domingo, 24 de outubro de 2010

A farsa de Campo Grande e o atentado da rua Toneleros: o que há de comum entre Carlos Lacerda, José Maria Aznar e José Serra?


O crime da rua Toneleros, em 1954, que culminou com o suicídio de Vargas, é outro episódio sobre o qual pairam fortes suspeitas de montagem politicamente arquitetada e perversamente executada.

Na madrugada de 5 de agosto, o major-aviador Rubens Vaz foi assassinado na rua Toneleros, no Rio, em frente ao prédio onde morava Carlos Lacerda. Vaz era guarda-costas de um dos mais virulentos adversários do então Presidente Getúlio Vargas. Apelidado por Samuel Wainer de ‘O Corvo’, por semelhanças físicas e identidade de cardápios, Lacerda voltava de uma de suas conferências, desta vez no Colégio São José, cujo tema era sempre o mesmo: a necessidade de afastar Getúlio do poder para onde fora levado graças à estrondosa vitória eleitoral contra a UDN de Lacerda. Dezenove dias após o crime da Toneleros, Lacerda e a direita nativa conseguiram seu intento: Vargas deixou o Catete, porém, morto.


Nenhum historiador tem dúvida de que o suicídio foi o gesto político mais dramático da história brasileira, um caso clássico de eliminação do personagem que fortaleceu sua herança, perpetuada em marcos divisores que ainda balizam a a vida nacional. A discussão em torno do pré-sal e da Petrobrás, nesta campanha, é um exemplo. Se ninguém dúvida do peso histórico de Getúlio, o mesmo não se pode dizer sobre o que de fato ocorreu naquela noite na rua Toneleros.

O próprio Lacerda apresentou várias versões para o episódio. Testemunhas, entre elas o jornalista, já falecido, Armando Nogueira, viram Lacerda caminhando normalmente no local após a morte de Vaz, o que contraria sua versão de que teria levado um tiro de 45’ no pé que ‘doía de forma intensa’. Os acusados do crime foram mantidos incomunicáveis e torturados. Lacerda jamais permitiu a perícia do revólver 38’ que portava e com o qual –alegou—enfrentou os algozes. O boletim de registro do seu atendimento, bem como as radiografias do pé supostamente alvejado desapareceram do Hospital Miguel Couto, no Rio.

"Vitória na Derrota" (Casa da Palavra), livro do sociólogo Ronaldo Conde Aguiar, reúne um levantamento minucioso de dados e entrevistas que colocam em xeque a versão de Lacerda em vários aspectos e dão consistência à hipótese de que o crime –ou pelo menos a sua versão vitoriosa—não passou de uma gigantesca farsa para vitimizar ‘O Corvo’,revoltar os quartéis e legitimar a derrubada de Getúlio.

A guerra de bolinhas de papel e rolinhos de fita crepe parece coisa de criança perto do que houve em 1954. Guardadas as proporções, porém, os métodos são muito parecidos e os interesses em jogo de certa forma se repetem. Vale a pena ler alguns trechos do livro "de Ronaldo Conde Aguiar. Seu relato oferece um mirante histórico que ajuda a enxergar melhor o passado e os seus vínculos com o presente.

Trechos de "Vitória na Derrota" (Casa da Palavra)(...)

“Em 16 de maio de 1992, o jornalista Otávio Bonfim, que, juntamente com Armando Nogueira, testemunhou o atentado de dentro do automóvel de Deodato Maia, deu o seguinte depoimento ao historiador Roberto Amaral:


Saí do carro e fui ver quem estava caído. Fui o primeiro a chegar junto a Vaz, que arquejava já nos estertores da morte. Instantes depois, Lacerda sai pela porta principal do prédio onde morava e caminha em direção a Vaz, onde eu já me encontrava. Ele caminha normalmente.14
O depoimento de Otávio Bonfim tem dois aspectos que merecem ser destacados. Primeiro: Lacerda, segundo ele, não saiu do prédio atirando na direção de Alcino, o que conflita com as versões de 1967 e 1977 do próprio jornalista. Segundo: Lacerda, destacou Bonfim, caminhava normalmente, apesar do tiro que teria recebido no pé e que o fazia sentir uma "dor violenta". Matéria na íntegra(Agência Carta Maior).

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