O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
candidamente sugeriu à presidente Dilma Rousseff que tenha "a grandeza
de renunciar" –ainda que defenda agora que sua fala tenha sido mal
interpretada.
As razões para a renúncia seriam o declínio de sua popularidade, a
recessão e consequente queda de governabilidade. Esquece-se o
ex-presidente de que já esteve em posição idêntica com dificuldades
iguais, e não renunciou.
Todavia, o que melhor evidencia a sua pequenez como homem público e
como intelectual é a falta de originalidade, pois sua proposta não é
nada mais que um plágio impudente, para não dizer descarado, do que lhe
foi referido pelo ex-presidente Lula quando lamentou que o então
presidente FHC não tivesse tido a grandeza de renunciar.
De fato, é verdade que o Brasil está com grandes dificuldades no
setor econômico e que há problemas sérios de governabilidade e que, em
parte, esta condição é de responsabilidade da atual administração que,
como reconheceu recentemente a presidente Dilma, deve-se em parte à
demora com que o governo percebeu a gravidade da situação.
Pois bem, aproveitando-se das dificuldades, membros do PSDB, do DEM e
outros partidos da oposição, em consonância com a grande mídia escrita,
falada e televisada, exigiram um reconhecimento explícito da presidente
Dilma de responsabilidade pela crise, uma espécie de mea-culpa.
É, portanto, indispensável que antes de culparmos alguém verifiquemos
quem são os verdadeiros culpados e quais os mecanismos que foram
necessários para que acontecesse esse particular debacle econômico e
político.
Façamos como o famoso detetive Sherlock Holmes. Quais seriam as
razões principais para os problemas que enfrentamos na economia e na
política nacionais.
1) A recessão mundial com a preponderância da China, que vem
reduzindo suas compras de produtos brasileiros nestes últimos anos.
Desse e de outros países não podemos cobrar uma mea-culpa por razões
óbvias. Acho que não há economista decente que não concorde com essa
escolha. Talvez até José Serra.
2) O "mensalão" e as revelações da Operação Lava Jato, pois desmoralizam o PT e suas administrações.
3) A voracidade pelo poder e pelo dinheiro e os despudorados métodos
de chantagem da maioria dos membros do nosso infeliz Congresso Nacional,
capitaneada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha,
discípulo e apaniguado de Paulo César Farias.
4) A campanha colérica, apoplética, vociferante da oposição.
5) A obsessão dos meios de comunicação, da mídia elitista pelo debacle do poder político alcançado pelo operariado, pela plebe.
Ora, parece haver consenso de que a recessão é em grande medida
resultado da falta de investimento como consequência da derrocada da
confiança do cidadão e do capital no futuro do país.
Há, portanto, uma culpa compartilhada pela oposição, pelo Congresso,
pela administração do PT e pela grande mídia por essa recessão em que se
encontra o país. O mea-culpa deve começar por aqueles que dos outros
estão a exigi-la.
Rogério Cezar Cerqueira Leite, físico e professor emérito da Unicamp
2 comentários:
E agora, presidente Dilma?
A maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu nesta terça-feira (6) reabrir investigação eleitoral em que o PSDB pleiteia a cassação da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer.
O governo contabiliza mais uma derrota. O STF denegou o pedido do PT para melar o julgamento das pedaladas fiscais no TCU. Ainda bem que o ministro Fux/STF agiu judiciosamente de forma republicana e não transigiu com a apelação indecente de um governo, que deve responder por seus atos ilegais.
E não adiantou mesmo a manobra do governo, para desespero da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR). O TCU, por unanimidade, rejeitou, nesta quarta-feira (7), as contas de Dilma em 2014. Será a primeira vez, dede 1937, que o TCU encaminhará ao Congresso Nacional um parecer pela rejeição das contas de um presidente da República. Caberá, agora, ao Legislativo confirmar ou não a decisão do tribunal, que precisará passar por análise da Comissão Mista do Orçamento, antes de chegar ao plenário.
O TCU, respaldado na Constituição Federal, é o órgão técnico que examina as contas públicas de acordo com o Art. 71. Assim, para resguardar a objetividade dos trabalhos do TCU, não resta alternativa ao Congresso Nacional senão acatar o indeferimento das contas da presidente da República em 2014 e enquadrá-la no Art. 85 da Constituição Federal, que trata dos crimes de responsabilidade presidencial.
Mas caso o Legislativo venha tratar a matéria de forma política, validando as contas do governo, a função do TCU, com efeito, ficará prejudicada e melhor seria que o órgão fosse extinto.
E agora, presidente Dilma?
A maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu nesta terça-feira (6) reabrir investigação eleitoral em que o PSDB pleiteia a cassação da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer.
O governo contabiliza mais uma derrota. O STF denegou o pedido do PT para melar o julgamento das pedaladas fiscais no TCU. Ainda bem que o ministro Fux/STF agiu judiciosamente de forma republicana e não transigiu com a apelação indecente de um governo, que deve responder por seus atos ilegais.
E não adiantou mesmo a manobra do governo, para desespero da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR). O TCU, por unanimidade, rejeitou, nesta quarta-feira (7), as contas de Dilma em 2014. Será a primeira vez, dede 1937, que o TCU encaminhará ao Congresso Nacional um parecer pela rejeição das contas de um presidente da República. Caberá, agora, ao Legislativo confirmar ou não a decisão do tribunal, que precisará passar por análise da Comissão Mista do Orçamento, antes de chegar ao plenário.
O TCU, respaldado na Constituição Federal, é o órgão técnico que examina as contas públicas de acordo com o Art. 71. Assim, para resguardar a objetividade dos trabalhos do TCU, não resta alternativa ao Congresso Nacional senão acatar o indeferimento das contas da presidente da República em 2014 e enquadrá-la no Art. 85 da Constituição Federal, que trata dos crimes de responsabilidade presidencial.
Mas caso o Legislativo venha tratar a matéria de forma política, validando as contas do governo, a função do TCU, com efeito, ficará prejudicada e melhor seria que o órgão fosse extinto.
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