Cândido Vaccarezza*
O Brasil está prestes a se alinhar às principais nações do mundo no que se refere ao transporte de passageiros. Cabe ao Congresso Nacional a tarefa de aprovar a MP 511/2010, que autoriza a União a emprestar até R$ 20 bilhões, por meio do BNDES, ao consórcio vencedor da licitação para construir o Trem de Alta Velocidade (TAV) entre Campinas, São Paulo e o Rio de Janeiro.
Há quem pense que o projeto foi pensado única e exclusivamente para atender às exigências da Fifa e do Comitê Olímpico Internacional para a realização no Brasil da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
Esse é apenas um benefício, mas, na verdade, as intenções são muito mais nobres e preveem o desenvolvimento econômico e social do país, principalmente das cidades cortadas pelos trilhos. Trata-se de iniciar o processo de correção do erro histórico que foi a priorização do transporte rodoviário, em detrimento do ferroviário, que já existia e foi sistematicamente depredado a partir dos anos 1960.
Além da linha de trens de alta velocidade que ligará Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, também já está projetada a que fará integração da capital paulista com Belo Horizonte e Curitiba. Associado a outros projetos ferroviários, como a Ferronorte e Ferrovia Norte-Sul, o TAV tem capacidade de promover o fortalecimento da matriz de transporte ferroviário.
Essa alteração visa contribuir para o atendimento de uma das principais reivindicações da indústria, que é a melhoria da infraestrutura de transporte do país, reduzindo-se, desta forma a pressão sobre as vias existentes, que estão altamente saturadas.
A capacidade de ampliação da demanda de transporte de passageiros pelo TAV é altamente ampliada com outra correção a ser promovida pelo sistema, que é a interligação dos aeroportos com as vias férreas, assim como já ocorre em outros países. Isso facilita o acesso, reduz o tempo gasto com o deslocamento e torna o sistema mais útil.
Em cidades com grandes congestionamentos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas, somente esse fator já justificaria o investimento. Mas a redução do tempo de deslocamento até os aeroportos é apenas mais um benefício. O tempo também é reduzido nas viagens em todo o percurso, com a vantagem de os trens utilizarem energia limpa, reduzindo drasticamente a emissão de poluentes.
O TAV também tem um grande potencial de indução da cadeia produtiva das cidades cortadas pelos trilhos, ampliando suas capacidades de geração de empregos e de desenvolvimento sócioeconômico.
O chamado “trem bala” é altamente seguro. Implantado no Japão em 1964, chegou a funcionar 40 anos sem nenhum acidente. Tem grande capacidade de transporte e alto nível de conforto.
A proposta a ser aprovada pelo Congresso Nacional para a construção do TAV prevê investimentos da iniciativa privada, com financiamento do Governo Federal por meio do BNDES. Assim, a presidenta Dilma Rousseff mostra que pretende continuar com a política desenvolvimentista iniciada pelo governo Lula, que evitou que a crise econômica de 2008/2009 provocasse grandes estragos no país, mantendo o crescimento com distribuição de renda.
Juntamente com o TAV, estão sendo priorizadas as construções de usinas hidrelétricas, como a Belo Monte, e se inicia o processo de modernização dos portos, sem se esquecer da manutenção e conservação das estradas, que, atraso nosso, ainda é a principal matriz de transporte do país. Os governos estaduais e municipais também têm que dar sua contribuição e investir na criação e/ou ampliação das redes de metrô, corredores de ônibus, em sistemas de veículos leves sobre pneus e sobre trilhos.
Não podemos ser amantes do passado, como diz a canção de Belchior. Temos que aproveitar que o Brasil finalmente está preparado para o futuro e não perder o trem, de alta velocidade.
*Deputado federal (PT-SP), líder do governo na Câmara
Congresso em Foco
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