terça-feira, 29 de março de 2011

O vírus da corrupção do DEM

Isto é - 28/03/2011


Distribuidora exclusiva da Microsoft no Brasil , a TBA pode estar muito mais envolvida com a máfia do Mensalão do DEM do que Bill Gates poderia imaginar


Durante uma reunião com a cúpula do Banco do Brasil, em 1992, em Brasília, o dono da Microsoft, Bill Gates, surpreendeu-se ao ver pela janela do prédio um monomotor com uma faixa em que se lia: “Welcome, Bill Gates. TBA.” Surpreendido pela audácia e o oportunismo das boas-vindas, Bill Gates ficou interessado em saber o que era, afinal, TBA. No dia seguinte, fez questão de conhecer a empresária Cristina Boner, proprietária do grupo. Nascia ali uma bem-sucedida parceria. Ao conquistar a exclusividade na venda Windows no Brasil, Cristina transformou a TBA num conglomerado que fatura quase meio bilhão de reais por ano. Mas, a partir da operação Caixa de Pandora da Polícia Federal, a trajetória de Cristina entrou em parafuso. Seus problemas começaram com a divulgação do vídeo em que ela aparece negociando propinas para abastecer o Mensalão do DEM, que derrubou o governador do DF, José Roberto Arruda. O escândalo mudou o perfil efusivo de Cristina, que vivia em festas da elite brasiliense e, por consequência, nas colunas sociais dos jornais locais. Enquanto tenta se desvincular das graves denúncias que atingem seus negócios, a empresária se mudou para São Paulo. “A Cristina está focando seus negócios mais na iniciativa privada e menos na administração pública”, diz um especialista do mercado de informática.


O esforço para fugir dos holofotes de Brasília tem sido em vão. As imagens nas quais ela aparece negociando o pagamento de R$ 1 milhão para o esquema de desvios no governo Arruda voltaram a ser notícia. Novas imagens mostram conversas indiscretas da dona da TBA. Cristina aparece negociando altas cifras com o ex-secretário Durval Barbosa, o pivô do escândalo do Mensalão do DEM. Segundo funcionários do governo do Distrito Federal, os dois tinham uma relação íntima e Cristina não imaginava que pudesse ser traída pelo ex-parceiro. Além de distribuir o vídeo comprometedor (leia os diálogos ao lado) Durval já tinha prestado três depoimentos ao Ministério Público narrando os encontros com a empresária. No primeiro depoimento, o delator explicou que os R$ 50 mil entregues ao ex-governador Arruda tinham origem nas propinas pagas por Cristina. Eram parte do R$ 1 milhão que a empresária pagou ao esquema para fechar um contrato emergencial de R$ 9,8 milhões com o governo do DF.


No segundo depoimento, Durval diz que recebeu mais de R$ 200 mil das mãos de Cristina para ser entregues ao então vice-governador, Paulo Octávio. O dinheiro, afirma ele, era correspondente à propina cobrada de contratos de prestação de serviços no setor de informática, celebrados com a TBA de Cristina. Num terceiro depoimento, o delator apresentou mais detalhes sobre o dinheiro entregue a Paulo Octávio. Durval explicou que a propina ao vice-governador era uma exigência de José Roberto Arruda. Em entrevista logo após o escândalo, Cristina negou que tivesse pago propina para o esquema do Mensalão do DEM. “O dinheiro não é meu”, alegou. A empresária ameaçou processar Durval Barbosa, mas até o momento não há na Justiça de Brasília qualquer ação da dona da TBA contra o delator.

Cristina admitiu a colaboradores da TBA que sua imagem ficou profundamente arranhada pelo escândalo. Ela sabe também que há mais por vir. Este ano, a Justiça Federal em Brasília julgará um processo que se arrasta há uma década, no qual Cristina é acusada de enriquecimento ilícito, superfaturamento e improbidade administrativa. O caso remete a um contrato fechado com a Caixa Econômica para o fornecimento de 110 mil cópias do software Money, da Microsoft. A investigação dos procuradores aponta um possível prejuízo aos cofres públicos de R$ 13 milhões. Pode sobrar para a Microsoft Corporation, que também responde pelos mesmos crimes na ação. Para especialistas do mercado, a eventual condenação da empresa de Bill Gates por enriquecimento ilícito teria uma forte repercussão negativa. No TJ do DF há outro processo contra Cristina, no valor de R$ 2,4 milhões, mas não é permitido o acesso aos autos. Com todas essas atribulações, a vistosa carruagem de Cristina Boner está quase virando abóbora.


PROPINA ACERTADA


O diálogo entre Cristina Boner e Durval Barbosa mostra a montagem de um contrato de R$ 9,8 milhões sem licitação em troca de R$ 1 milhão para o esquema do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. A conversa da empresária com o ex-secretário indica que o contrato poderia sofrer aditivos e chegar a mais de R$ 15 milhões.

CONTRATO EMERGENCIAL

Durval – Quando eu me comprometo com uma coisa...

Cristina – Você faz.

Durval – Eu faço... vou fazer um emergencial para você, por cinco meses e por nove e oitocentos.

Cristina – Como você conseguiu isso? Muito bom... Como é que você vai fazer esse emergencial? Não é pregão?

Durval – Não, é emergencial.

UM NEGÓCIO DE R$15 MILHÕES


Durval – Vou fazer um pregão depois. Mas não é de nove e oitocentos. Eram 15 e meio e eu tirei os nove e oitocentos. Vou deixar essa diferença para aditar... alguma coisinha que venha a faltar... e aí vai abrir para mim.

Cristina – Entendi, entendi...aí essa diferença vai ser licitação, vai ser pregão...
Durval – Não. Eu vou fornecer tudo a seu favor, tá?


DOAÇÃO DE R$ 1 MILHÃO


Cristina – Se eu não tiver o negócio, me ferro...

Durval – ...você enten­deu o que eu falei? É um milhão... para mim você não vai doar nada, mas vai doar... como são 15....você também vai me passar umas coisas.
Cristina – Hum...
Durval – Eram 300 mil


Cristina – Hum, hum (concordando). Entendi, a gente faz a proposta de um milhão.

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