Diante da estranha estreia do programa de uma empresa privada de comunicação em um horário nobre da emissora pública paulista Cultura, a própria Folha de S.Paulo, responsável pela ‘TV Folha’, publicou no último domingo (18), na coluna Ombusdman escrita por Suzana Singer, uma autocrítica sobre a falta de justificativa de tal parceria.
"O jornal não explicou direito as bases desse acordo. Trata-se de uma permuta: em troca dos 30 minutos na televisão, a Folha cede páginas de anúncios para a Cultura. As despesas do ‘TV Folha’ são do jornal, mas são compensados pela receita publicitária. (...) Não houve concorrência, mas a Folha não foi a única convidada. ‘Não cabe licitação, porque todos os grandes jornais de São Paulo foram chamados em condições de igualdade’, diz a Cultura. Segundo a emissora, o programa do ‘Estado de S.Paulo’ deve estrear no segundo semestre, o ‘Valor’ ainda não apresentou uma proposta e a revista ‘Veja’ desistiu”, diz trechos do artigo.
No intuito de questionar este processo de privatização, jornalistas, acadêmicos e representantes de organizações estão lançando uma campanha contra a Privataria da Cultura. Um dos primeiros passos foi o envio de um ofício ao Diretor-Presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad, solicitando a abertura de espaços na programação para outras entidades.
O Centro de Estudos Barão de Itararé, que assina o ofício, se apresenta como interessado em pleitear um espaço na programação da emissora. “O Barão e estas entidades seriam inscritas por edital público e a seleção dos programas apresentados seria feita através de pitching”, diz o ofício, que contrapõe o modelo de escolha adotado pela Cultura com as empresas privadas – segundo explicação dessas.
O documento protocolado argumenta que “é missão inalienável da TV pública garantir a diversidade e a pluralidade informativa e cultural, abordando temas de interesse social e local, garantindo a projeção da comunidade em que está inserida para dar visibilidade a questões que, na maioria das vezes, não têm espaço nos veículos comerciais”.
Além disso, a campanha lança um manifesto que denuncia a extinção de alguns programas, aniquilação das equipes da Rádio Cultura e estrangulamento da equipe de jornalismo, mais de mil demissões, enfraquecimento da produção de conteúdo próprio, terceirização da programação sem transparência e sem critérios públicos, entre outros. E se posiciona em defesa da diversidade na programação, abertura à programação independente e pela democratização do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta.
A campanha reúne o Centro de Estudos Barão de Itararé, Altercom, Intervozes, o intelectual Luiz Gonzaga Belluzzo, os jornalistas Luiz Carlos Azenha, Rodrigo Vianna, Gilberto Maringoni, o professor Laurindo Lalo Leal Filho, o diretor da Carta Maior, Joaquim Palhares e o diretor da revista Caros Amigos, Wagner Nabuco. Eles irão organizar um ato de lançamento em São Paulo para dar visibilidade à questão.
Carta Maior
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