quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Na senzala do DEM



 Sem querer desmerecer as razões dessa médica cubana prestes, ao que parece, a pedir asilo político no Brasil, mas essa história tem uma dessas tristes ironias muito típicas da nossa indigência moral e cívica.

 A principal e mais escandalosa delas diz respeito à participação do deputado Ronaldo Caiado, do DEM de Goiás, auto intitulado libertador de cubanos escravizados pelo programa Mais Médicos, do governo federal. 

 É mais uma dessas piadas de mau gosto que a mídia brasileira, dominada pelo cretinismo de direita, deixa passar de má fé, embora saiba exatamente o mal que está fazendo. 

 Caiado é um dos símbolos da moderna escravidão brasileira, fundador e ex-presidente da União Democrática (sic) Ruralista, a UDR. O deputado é um dos 29 parlamentares que, em 2012, votaram contra a Proposta de Emenda Constitucional 438/2001, a chamada PEC do Trabalho Escravo.

 Trata-se de uma medida que garante o confisco de propriedades em que for flagrado trabalho escravo e seu encaminhamento para reforma agrária ou uso social. A médica Ramona Matos Rodriguez tem todo direito de deixar o programa e pedir asilo, assim como o Ministério da Saúde tem o direito de descredenciá-la e, da mesma maneira, mandá-la de volta para Havana – claro, se ela não conseguir o status de asilada. 

 O que nem ela, nem ninguém, vai conseguir é convencer o Brasil de que a dobradinha do DEM, herdeiro político da ditadura militar, com a UDR, um de seus cancros mais conhecidos, é o caminho para essa discussão. Ramona talvez não tenha atinado, mas se ela se considera mesmo uma escrava, acabou de cometer a maior burrice de sua vida: fugiu para os braços de um coronel da Casa Grande.

Leandro Fortes

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