Ana Cláudia Barros
Há quem acredite que a disputa entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) recomeça de fato, nesta sexta-feira (8), com o retorno do horário eleitoral na TV e no rádio. Somente agora, o eleitor poderá ver, com clareza, quais estratégias de campanha foram mantidas e quais passaram por redefinição. Para o cientista político Marcus Figueiredo, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a expectativa é que, no segundo turno, as diferenças ideológicas entre a petista e o tucano se evidenciem.
Figueiredo espera, ainda, um confronto mais direto entre os presidenciáveis. "Um confronto na concepção de projetos de Brasil".
- Você tem os tucanos com as alianças tradicionais, com o DEM e outros. Evidentemente, vão entrar numa linha mais neoliberal. A tradicional política de enxugamento do Estado, de eficiência e as propostas que todos fazem em relação à saúde, segurança e educação. Há uma divisão clara em termos de concepção. Para os tucanos, a ascensão social depende do mérito e da preparação do cidadão para subir na vida. Enquanto que, na linha social democrata do PT, o suporte do Estado é que garante a ascensão social.
O cientista político considera arriscada a estratégia do PSDB, que deve utilizar mais a imagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, praticamente preterido no início da campanha de Serra. Na propaganda tucana exibida na TV, nesta tarde, a gestão FHC foi mencionada.
- É um risco para os tucanos entrar com Fernando Henrique agora, porque na comparação entre resultados econômicos e sociais, o período Lula é muito superior ao que aconteceu nos dois governos FHC - opina.
Na avaliação de Figueiredo, o tom mais agressivo, observado no fim da campanha no primeiro turno, deve permanecer na etapa final.
- A classe média entrou na discussão por vários meios, inclusive pela internet, por conta da crise na Casa Civil. E os religiosos fundamentalistas partiram para jugular da Dilma, taxando-a de pró- aborto. Isso vai continuar. A oposição está revivendo aquelas matérias todas, já ultrapassadas, do vazamento na Receita Federal e, em seguida, vai voltar, aliás, já voltou, com a questão da Casa Civil. E na internet continua o terrorismo católico e protestante contra a Dilma.
Confira a entrevista
Terra Magazine - O que se pode esperar das campanhas de Dilma e de Serra para o segundo turno?
Há quem acredite que a disputa entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) recomeça de fato, nesta sexta-feira (8), com o retorno do horário eleitoral na TV e no rádio. Somente agora, o eleitor poderá ver, com clareza, quais estratégias de campanha foram mantidas e quais passaram por redefinição. Para o cientista político Marcus Figueiredo, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a expectativa é que, no segundo turno, as diferenças ideológicas entre a petista e o tucano se evidenciem.
Figueiredo espera, ainda, um confronto mais direto entre os presidenciáveis. "Um confronto na concepção de projetos de Brasil".
- Você tem os tucanos com as alianças tradicionais, com o DEM e outros. Evidentemente, vão entrar numa linha mais neoliberal. A tradicional política de enxugamento do Estado, de eficiência e as propostas que todos fazem em relação à saúde, segurança e educação. Há uma divisão clara em termos de concepção. Para os tucanos, a ascensão social depende do mérito e da preparação do cidadão para subir na vida. Enquanto que, na linha social democrata do PT, o suporte do Estado é que garante a ascensão social.
O cientista político considera arriscada a estratégia do PSDB, que deve utilizar mais a imagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, praticamente preterido no início da campanha de Serra. Na propaganda tucana exibida na TV, nesta tarde, a gestão FHC foi mencionada.
- É um risco para os tucanos entrar com Fernando Henrique agora, porque na comparação entre resultados econômicos e sociais, o período Lula é muito superior ao que aconteceu nos dois governos FHC - opina.
Na avaliação de Figueiredo, o tom mais agressivo, observado no fim da campanha no primeiro turno, deve permanecer na etapa final.
- A classe média entrou na discussão por vários meios, inclusive pela internet, por conta da crise na Casa Civil. E os religiosos fundamentalistas partiram para jugular da Dilma, taxando-a de pró- aborto. Isso vai continuar. A oposição está revivendo aquelas matérias todas, já ultrapassadas, do vazamento na Receita Federal e, em seguida, vai voltar, aliás, já voltou, com a questão da Casa Civil. E na internet continua o terrorismo católico e protestante contra a Dilma.
Confira a entrevista
Terra Magazine - O que se pode esperar das campanhas de Dilma e de Serra para o segundo turno?
Marcus Figueiredo - O que se espera é um confronto muito direto entre eles, um confronto de ideias no sentido mais ideologico e um confronto na concepção de projetos de Brasil. Você tem os tucanos com as alianças tradicionais, com o DEM e outros. Evidentemente, vão entrar numa linha mais neoliberal. A tradicional política de enxugamento do Estado, de eficiência e as propostas que todos fazem em relação à saúde, segurança e educação.
Há uma divisão clara em termos de concepção. Para os tucanos, a ascensão social depende do mérito e da preparação do cidadão para subir na vida. Enquanto que, na linha social democrata do PT, o suporte do Estado é que garante a ascensão social.
Nesta reta final, uma das estratégias do PT será destacar a comparação entre as eras Lula e FHC, principalmente no que diz respeito às privatizações...
A questão da privatização é o que divide os dois. É um diferencial importante. Mas o grande diferencial é o desenvolvimento social e a intervenção para mudanças na estrutura social, com políticas sociais que, no futuro, vão diminuir a desigualdade. Isso com forte apoio de políticas públicas do Estado, que é a linha do PT.
Qual a avaliação do senhor sobre essa estratégia do PT de confrontar as eras Lula e FHC? O PSDB, por sua vez, deve usar mais a imagem de Fernando Henrique Cardoso, que foi praticamente preterido no início da campanha de José Serra.
É um risco para os tucanos entrar com Fernando Henrique agora, porque na comparação entre resultados econômicos e sociais, o período Lula é muito superior ao que aconteceu nos dois governos FHC. Lembre-se que nós saímos do segundo mandato do Fernando Henrique com uma baita desvalorização do Real. O Fernando Henrique teve que elevar juros para enfrentar a crise na Rússia, no México, na Ásia, a níveis de 40% ao ano. E saiu do segundo mandato enfrentando crise e estagnação. O País havia parado de crescer. A política do Lula reverteu essa situação e o País se fortaleceu. Tanto que o Brasil saiu tranquilo da crise finaceira de três anos atrás, que começou nos Estados Unidos.
O senhor falou que espera, para esse segundo turno, um confronto mais direto entre Serra e Dilma. O senhor acha que o tom do discurso dos candidatos será mais elevado. Acredita que vai prevalecer um confronto mais agressivo?
O senhor falou que espera, para esse segundo turno, um confronto mais direto entre Serra e Dilma. O senhor acha que o tom do discurso dos candidatos será mais elevado. Acredita que vai prevalecer um confronto mais agressivo?
O confronto direto ideológico vai ficar agressivo. Não estou dizendo que haverá agressividade do ponto de vista moral. A classe média entrou na discussão por vários meios, inclusive pela internet, por conta da crise na Casa Civil. E os religiosos fundamentalistas partiram para jugular da Dilma, taxando-a de pró- aborto. Isso vai continuar. A oposição está revivendo aquelas matérias todas, já ultrapassadas, do vazamento na Receita Federal e, em seguida, vai voltar, aliás, já voltou, com a questão da Casa Civil.
E na internet continua o terrorismo católico e protestante contra a Dilma.
Ambos os candidatos estão incluindo em suas agendas eventos religiosos. Aliás, a aproximação com grupos religiosos tem sido muito explorada neste início da segunda etapa da disputa. Como o senhor vê a interferência do discurso religioso no debate eleitoral?
Isso é uma tática de campanha. A Dilma está tentando neutralizar os ataques e o PSDB vai entrar na mesma linha. Os discursos do Serra, do domingo pra cá, tem sido nesta direção.
Como o senhor vê a interferência do discurso religioso no debate eleitoral?
Isso tem muito pouco a ver com eleição. É uma estratégia de minar a imagem, a credibilidade da Dilma. Mas, evidentemente, tem uma consequência eleitoral. As posições mais liberais a favor do aborto, casamento gay etc, que, posivelmente, é a posição real da Dilma - não sei se é ou não - têm apelo. Isso reflete na imagem dela, prejudica Dilma junto à população religiosa.
O senhor acredita na possibilidade de uma reviravolta? Dilma deve manter a vantagem observada no primeiro turno ou Serra pode surpreender?
Historicamente, o que se tem visto é que, quem entra no segundo turno na frente, entra com vantagem. O imponderável na campanha agora é que só tem os dois. O eleitorado vai decidir mais rápido. Não há muito tempo para experimentar estratégia pra lá ou pra cá, mas o final, pela lógica, seria Dilma na frente. Mas isso pode alterar. Com certeza.
O apoio de Marina está sendo cobiçado tanto pela campanha de Serra quanto pela campanha de Dilma. Qual o peso do apoio dela?
É importante. É uma pessoa que saiu do primeiro turno com 20 milhões de votos. Ela pode sinalizar uma direção para esse eleitorado. É claro que tem uma parcela que votou nela no porque estava insatisfeita com a Dilma e que pode voltar para ela (a petista). Outros que foram para o Serra também podem voltar. A questão é aquele miolo duro do eleitorado que foi para a Marina, que não tem convicção nem em direção ao Serra nem em direção à Dilma. É aí que o debate crucial vai acontecer. Para onde vai esse eleitor? Se esse pessoal anular o voto, Dilma será favorecida. Serra precisa muito mais conquistar voto do que Dilma.
As previsões das pesquisas de intenção de voto não se confirmaram. Houve quem atribuísse a ocorrência do segundo turno à chamada "onda verde".
Onda verde, não. Onda Marina. O PV não cresceu com nenhum deputado. Absolutamente irrelevante a votação do Partido Verde, exceto em relação à Marina.
Pois então, onde os institutos erraram, se é que houve erro?
O que aconteceu foi o seguinte: todos eles superestimaram a Dilma. A estimativa para o Serra e até para a própria Marina ficou dentro das margens de erros. O que provocou certo desconforto geral é que a estimativa de votos brancos e nulos... os indecisos, ainda na véspera da votação, eram muitos. Alguns deles acabaram votando na Marina. Essa migração de votos foi importante na última semana.
Todos os institutos erraram na estimativa para Dilma. Se todos erraram, algo aconteceu. Se todos cometem o mesmo erro é porque todos foram incapazes de captar, a tempo, as mudanças dos últimos dias, a virada em direção à Marina. Em relação a Dilma, todos, sem exceção, erraram. Ficaram muito fora da margem de erro.
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