O bicheiro goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, o “Carlinhos Cachoeira”,
adquiriu da provedora de telefonia norte-americana Nextel 15 aparelhos, os quais
cedeu a pessoas de sua confiança. Segundo as investigações da Operação Monte
Carlo, levada a cabo pela Policia Federal, um policial corrupto dessa corporação
orientou o bicheiro a habilitar os aparelhos nos Estados Unidos de forma a que
ficassem imunes a grampos legais e ilegais.
Há três semanas, a Polícia Federal prendeu Cachoeira durante a Operação Monte
Carlo, sob acusação de liderar uma quadrilha que operava máquinas caça-níqueis
em Brasília e Goiás. E descobriu que, dentre os 15 telefones que ele
distribuíra, um fora entregue ao líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO),
promotor de carreira que ficou conhecido por acusar seguidamente de corrupção o
governo do PT, seus membros e aliados.
Em um primeiro momento, de jornalistas a políticos (do governo e da oposição)
saíram em defesa do líder do DEM no Senado – que, até o momento, ainda ocupa o
cargo, apesar das denúncias arrasadoras.
Logo após a revelação de que o bicheiro havia dado presentes caríssimos a
Demóstenes, este subiu à tribuna do Senado para dar suas explicações, ao que 43
senadores o apartearam prestando solidariedade e apoio. Quatro adversários
petistas – Eduardo Suplicy (SP), Paulo Paim (RS), Jorge Viana (AC) e Marta
Suplicy (SP) – foram à tribuna defendê-lo.
Em seguida, jornalistas como Reinaldo Azevedo, da revista Veja, também
fizeram questão de lembrar ao distinto público a “gloriosa” trajetória de
Demóstenes, que, até poucos dias atrás, dispunha de grande espaço na grande
mídia para acusar os adversários de envolvimento com corrupção (!).
Como se fosse pouco, no fim de semana vieram à tona denúncias como a da Carta
Capital, de que Demóstenes teria faturado incríveis 50 milhões de reais no
esquema de Cachoeira. E, para coroar tudo, o jornalista Luis Nassif denunciou no
domingo, em seu blog, que a operação Montecarlo, da Polícia Federal, teria
encontrado mais de 200 ligações entre o bicheiro e pessoas da direção da revista
Veja.
O silêncio ensurdecedor da classe política em relação a Demóstenes, seu
possível envolvimento até com meios de comunicação, tudo isso é afetado por um
número cabalístico: o número 15.
O trabalho que o criminoso teve para habilitar os aparelhos fora do país de
forma a imunizá-los contra escutas e o fato de um desses aparelhos ter ido parar
nas mãos – ou nos ouvidos – de um político do peso do senador do DEM de Goiás,
sugerem que os outros 14 aparelhos não devem ter ido parar nas mãos de qualquer
um.
A Operação Monte Carlo flagrou ligações de Cachoeira para autoridades do
governo de Goiás, sob comando do tucano Marconi Perillo, e detectou que, ano
passado, um relatório de quase 500 páginas com endereços e nomes de integrantes
da quadrilha que explorava jogos ilegais fora entregue ao então diretor-geral da
polícia do governo do Estado. E nada aconteceu. Se não fosse a Polícia Federal,
Cachoeira continuaria livre.A polícia de Perillo sentou sobre o caso.
A PF também captou conversa telefônica em que Cachoeira pede ao ex-presidente
da Câmara Municipal de Goiânia Wladimir Garcez (PSDB) que interfira em operações
da Polícia Civil para combater jogos ilegais. De acordo com a Polícia Federal, o
ex-vereador Garcez intermediava os contatos entre Carlinhos Cachoeira e o
governador Perillo. A PF apurou que Garcez trocava torpedos com Perillo.
Ainda não foram divulgados os nomes dos outros beneficiados – ou, agora,
amaldiçoados – pelos outros 14 aparelhos Nextel. Não parece difícil intuir, no
entanto, que Cachoeira deve ter dado a pessoas que de forma alguma poderiam ser
flagradas conversando consigo por ocuparem posições de importância análoga à do
senador da República Demóstenes Torres.
Assim como se descobriu que o ex-publicitário Marcos Valério estendeu
tentáculos por PT, PSDB, DEM etc., supõe-se que o silêncio da classe política em
relação a Cachoeira pode decorrer de situação parecida com a do pivô do
escândalo do mensalão, mas não só. A notícia divulgada ontem por Luis Nassif, de
que membros da direção da Veja teriam mantido centenas de contatos com o
bicheiro, dá a dimensão daquilo em que esse escândalo pode se converter.
Após a descoberta das relações de Cachoeira com um senador e um grande meio
de comunicação, não parece exagero suspeitar de que um dos 14 celulares pode ter
ido parar em mãos impensáveis como, por exemplo, a de um importantíssimo membro
do Judiciário. Ou que tenha sido usado para ligar para essa pessoa. Enquanto
isso, iniciativas no Congresso para abrir uma CPI encontram resistência em quase
todos os partidos.Fonte:Blog da Cidadania
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