sexta-feira, 4 de setembro de 2015

De quem é a culpa?






O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso candidamente sugeriu à presidente Dilma Rousseff que tenha "a grandeza de renunciar" –ainda que defenda agora que sua fala tenha sido mal interpretada.

As razões para a renúncia seriam o declínio de sua popularidade, a recessão e consequente queda de governabilidade. Esquece-se o ex-presidente de que já esteve em posição idêntica com dificuldades iguais, e não renunciou.

Todavia, o que melhor evidencia a sua pequenez como homem público e como intelectual é a falta de originalidade, pois sua proposta não é nada mais que um plágio impudente, para não dizer descarado, do que lhe foi referido pelo ex-presidente Lula quando lamentou que o então presidente FHC não tivesse tido a grandeza de renunciar.

De fato, é verdade que o Brasil está com grandes dificuldades no setor econômico e que há problemas sérios de governabilidade e que, em parte, esta condição é de responsabilidade da atual administração que, como reconheceu recentemente a presidente Dilma, deve-se em parte à demora com que o governo percebeu a gravidade da situação.

Pois bem, aproveitando-se das dificuldades, membros do PSDB, do DEM e outros partidos da oposição, em consonância com a grande mídia escrita, falada e televisada, exigiram um reconhecimento explícito da presidente Dilma de responsabilidade pela crise, uma espécie de mea-culpa.

É, portanto, indispensável que antes de culparmos alguém verifiquemos quem são os verdadeiros culpados e quais os mecanismos que foram necessários para que acontecesse esse particular debacle econômico e político.

Façamos como o famoso detetive Sherlock Holmes. Quais seriam as razões principais para os problemas que enfrentamos na economia e na política nacionais.

1) A recessão mundial com a preponderância da China, que vem reduzindo suas compras de produtos brasileiros nestes últimos anos. Desse e de outros países não podemos cobrar uma mea-culpa por razões óbvias. Acho que não há economista decente que não concorde com essa escolha. Talvez até José Serra.

2) O "mensalão" e as revelações da Operação Lava Jato, pois desmoralizam o PT e suas administrações.

3) A voracidade pelo poder e pelo dinheiro e os despudorados métodos de chantagem da maioria dos membros do nosso infeliz Congresso Nacional, capitaneada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, discípulo e apaniguado de Paulo César Farias.

4) A campanha colérica, apoplética, vociferante da oposição.

5) A obsessão dos meios de comunicação, da mídia elitista pelo debacle do poder político alcançado pelo operariado, pela plebe.

Ora, parece haver consenso de que a recessão é em grande medida resultado da falta de investimento como consequência da derrocada da confiança do cidadão e do capital no futuro do país.

Há, portanto, uma culpa compartilhada pela oposição, pelo Congresso, pela administração do PT e pela grande mídia por essa recessão em que se encontra o país. O mea-culpa deve começar por aqueles que dos outros estão a exigi-la.

 Rogério Cezar Cerqueira Leite, físico e professor emérito da Unicamp

2 comentários:

julio disse...

E agora, presidente Dilma?

A maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu nesta terça-feira (6) reabrir investigação eleitoral em que o PSDB pleiteia a cassação da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer.

O governo contabiliza mais uma derrota. O STF denegou o pedido do PT para melar o julgamento das pedaladas fiscais no TCU. Ainda bem que o ministro Fux/STF agiu judiciosamente de forma republicana e não transigiu com a apelação indecente de um governo, que deve responder por seus atos ilegais.

E não adiantou mesmo a manobra do governo, para desespero da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR). O TCU, por unanimidade, rejeitou, nesta quarta-feira (7), as contas de Dilma em 2014. Será a primeira vez, dede 1937, que o TCU encaminhará ao Congresso Nacional um parecer pela rejeição das contas de um presidente da República. Caberá, agora, ao Legislativo confirmar ou não a decisão do tribunal, que precisará passar por análise da Comissão Mista do Orçamento, antes de chegar ao plenário.

O TCU, respaldado na Constituição Federal, é o órgão técnico que examina as contas públicas de acordo com o Art. 71. Assim, para resguardar a objetividade dos trabalhos do TCU, não resta alternativa ao Congresso Nacional senão acatar o indeferimento das contas da presidente da República em 2014 e enquadrá-la no Art. 85 da Constituição Federal, que trata dos crimes de responsabilidade presidencial.

Mas caso o Legislativo venha tratar a matéria de forma política, validando as contas do governo, a função do TCU, com efeito, ficará prejudicada e melhor seria que o órgão fosse extinto.

julio disse...

E agora, presidente Dilma?

A maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu nesta terça-feira (6) reabrir investigação eleitoral em que o PSDB pleiteia a cassação da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer.

O governo contabiliza mais uma derrota. O STF denegou o pedido do PT para melar o julgamento das pedaladas fiscais no TCU. Ainda bem que o ministro Fux/STF agiu judiciosamente de forma republicana e não transigiu com a apelação indecente de um governo, que deve responder por seus atos ilegais.

E não adiantou mesmo a manobra do governo, para desespero da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR). O TCU, por unanimidade, rejeitou, nesta quarta-feira (7), as contas de Dilma em 2014. Será a primeira vez, dede 1937, que o TCU encaminhará ao Congresso Nacional um parecer pela rejeição das contas de um presidente da República. Caberá, agora, ao Legislativo confirmar ou não a decisão do tribunal, que precisará passar por análise da Comissão Mista do Orçamento, antes de chegar ao plenário.

O TCU, respaldado na Constituição Federal, é o órgão técnico que examina as contas públicas de acordo com o Art. 71. Assim, para resguardar a objetividade dos trabalhos do TCU, não resta alternativa ao Congresso Nacional senão acatar o indeferimento das contas da presidente da República em 2014 e enquadrá-la no Art. 85 da Constituição Federal, que trata dos crimes de responsabilidade presidencial.

Mas caso o Legislativo venha tratar a matéria de forma política, validando as contas do governo, a função do TCU, com efeito, ficará prejudicada e melhor seria que o órgão fosse extinto.