quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Domínio do fardo



Não, Joaquim Barbosa não é amigo do estelionatário Antônio Mahfuz, como muitos difamadores apressados tentaram fazer crer ao vê-los ladeados e sorridentes.
Seguramente Barbosa nem o conhecia, porque se o conhecesse não se deixaria fotografar, todo fagueiro, ao lado de um escroque chave de cadeia.
Seria muito caradurismo.
No entanto a foto está lá, nas redes sociais. O empresário aproveitou o prestígio do desavisado Barbosa e cunhou: "Sob a mesma luz que guiava os peregrinos no deserto! Renasce a esperança com o Justiceiro. Thanks God!".
Texto enigmático. Que esperança estaria renascendo? Sabemos que em 2007, o ministro Carlos Ayres Britto concedeu um habeas-corpus para o foragido poder vir ao Brasil visitar a mãe e prestigiar o casamento da filha sem ser incomodado pela justiça.
Talvez por isso o escroque estivesse a se exibir para os amigos, querendo deixar a impressão de que agora contava com a benevolência do eminente magistrado "justiceiro". Ou...
A luz que guia os peregrinos no deserto é uma estrela, disso sabemos todos. E todos sabemos que é como uma estrela, uma celebridade, que Barbosa está a se comportar.
E isso não é bom.
Não é legal, vamos usar esse termo, que um juiz da Suprema Corte saia por aí a distribuir beijos e posar para fotos como se fosse um BBB recém-eliminado. O que ele quer com isso?
Em sua defesa um assessor do STF alega que ao tirar fotografia com os que se simpatizam com ele, Barbosa "não pede o RG de ninguém".
Pois deveria. E é por isso que o seu cargo exige discrição. Hoje é um estelionatário, amanhã pode ser um assassino.
A vaidade, aprendemos ainda no catecismo, é um dos sete pecados capitais. Coisa que contraria sobremaneira o Altíssimo. E Barbosa peca por não ser discreto.
Não é nada bom para a imagem do STF e do Brasil que um juiz saia por aí a posar para fotos ao lado de traficantes, tarados, pedófilos, rufiões e escroques em geral.
E ainda sorrindo.
Sei que para um homem extremamente vaidoso, a discrição é um fardo. Mas há que dominá-lo.

Lelê Teles


Jornalista e publicitário. Roteirista do programa Estação Periferia (TV Brasil), apresentador do programa Coisa de Negro (Aperipê FM) e editor do blog FALA QUE EU DISCUTO


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