Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro
Em uma avaliação rasa, com lastro apenas nos fatos mais evidentes que determinaram a realização de um segundo turno nas eleições brasileiras, a primeira impressão é a de um pesadelo, clássico, no qual se está a um passo de alcançar o objetivo e este se afasta e se afasta. O projeto de sociedade que prioriza os pobres, os desvalidos do que há de mais básico na vida de um homem livre e digno, desde sempre, esta iniciativa segue indefinida, outubro adentro. Prevaleceu junto aos crentes e à pequena burguesia brasileira, com seus expoentes nas sociedades carioca e candanga, uma campanha sórdida desencadeada pela internet, com o apoio dos diários conservadores que integram o Partido da Imprensa Golpista, ou PIG (porco, na sigla em inglês), como se referem jornalistas independentes à tríade de famílias que controla mais de 80% da mídia nacional. A manipulação que essa gente produz, em quantidades industriais, é de deixar Göebbels exultante com o êxito de seus pupilos.
Ainda atordoados pela ausência dos 3,09% dos votos necessários à vitória da democracia sobre a truculência da mesma facção política que patrocinou a pior ditadura já vivida neste país, os coordenadores da campanha que reúne os partidos de centro e de esquerda começam a lustrar as armaduras para a próxima batalha, nas urnas, dia 31. Vão precisar, sim, de todas as espadas-de-São-Jorge e quilos de arruda para desfazer a mandinga que urde o grupo de defensores do capitalismo autoimune, da escravidão secular, do entreguismo perene que, não faz tanto tempo, vendeu a maior mineradora do mundo a preço de banana e, por pouco, não cede o petróleo nacional à farra das corporações transoceânicas.
O discurso pseudo-moralista com o qual se apresentam agora, para o segundo turno, os mesmos protagonistas de escândalos em série, a exemplo das privatizações realizadas ao longo da década desperdiçada na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, este é o mesmo discurso do medo e da insegurança na capacidade de governo desta equipe que realizou, em oito anos, o que os neoliberais do PSDB, aliados aos ultraconservadores do extinto PFL, deram de mão beijada às fortunas que hoje os alimentam, com pesadas somas em dinheiro. É tanto dinheiro que, até agora, não explicaram bem o sumiço de R$ 4 milhões em doações não contabilizadas para a campanha majoritária da coligação Brasil Pode Mais, onde se juntam o PSDB, o DEM, o PPS e outros.
Os 46,91% de eleitores que escolheram o arco da sociedade onde, historicamente, situa-se a porção mais íntegra e libertária desta nação, esta maioria que só não foi absoluta por conta das abstenções, bem mais do que por um discurso fácil sobre a óbvia necessidade de se equilibrar economia e ecologia, estes homens e mulheres renovarão mais uma vez, na ponta dos dedos, o compromisso do país com a justiça social. São apenas dois lados agora. A terceira via proposta por neocapitalistas, dondocas e afins será insuficiente para deter o progresso que a sociedade brasileira, organizada, exige de seus governantes.
Ecocandidata de carisma inegável, sorriso de madre Tereza de Calcutá e leveza de uma top model acreana, hoje disputada como troféu pelas forças antagônicas que se enfrentam na cabine eleitoral, é a representante de uma legenda que se divide entre o candidato derrotado ao governo do Estado do Rio, que largou a guerrilha para posar ao lado de seus algozes e declarar voto ao retrocesso, e o ex-ministro da Cultura, cantor e compositor que vota de forma diametralmente oposta. Ainda que esguia, ela pesa o dobro da legenda onde abriga seus ideais e, certamente, ficará distante da briga, não tanto a ponto de ser esquecida, nem tão pouco, para sustentar a tênue silhueta de seu belo desempenho no primeiro turno.
Prontos para o novo embate, os líderes que conduziram o Brasil por entre as tempestades gestadas no âmago do sistema, esperamos todos, precisam ser despertados dessa letargia e partir para dentro do desafio que é o de mostrar aos compatriotas o quanto ainda é preciso andar até a erradicação total da miséria, até o fim da iniquidade e a derrota final das forças que ainda dominam setores inteiros da nossa sociedade, a começar pelas rádios, canais de TV, jornais impressos e portais de internet que insistem em manter os brasileiros sob o sono pesado da ignorância e do medo.
Gilberto de Souza é editor-chefe do Correio do Brasil.
Em uma avaliação rasa, com lastro apenas nos fatos mais evidentes que determinaram a realização de um segundo turno nas eleições brasileiras, a primeira impressão é a de um pesadelo, clássico, no qual se está a um passo de alcançar o objetivo e este se afasta e se afasta. O projeto de sociedade que prioriza os pobres, os desvalidos do que há de mais básico na vida de um homem livre e digno, desde sempre, esta iniciativa segue indefinida, outubro adentro. Prevaleceu junto aos crentes e à pequena burguesia brasileira, com seus expoentes nas sociedades carioca e candanga, uma campanha sórdida desencadeada pela internet, com o apoio dos diários conservadores que integram o Partido da Imprensa Golpista, ou PIG (porco, na sigla em inglês), como se referem jornalistas independentes à tríade de famílias que controla mais de 80% da mídia nacional. A manipulação que essa gente produz, em quantidades industriais, é de deixar Göebbels exultante com o êxito de seus pupilos.
Ainda atordoados pela ausência dos 3,09% dos votos necessários à vitória da democracia sobre a truculência da mesma facção política que patrocinou a pior ditadura já vivida neste país, os coordenadores da campanha que reúne os partidos de centro e de esquerda começam a lustrar as armaduras para a próxima batalha, nas urnas, dia 31. Vão precisar, sim, de todas as espadas-de-São-Jorge e quilos de arruda para desfazer a mandinga que urde o grupo de defensores do capitalismo autoimune, da escravidão secular, do entreguismo perene que, não faz tanto tempo, vendeu a maior mineradora do mundo a preço de banana e, por pouco, não cede o petróleo nacional à farra das corporações transoceânicas.
O discurso pseudo-moralista com o qual se apresentam agora, para o segundo turno, os mesmos protagonistas de escândalos em série, a exemplo das privatizações realizadas ao longo da década desperdiçada na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, este é o mesmo discurso do medo e da insegurança na capacidade de governo desta equipe que realizou, em oito anos, o que os neoliberais do PSDB, aliados aos ultraconservadores do extinto PFL, deram de mão beijada às fortunas que hoje os alimentam, com pesadas somas em dinheiro. É tanto dinheiro que, até agora, não explicaram bem o sumiço de R$ 4 milhões em doações não contabilizadas para a campanha majoritária da coligação Brasil Pode Mais, onde se juntam o PSDB, o DEM, o PPS e outros.
Os 46,91% de eleitores que escolheram o arco da sociedade onde, historicamente, situa-se a porção mais íntegra e libertária desta nação, esta maioria que só não foi absoluta por conta das abstenções, bem mais do que por um discurso fácil sobre a óbvia necessidade de se equilibrar economia e ecologia, estes homens e mulheres renovarão mais uma vez, na ponta dos dedos, o compromisso do país com a justiça social. São apenas dois lados agora. A terceira via proposta por neocapitalistas, dondocas e afins será insuficiente para deter o progresso que a sociedade brasileira, organizada, exige de seus governantes.
Ecocandidata de carisma inegável, sorriso de madre Tereza de Calcutá e leveza de uma top model acreana, hoje disputada como troféu pelas forças antagônicas que se enfrentam na cabine eleitoral, é a representante de uma legenda que se divide entre o candidato derrotado ao governo do Estado do Rio, que largou a guerrilha para posar ao lado de seus algozes e declarar voto ao retrocesso, e o ex-ministro da Cultura, cantor e compositor que vota de forma diametralmente oposta. Ainda que esguia, ela pesa o dobro da legenda onde abriga seus ideais e, certamente, ficará distante da briga, não tanto a ponto de ser esquecida, nem tão pouco, para sustentar a tênue silhueta de seu belo desempenho no primeiro turno.
Prontos para o novo embate, os líderes que conduziram o Brasil por entre as tempestades gestadas no âmago do sistema, esperamos todos, precisam ser despertados dessa letargia e partir para dentro do desafio que é o de mostrar aos compatriotas o quanto ainda é preciso andar até a erradicação total da miséria, até o fim da iniquidade e a derrota final das forças que ainda dominam setores inteiros da nossa sociedade, a começar pelas rádios, canais de TV, jornais impressos e portais de internet que insistem em manter os brasileiros sob o sono pesado da ignorância e do medo.
Gilberto de Souza é editor-chefe do Correio do Brasil.
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