Enganam-se aqueles que afirmam ser o trabalho acadêmico algo que se deve restringir somente à abstrações e pesquisas nem sempre calcadas na realidade concreta. Existem sim intelectuais para quem a atividade cientifica também está inserida na lógica geral da luta de classes. Em carta aberta dirigida a FHC, o professor Theotônio dos Santos, demonstrou que a seara do pensamento também deve ser direcionada para o bom combate.
Por Renato Rabelo" em seu blog
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E mais significativo: um combate em que se coloca em xeque e desvela determinados mitos criados em torno do governo FHC, notadamente sua política monetária e o seu “sucesso” diante dos desafios da inflação e do equilíbrio fiscal.
O contexto do documento está relacionado ao envio de uma carta de FHC a Lula onde o primeiro – claramente – busca demonstrar que o sucesso de Lula tem base na continuidade de políticas consagradas em seus oito anos a frente do governo. Sublinarmente podemos sugerir que na falta de uma defesa retumbante de seu reinado pela própria oposição a Lula, FHC intentou fazê-lo. Uma lástima.
Theotônio dos Santos foi implacável em replicar a tal “verdade” da responsabilidade fiscal do governo FHC da seguinte forma:
“Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal . Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese . Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade”.
Nada mais verdadeiro, na medida em que essa dívida pública foi construída sob o acicate de uma política cambial mais entreguista do que a lei implementada em janeiro de 1808, por D. João VI, de “abertura dos portos às nações amigas”. Lembremos que esta política de D. João VI foi precedida por conselhos do economista baiano José da Silva Lisboa (futuro Visconde de Cairu). Podemos, sob forma de analogia histórica, dizer que FHC não se contentou em ser antítese de Tiradentes: tentou ir mais que o Visconde de Cairu. Daí o objetivo estratégico dele em proscrever a Era Vargas a partir de uma política cambial antinacional e antipopular.
Ao longo de sua carta, Theotônio dos Santos, se ocupou em desmistificar outra gama de improbidades de FHC. Com certeza, o que fica é sua conclusão, segundo a qual: “Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth), Mas quero vocês longe do poder do Brasil".
Uma conclusão que encerra, por si, a verdade residente no que mais de profundo existe na alma do povo brasileiro.
* Renato Rabelo é presidente Nacional do PCdoB
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