novidade agora é que
o empresário lastreia-se em cópias de documentos e apresenta uma testemunha
para o que afirma.
A testemunha é o superintendente de operações da Nordeste
Segurança de Valores, o coronel PM da reserva, Antonio Menezes, um dos
comandantes da Polícia Militar durante a terceira e última gestão (94/98) do
ex-governador Miguel Arraes (PSB), da qual, Campos foi secretário da Fazenda.
Antonio Menezes não só confirma ter sido procurado, por telefone, em julho de
98 pelo próprio Campos - teria pedido uma comissão de R$ 3 milhões para
favorecer a Nordeste numa futura concorrência, cujo alvo era um contrato
estimado em R$ 40,7 milhões/ano -, como apresenta notas fiscais de contas
telefônicas comprovando ligações feitas para um número, segundo diz, indicado
por Campos. As ligações teriam sido para o coronel Menezes dizer se a Nordeste
concordava ou não com a negociata.
O número de telefone citado pelo coronel Menezes - que na
segunda administração Arraes (87/90) foi ajudante de ordens do gabinete do
governador - é o 969.4710. Trata-se de um celular funcional pertencente à
Fundarpe, usado à época pelo deputado federal Eduardo Campos, pelo diretor de
patrimônio histórico da fundação, Marcos Loreto, e pelo assessor da Secretaria
de Trabalho e Ação Social, Gustavo Belo.
Com a experiência de quem administra uma empresa com 30 anos
de mercado, dez filiais (oito Estados nordestinos, mais São Paulo e Rio de
Janeiro), 10 mil funcionários, e projeção de faturar R$ 180 milhões este ano),
o empresário Paulo Sérgio Macedo admite ter preferido pagar
"comissões" a Campos - através de emissários -, entre agosto e
novembro 96, ao invés de denunciá-lo.
"A Nordeste tinha um atrasado de mais ou menos R$ 3
milhões a receber. Ele (Campos) mandou Roberto Rego (ex-diretor do Detran no
terceiro Governo Arraes) me procurar para dizer que só liberava o atrasado e
pagava as parcelas vincendas até o fim de ano, se eu pagasse uma comissão de
20%. A minha rentabilidade nesse contrato não chegava a 10%. Eu tentei negociar
porque não poderia pagar para trabalhar. Roberto se comprometeu a ser meu
advogado junto a ele e defender que ficasse em 15%, mas ele não concordou. Foi
uma negociação que durou uma manhã até cerca das 13h", assegura.
Segundo Macedo, como não houve forma de reduzir o
percentual, ele negociou fazer o pagamento em parcelas, na medida que fossem
sendo liberados os atrasados. "Mas exigi que os recibos fossem em bônus
eleitorais. A única maneira de justificar a extorsão era exigir os recibos em
bônus, já que estava no período eleitoral", conta, exibindo cópias de
bônus, recibos e notas fiscais de terceiros, no total de R$ 609.163,00,
equivalentes a 20.05% dos R$ 3.038.878,61 que a Nordeste tinha a receber por
serviços prestados à Compesa, Fundarpe, Secretaria de Educação e Bandepe.
Apesar de detalhar como concordou em ser extorquido em 96, o
empresário afirma ter-se recusado a pagar uma nova "comissão", em 98.
A concorrência em questão era a de nº 04/98, para a realização de serviços de
vigilância das 1.170 escolas estaduais, num contrato anual estimado em R$ 40,7
milhões. Para "vencer" a licitação, segundo Macedo, a Nordeste
deveria pagar uma comissão de R$ 3 milhões a Eduardo Campos.
"Eu não poderia compactuar com essa fraude que ele
(Campos) quis montar contra o Estado. E não só não concordei, como impedi que
outros pagassem essa extorsão. Entrei na Justiça todas as vezes que ele tentou
fazer a concorrência. A raiva dele é essa. Depois disso, a Nordeste deixou de
receber pelo serviço que vinha prestando. Foi uma vingança", completa
Paulo Sérgio Macedo.
Fonte:JC
Nenhum comentário:
Postar um comentário