Marcos Coimbra - Marcos Coimbra
Correio Braziliense - 30/03/2011
O que leva, então, a que tanta gente fique olhando para o PSD de Kassab? Se não é ele, será que veem algo ou alguém por trás, suficientemente relevante para merecer atenção?
Em nossa história política, temos exemplos de partidos que se formaram de várias maneiras. Muitos foram constituídos dentro do padrão clássico: surgiram quando diferentes pessoas, que acreditavam em coisas parecidas, se organizaram para alcançar objetivos políticos, isto é, que diziam respeito ao Estado. Não importa seu número, nem ideologia.
O relevante é que se dispunham a agir conjuntamente na vida política. Em última instancia, que pretendiam chegar ao poder, para fazer com que seus projetos para a sociedade fossem realizados.
Temos dois bons exemplos de partidos que nasceram assim: na República de 45, a UDN; nesta, o PT. Ambos foram criados com as eleições em mente, para disputá-las, conquistar mandatos e exercer funções de representação. Como ocorre com os partidos democráticos, a associação entre seus fundadores foi voluntária e simétrica. Ninguém mandava em ninguém, salvo nos termos definidos por regras aceitas.
O PT não é, atualmente, o único desse tipo. Mas é o mais bem sucedido.
Outros surgiram a partir de movimentações de lideranças que já estavam dentro do sistema político. Foi a insatisfação que as levou a buscar outra opção partidária. Ou não cabiam mais em um dos partidos existentes, ou não viam como representar seus eleitores permanecendo onde estavam. Existem outros, mas, nesse gênero, o PSDB é o que mais longe foi.
Tivemos partidos que nasceram da ação individual de um fundador, sem a qual não existiriam. Seus filiados eram, antes de qualquer coisa, seguidores das orientações do líder. Para entrar em um deles, a adesão era o teste fundamental. No Brasil recente, o melhor exemplo foi o brizolismo, sendo o PDT, na origem, sua expressão.
E há os partidos de conveniência. Eles não se enraízam nos interesses e preferências de uma parcela relevante da sociedade. Não decorrem da movimentação de um grupo de lideranças representativas. Não se estruturam em torno de personagens carismáticos, que empolgam emoções.
São, na maioria dos casos, veículos de importância proporcional à dos políticos que os criam, quase sempre para satisfazer ambições e vaidades. Dissidências que não vão longe, arranjos locais insignificantes no plano nacional. Não têm identidade ideológica, sendo suas plataformas programáticas apenas amontoados de banalidades. Quando têm ideias próprias, costumam defender bizarrices.
Seu PSD não expressa a vontade de lideranças à procura de nova identidade política. Ao contrário, é ele que está à cata de adesões.
Nosso sistema partidário está cheio deles. E acaba de receber mais um, o PSD criado por Kassab.
Ninguém leva a sério os partidos de conveniência, mas, sabe-se lá o porquê, o de Kassab, sim. A imprensa paulista dedica ao PSD um espaço despropositado. Nos últimos dias, por exemplo, foi objeto de páginas inteiras em um dos jornais da capital.
É difícil imaginar um político com menos carisma que Kassab. Só quem não o conhece acreditaria que seja capaz de cativar corações e mentes.
O que leva, então, a que tanta gente fique olhando para o PSD de Kassab? Se não é ele, será que veem algo ou alguém por trás, suficientemente relevante para merecer atenção?
Quem seria? Quem poderia estar no pano de fundo das movimentações do prefeito?
Algumas pistas: para que partido está indo o candidato a vice na chapa derrotada do PSDB na eleição passada? E para qual parece se inclinar a senadora do DEM que tinha sido cogitada para o lugar? E quem é o fundador e líder maior do PSD, senão o ex-companheiro de chapa do candidato tucano de 2010?
Pode ser que tudo seja coincidência, mas que há um cheiro de Serra no ar, há. Com espaço cada vez menor no DEM e no PSDB, uma hora dessas quem acaba no PSD é ele.
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