sábado, 24 de março de 2012

A saudável alternância no poder


Nada podia ter surtido melhor efeito neste prelúdio de campanha eleitoral que aquela rodada de bolsa insinuante de Gilberto Kassab se achando a azeitona da empada. A mídia fez a leitura mais conveniente ao seu partido. Seus analistas acusando o PT de fazer qualquer coisa pelo poder, soaram como uma valsa para os virtuais adversários de Fernando Haddad e muitos eleitores petistas se indignaram e chegaram a “anular” seu voto. Marta Suplicy sentiu náuseas só de pensar em subir ao palco “de mãos dadas” com Kassab e a militância petista descobriu seu limite: uma aliança com o PSD teria sido devastadora e a prefeitura de São Paulo sairia muito cara. Se tudo correr de acordo com o script e Serra for confirmado oficialmente candidato do PSDB neste domingo, o saldo será positivo. Serra é o melhor adversário para Haddad. É o perdedor que todo adversário sonha em enfrentar. Outra notícia positiva: alguns intelectuais que se afastaram do PT em 2005, por conta da pirotecnia midiática batizada de “mensalão” (Roberto Jefferson em 2005) ou rebatizada de “pura retórica” (Roberto Jefferson em 2011), se aproximam de Fernando Haddad e de sua campanha dispostos a contribuir. É evidente que isso tem a ver com a gestão do ex-ministro frente ao MEC e a provável enfase na educação em seu governo, caso eleito.

 
Como dois e dois são quatro, a campanha de Serra tentará desqualificar o sucesso retumbante do Enem requentando pequenas falhas pontuais que não chegaram a atingir 0,02% dos 4 milhões de alunos que prestaram o exame no ano passado. Ou a “falha” da Plural – gráfica da Folha – na impressão de uma página de um dos lotes da prova, o que também significou migalhas por cento em 2010. São argumentos que só alimentam os mesmos 6% cães raivosos, anti-petistas de carteirinha. De resto, os números mostram que Enem e ProUni anularam grande parte do filtro social excludente dos cursinhos pré-vestibulares. Com isso, o MEC colocou milhões de jovens de baixa renda na universidade.

Semana passada, Haddad disse que o PSDB de São Paulo é uma bola de ferro presa ao pé do Brasil. Exagero. São Paulo, por ser todo o bla bla blá de maior estado, maior economia, maior número de eleitores, maior isso e aquilo – é importante, mas não é imprescindível. O Brasil cresce e continuará crescendo em outras regiões acima dos índices paulistas. Fato é que o governo Lula desamarrou o Brasil e deslocou o eixo do crescimento que sempre esteve cravado no centro-sul do país. Hoje o nordeste cresce em ritmo chinês. Se a bola de ferro de São Paulo está presa a algum lugar, aprisiona, isso sim, o próprio estado ao século 20. A última coisa que São Paulo precisa, é crescer. O que é realmente urgente para esta cidade? Distribuição de qualidade de vida para TODA a população – coisa que os tucanos simplesmente não sabem fazer. E não é por opção deles: é de sua natureza, é seu DNA.

 
A oposição e sua mídia imprimem às eleições deste ano, particularmente em São Paulo, a batalha “de vida ou morte para evitar a hegemonia nacional do PT”. Isso é conversa pra boiada. Não se trata da hegemonia de um partido. Até porque o PT só consegue vencer e governar com ampla coalização de partidos – como tem sido em seus três mandatos. Trata-se da hegemonia de um PROJETO para o país que é o oposto do neoliberalismo que estagnou nossa economia por uma década. O Brasil é um continente com 200 milhões de habitantes. Foram 5 séculos de miséria, analfabetismo e subdesenvolvimento que permaneceram intactos, cercando uma ilhota de privilegiados. E os governos quase nada fizeram para mudar essa realidade e nem foram questionados pela imprensa. Mas, assim que Lula tomou posse em 2002, o oligopólio midiático “lembrou-se” do conceito que permaneceu adormecido em suas redações por cinco décadas (e continua dormindo em São Paulo): a “saudável alternância no poder”. De lá para cá, a expressão virou quase uma oração para o PiG.


 
No “governo do povo, pelo o povo, para o povo” – que é o conceito básico da democracia – é necessário, sim, praticar a “saudável alternância no poder”. Desde que não se transforme no “governo das elites, pelas elites, para as elites”! Se a “saudável alternância no poder” torna-se o “desfazer o que foi feito e refazer do nosso jeito”, então ficaremos andando em círculos. Em plena campanha eleitoral de 2010, por exemplo, Serra já prometia à Chevron modificar a legislação do Pré-sal de forma a facilitar a criação de um duto de escoamento dessa riqueza diretamente para os cofres de Wall Street. Em outras palavras: Privataria Tucana 2! (Ou seria a 3, Amaury?) O petróleo brasileiro, seria extraído a preço de banana e serviria para socorrer as economias que afundavam desde a crise de 2008. Estava implícito também, que nesse embalo, pretendiam desconstruir os 8 anos do governo Lula e redirecionar o país e o restante da América do Sul à senzala dos EUA! Serra insinuou tudo isso durante a campanha. Chegou, inclusive, a insultar alguns governos sul-americanos, chamando-os de traficantes de drogas. Ora! Serra na presidência não seria “saudável alternância no poder”, seria voltar à estaca zero; voltar ao ponto pós ditadura dos anos 60-80! Aí está a equação que polariza o jogo do poder no Brasil.


 
O PT pode ter mudado, crescido, se adaptado, se aproximado, se distanciado… Mas ainda é a opção “menos ruim”, mais progressista, pra dizer o mínimo. Já estamos prestes a ocupar o quinto lugar entre as maiores economias, ultrapassando a França. Por outro lado, a oposição e as elites brasileiras continuam ligadas pelo umbigo à Casa Grande do Tio Sam. Frequentam seus salões de festa e põem-se a falar mal do Brasil pelo governo que elegeu. Entre goles de champanhe e bocados de caviar, é claro. Afinal, ninguém é de ferro…


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