Ora, ora. Todo mundo sabia que a mídia tucana providenciaria um petardo contra o PT e a candidatura à reeleição da presidenta Dilma, com o objetivo de varrer para debaixo do tapete o escabroso caso dos 14 milhões de reais do erário público gastos para construir uma aeroporto nas terras da família de Aécio Neves. Mas, sinceramente, por mais que o Jornal Nacional deste sábado tenha gastado mais de cinco minutos explorando o assunto, o que veio foi um tiro de espingarda de chumbinho. Claro que a mídia partidarizada de tudo fará ao longo desta semana para tentar amplificar a denúncia da Veja, segundo a qual os depoentes da CPI da Petrobras eram informados de antemão por funcionários do Senado e do governo sobre as perguntas a serem feitas pelos senadores durante as sessões. Mas certamente não resistirá à confrontação com os fatos.
O que o mais fétido lixo jornalístico do país estampa com estardalhaço na edição desta semana não passa de um conjunto de ilações maldosas, feitas a partir de fragmentos de conversas gravadas, segundo Veja por uma câmara instalada numa ponta de caneta por um infiltrado qualquer a soldo da revista. Apelando para a conhecida tática da descontextualização, afirmam que o ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli,e o ex-diretor da área internacional, Nestor Cerveró, tiveram conhecimento antecipado das perguntas,
No vídeo ao qual a revista teve acesso, na certa obtido de forma ilegal, como é do padrão Veja, ouve-se o chefe do escritório da Petrobras, em Brasilia, José Eduardo Barrocas, o advogado da empresa, Bruno Ferreira e uma terceira pessoas não identificada conversando sobre as tais perguntas. Só que Veja não diz que perguntas são essas e muito menos o conteúdo das respostas. Também são citados nas gravações, como repassadores das perguntas, um funcionário do Senado e outro da Secretaria de Relações Institucionais do governo. As perguntas teriam sido repassadas pelo relator da CPI no Senado, senador José Pimentel (PT-CE), a Gabrielli. Também Graça Foster, presidenta da empresa, recebeu o texto contendo as perguntas, diz a revista.
Removendo o entulho eleitoreiro da revista, vamos ver o que sobra. Até as paredes do Congresso Nacional sabe que uma CPI como essa da Petrobras provoca uma dura disputa entre governo e oposição. Como o nome e a reputação da maior empresa brasileira está sob ataque cerrado da oposição destro-midiática, nada mais natural que a direção da estatal e o governo preparem seus depoentes para o bombardeio de uma sessão de CPI, que normalmente atraiu muitos holofotes, incentivando posturas midiáticas e pirotécnicas por parte de alguns parlamentares.
A chave para entender o caso está na declaração do advogado de Nestor Ceveró, admitindo que seu cliente participou de um "media training" a convite da Petrobras. Grandes empresas preparam seus executivos para o contato com a imprensa através de cursos e dinâmicas desse tipo. E quando esses executivos serão expostos diante da sociedade numa CPI, não é o caso desses treinamentos serem ainda mais detalhados e cuidadosos ?
A gravação das conversas mostra que a partir dos questionamentos feitos pela imprensa e pela oposição, e tendo por base os vários depoimentos anteriores prestados pelos atuais e ex-presidentes e diretores da Petrobras no Congresso Nacional, é perfeitamente possível preparar os futuros depoentes. E é isso que foi feito. Mal comparando, mesmo sem ter certeza das perguntas a serem formuladas pelos adversários nos debates entre candidatos a cargos eletivos, os responsáveis pelo marketing e pela coordenação política dos candidatos simulam à exaustão no treinamento possíveis perguntas, réplicas e tréplicas.
Outra indagação que contribui para desmoralizar a matéria da Veja : como pode um depoente da CPI da Petrobras ter acesso às perguntas dos senadores da oposição ? Sim porque o fio condutor de toda a matéria é o conhecimento antecipado de todos os questionamentos que seriam feitos na sessão, para que todas as respostas fossem devidamente ensaiadas. Como diz o Paulo Nogueira, "pausa para risada".
Alguém tem dúvida que a CPI da Petrobras, bem como muitas outras recentes e passadas, são uma queda de braço, uma luta encarniçada entre governo e oposição? Será que a oposição também não se reúne para traçar táticas e estratégias para esses embates ?
Conta outra, Veja. Essa é de uma fraqueza de dar dó.
Bepe Damasco
Jornalista, editor do Blog do Bepe
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