sábado, 6 de dezembro de 2008

OS PALADINOS DA LIBERDADE X BLOGUEIROS


Engraçado. Antes jactavam-se de ser paladinos da liberdade. Agora se tornaram carrascos. O senador Eduardo Azeredo tenta emplacar um projeto que restringe a liberdade de opinião de blogs, e Diogo Mainardi faz um podcast em que defende, sempre em seu costumeiro tom de brincadeira, o fim dos blogueiros profissionais (íntegra do texto aqui).

Essa agressividade contra blogueiros é sintomática. E contraproducente, e ignorante. Mainardi menospreza e subestima o poder dos blogueiros (" velhos jornalistas de terceira linha"). No Brasil são criados, diariamente, milhares de blogs. Nos EUA, há blogs que já faturam mais que o NYTimes, como é o caso do Hunfting Post.

E os mesmos que viviam protestando contra a ditadura do politicamente correto, afirmando que se tratava de um vício esquerdista, agora atacam o presidente por ter falado "sifu", num contexto divertido, que descontraiu o ambiente e provocou gargalhadas no público. Onde estava a sua liberalidade? Vale para todo mundo, menos para o presidente? Têm saudades de FHC, sempre educado? A maioria esmagadora da população não tem.

Na pesquisa do Datafolha divulgada hoje, mostrando outro recorde de popularidade de Lula, um gráfico que me impressionou é um que mostra FHC como o presidente mais impopular desde a redemocratização. No segundo mandato, sua melhor avaliação (isso mesmo, o seu pico de popularidade!) foi uma aprovação de 31%!

A ascensão de Lula junto aos segmentos mais escolarizados tem um significado claro. A classe média está caindo em si. Esse apoio será particularmente importante em caso de agravamento da crise econômica, porque é um setor que, teoricamente, é mais esclarecido em relação às turbulências internacionais. O que realmente me choca é constatar que, cada vez mais, a direita torce para a situação brasileira piorar. Mesmo sem a garantia de que esta piora significará lucro político, a direita torce contra o Brasil. Por inveja, má fé, mau caratismo. Não importa que uma piora corresponda a sofrimento, à fome, a desemprego, a crescimento da criminalidade. É nojento, é criminoso. Depois perdem ainda mais votos e seus assessores de imprensa, ou seja, os colunistas de jornal, vem à público afirmar que um governo sem oposição é uma ditadura. Ora, então que façam oposição construtiva, voltada aos interesses maiores do país! Para começar, defendam a queda nos juros! Ataquem os bancos, que cobram spreads absurdos! Cobrem uma reforma agrária mais ágil e efetiva! Não é difícil ser oposição, o difícil é escolher as bandeiras certas. A direita, com suas bandeiras eternamente anti-trabalhistas, não tem futuro, porque 99% do eleitorado pertence à classe trabalhadora. Dialoguem com os sindicatos, com as centrais, com os pequenos agricultores! Não é jantando com Antonio Ermírio de Moraes que a oposição irá crescer eleitoralmente.

Por que Serra é tão cruel e mesquinho com seus funcionários públicos, com médicos, policiais e professores? Por que é tão rápido em liberar bilhões para magnatas da indústria automobilística e obriga seus policiais a uma batalha desgastante, sofrida, de meses, para obterem míseros pontos percentuais de aumento salarial, que mal recompõem perdas inflacionárias? Deus! Apesar do meu lema Delenda Serra, eu não quero o mal de Serra, não desejo um governo ruim pra ele. Queria, para o bem do Brasil, que ele fizesse uma boa administração.

Ontem assisti ao filme O Crocodilo, do italiano Nanni Moretti. Fala de um produtor decadente que decide fazer uma derradeira aposta, e aceita produzir um filme de uma jovem roteirista e diretora. O filme é uma denúncia política deliberada e explícita contra Silvio Berlusconi. Há um trecho em que Berlusconi repete o mantra da direita mundial: "Menos Estado, mais privado". O filme repete a cena várias vezes. Menos Estado, mais privado. Menos Estado, mais privado. Parece até o lema do PSDB.

É uma lema mafioso, espertinho. Menos Estado para os trabalhadores, para o povo, e mais Estado para empreiteiras, bancos, firmas que terceirizam trabalho, donos de jornais, enfim toda a súcia de amiguinhos do rei. A estratégia neo-liberal foi desmascarada com essa crise. Essa é a herança do neoliberalismo: trilhões de dólares de prejuízo aos governos, várias guerras, países devastados por desemprego e miséria, Aids fora de controle, risco de epidemias globais. Tudo porque a ideologia neoliberal obstruiu a consolidação e fortalecimento dos organismos internacionais, que poderiam levar saúde, emprego, crédito, às nações menos desenvolvidas, e elaborar regulamentação mais racional para os mercados financeiros.

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